domingo, 3 de agosto de 2008

2%

Acho que perdi alguma coisa, talvez a noção da realidade ou do país em que vivo.
Nestas terras descobertas por índios e por Cabral, mais de 30% da população vive abaixo da linha da pobreza (salário de até R$ 125 mensais), e, embora tenhamos melhorado muito nos parâmetros da educação, saúde e riqueza, ocupando a 70ª posição no tal IDH (índice de desenvolvimento humano, menos desconfortável do que há cinco anos), ainda temos um longo caminho a percorrer para nos considerarmos uma verdadeira nação, onde direitos dos cidadãos são respeitados, a violência e a barbárie deixem de ser uma manchete diária nos jornais e cada vez mais gente tenha direito ao trabalho, lazer, educação, saúde e dinheiro para viver com mais dignidade.
E é neste mesmo país que estamos constantando a existência de filas de milionários para a compra de jatinhos e barcos de milhões de reais, para só receberem a"mercadoria" em dois ou três anos (alguns modelos levariam até 10 anos para a entrega!), gente que aguarda há semanas numa fila de espera de uma bolsa Louis Vuitton (de R$ 3.500), Dior (de R$ 4 mil) ou vinhos Romanée-Conti, cujo valor da garrafa é o mesmo de um carro popular.
Mais. Um shopping inaugurado recentemente em São Paulo, na Marginal Pinheiros, também voltado para o consumidor com muita grana na mão, decidiu não fazer entrada para pedestres, justamente para restringir o acesso a quem não esteja de carro, ou sei lá que motivos levaram seus empreendedores a essa decisão. Tenho medo até de pensar. Eu já ouvi comentários de pessoas que chegaram caminhando (e não de carro) pela porta da frente da butique Daslú terem sido olhadas com desconfiança pelos seguranças.
Não tenho nada contra os ricos nem contra a riqueza, nao sou comunista e nem louca. Todo o mundo tem direito a ter o seu milhão. Só acho que alguma coisa está errada. A concentração de renda absurda em nosso país encastelou 2% de felizardos no cume da pirâmide social com todas regalias desejadas por um feliz mortal. Mas será que também está lhes dando poderes ao escárnio e a tirar o direito de ir e vir dos demais 98%?
Para uma nação cumprir seu papel verdadeiro não basta subir alguns pontos no índice IDH. É preciso saber não regredir.

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