Sou uma entre milhões de pessoas no mundo que sofre de insônia. São crises cíclicas. Às vezes, ela vem com tudo e me perturba por semanas. Depois, vai embora como se nunca tivesse existido. Assombração. Sei que muitas mulheres, não tão jovens e que já estão na menopausa, têm insônia por falta de hormônios. Como não faço reposição hormonal, talvez sofra mais do que as que seguem algum tipo de tratamento. Não vou entrar em detalhes sobre a causa da minha falta de sono, o fato é que ela existe há alguns anos. E preciso conviver com isso. Seja ela terminal - aquela que nos desperta lá pelas 4h30 da madrugada - seja a que nos ataca quando estamos nos preparando para dormir. A terminal, para mim, é a pior, nos tirando um pedaço precioso da noite. E, na manhã seguinte, precisamos acordar. A vida continua.
Tenho tanta inveja daquelas pessoas que pegam no sono facilmente, assim que vão pra cama. Daquelas que, nos vôos longos e noturnos, se aconchegam com suas mantinhas nos apertados bancos da classe econômica e, tão logo terminam o jantar, já estão sonhando, enquanto eu ainda estou decidindo se vou passar a noite vendo os filmes ou lendo um livro. Ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Quando termina a programação fico com aquela cara de "o que fazer agora?", frustrada, olhando as pessoas com a cabeça pendurada no encosto do banco, encolhidas ou espichadas, dormindo tão profundamente como se estivessem deitadas numa cama king size. Que sorte a delas! Eu fico andando pelos corredores do avião feito uma zumbi, olhando no relógio e contando as horas para o vôo chegar de uma vez, e torcendo para que aquela sensação de impotência me deixe de vez. A inveja mata.
Mas, ultimamente, não sofro tanto, ou pelo menos tento não ser atingida pela irritação quando estou em casa. Se acordar no meio da noite sentindo que a vigília será meio longa, já puxo o livrinho da cabeceira. Aliás, ler à noite é um dos prazeres que tenho, tudo é quieto, o telefone não toca, o computador está desligado, ninguém te perturba. A leitura flui.
Esta noite foi uma dessas insônias brabas. Acordei lá pelas 5h, esperei um pouco, vi que as cornetas dos anjos não iam voltar a tocar tão cedo, então, resolvi levantar. Raras vezes fiz isso. Levantar e fazer coisas. Aproveitar o tempo. Como já estava amanhecendo, me vesti, coloquei os tênis e saí para uma caminhada no calçadão da Beira Mar, aqui pertinho de casa. Achei aquilo tudo bem diferente. Primeiro, o silêncio da cidade. Os pássaros voando baixo, saindo dos ninhos. Muitos pássaros, por sinal. As ruas desertas (o povo aqui começa a trabalhar bem tarde...), o mar calmo e sereno. O sol saindo de trás do morro da Cruz e começando a iluminar a cidade. O dia ia ser lindo e sem vento, pensei. Algumas pessoas já estavam andando. Velhos com seus cachorros, senhoras, atletas maratonistas. O termômetro que mede os raios UV, e colocado num ponto do calçadão, indicava ZERO de radiação. Nem precisava ter colocado protetor solar. Eu não estava só, mas a sensação era de que a cidade me pertencia. Gostei da experiência. Cheguei em casa, tomei meu café, conversei um pouco com minha mãe, que já estava acordando, e voltei a dormir. Desta vez, profundamente, e sem hora para acordar.
Só para garantir, hoje comprei um floral novo, um tal de Bonus Somnus (Boa noite & bom sono). Acho que deve ser o quinto remédio que experimento para as crises de insônia. Sem contar a meditação, a yoga, a acupuntura, o Pilates. E por aí vai. Vamos ver se durmo bem esta noite para poder acordar disposta e ir à praia amanhã cedo. Boa noite...
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
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Um comentário:
Tb padeço desse mal, querida. E mantenho um bom livro ao alcance da mão, é o que me faz voltar a dormir. Um beijo!
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