Quem viaja pela Europa no verão já sabe que em agosto algumas cidades ficam um pouco às moscas por causa das férias. Alguns restaurantes e serviços (sapateiros, lavanderias) deixam de funcionar por semanas, lojas de bairros fecham e até feirantes não abrem suas bancas de frutas, verduras e peixes. As pessoas aproveitam o calor para viajar para o interior ou para a praia. Em agosto, no dia 15, os italianos também festejam um feriado bem famoso entre eles, o Ferragosto que celebra a Assunção da Virgem Maria, mas que na época do Império Romano era comemorardo durante todo o mês em honra ao primeiro imperador Augusto e à deusa mitológica Diana.
Se em agosto as cidades italianas já ficam meio vazias, imaginem num dia santo bem no meio do mês (dia 15). Aí mesmo que pouca coisa acontece, mesmo em Roma. E é nesse modorrento e cálido feriado prolongado que a rotina de um sujeito de meia-idade, solteiro, endividado, vivendo com a mãe idosa - mas ainda bem esperta - muda completamente no filme Almoço em Agosto. A direção é de Gianni de Gregório, o protagonista do mesmo nome. Ele é também um dos roteiristas do premiado Gomorra, sobre a máfia napolitana.
Almoço é uma delicada homenagem à velhice, que nos faz rir (no meu caso, muito) e refletir sobre a condição dos idosos, mas sem recorrer à pieguice ou à tristeza. Ele nos mostra o quanto nós, filhos, podemos ser infantis e até idiotas com o excesso de zêlo dedicado aos nossos pais (no caso, as mães viúvas) e, com isso, tornar a vida deles um inferno em meio a tantas regras, remédios e limites, ceifando seus desejos mais simples e a sua alegria de viver. Atire a primeira pedra quem não teve um momento de Gianni na vida.
O ponto alto do filme é a coleção de quatro velhinhas que Gianni chamou para contracenar, nenhuma delas com qualquer experiência na arte de atuar, mas sinceras e verdadeiras no seu papel de mães e tias de qualquer família, seja ela italiana, brasileira, romena, cristã ou judia.
Gianni deve ter se divertido muito ao lado daquelas senhoras com quem passou o feriado dentro do apartamento: uma delas faz a sua vaidosa e claudicante mãe, a outra é a ótima cozinheira de pastas; também vem para ficar a mãe de médico que a obriga a comer só verduras e a se entupir de remédios, quando ela gostaria mesmo era comer um bom salame, e, para completar o quarteto das vovós, a fogosa e inquieta Grazia, mãe do síndico do prédio, que só precisa dar uma escapadinha para ser feliz. O solteirão Gianni vira babá das quatro naquele quente feriado italiano. E elas não lhe dão sossego, porque são saudáveis, têm inquietações e desejo de viver.
A vida de Gianni certamente muda depois dessa lufada de vento que entra pela janela de sua varanda romana.
domingo, 9 de agosto de 2009
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4 comentários:
que interessante, barbara. realmente, eu nunca tinha pensado nesse aspecto do excesso de zelo. deve ser insuportável. rs
e ainda bem que não vou em agosto para a Itália. minha chegada lá em 1 de setembro foi proposital.
bjos,
Vc vai decididamente na melhor época para a Itália, ainda tá quente e o povo já voltou.
eu que nunca saio do meu lugar exílio, imagino como o mundo deve ser lindo
O mundo é lindo Ediney! abs
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