domingo, 13 de julho de 2008

Bye bye Floripa

Estou em processo de mudança. De Florianópolis para São Paulo. Retorno à metrópole, depois de quatro anos e meio morando numa ilha linda, ensolarada, de ar puro, céu azul, inverno ameno e pouco úmido para os padrões do lugar, sem violência, sem estresse, com distâncias curtas entre minha casa e o médico, o Pilates, o supermercado, o banco, o shopping, os amigos, o restaurante a quilo, os cinemas. Faço quase tudo a pé. Mas é uma cidade pequena demais para mim. Infelizmente, porque quando escolhi Floripa para morar, tinha este sonho de viver num lugar menor, com pouca gente na rua e onde todos se conhecem e se cumprimentam. Além disso, tinha
o mar, montanhas, ar limpo e era um lugar onde eu poderia sair sem medo e sem achar que havia um suspeito em cada esquina querendo me assaltar. Sempre sonhei com aquelas vilas do interior da França. Será que seria bom viver num lugar assim?
Eu estava meio estressada em São Paulo em 2003, com todas aquelas pessoas esbarrando em mim quando eu saía de meu prédio, carros para todos os lados, trânsito infernal, poluição, barulho, calor no inverno e chuva demais no verão. Só queria ver o mar e viver num lugar em que pudesse desfrutar melhor meus dias, depois de 30 anos dentro de redação de jornais. Bom, depois desses 4 anos e meio, vi que não era bem assim. A cidade tem tudo o que acalentei em sonhos. Mas não guarda o essencial: vida. As ruas são vazias demais. À noite, são desertas. Uma vez saindo do cinema perto de minha casa, num sábado, lá pelas 22h, eu devo ter contado umas três pessoas andando pela minha rua nas nove quadras do percurso até meu prédio. Foi aí que entendi o real significado da palavra solidão. Achava São Paulo um lugar para solitários, e é mesmo, mas pelo menos lá existe gente na rua. Aqui, elas estão aonde? Não estão, porque é um lugar com 400 mil habitantes na sua região metropolitana, mas o centro da ilha, onde eu moro, deve abrigar uns 150 mil apenas. O resto se espalha pelo continente e pelas praias, a 20, 30, 40 km daqui. Portanto, se todos têm seus carros, eles não caminham, dirigem. Uma vez, estava num lugar chamado Lynwood, pertinho de Seattle, na costa oeste dos Estados Unidos, e tive sensação parecida. Não via pessoas na rua, elas estavam dentro dos carros ou dos shoppings. Eu caminhei quadras e quadras para arrumar um táxi ou tomar um ônibus para ir até a cidade, e perguntava nos postos de gasolina, nos cafés que, porventura encontrava, onde poderia tomar uma condução, e todos me olhavam como se eu fosse um ET, porque eu não estava de carro! Sensação estranha.
Além do fato de exorcizar essa idéia de querer morar em lugares pequenos e com aparente qualidade de vida (a qualidade e a vida nem sempre estão juntas), a melhor coisa que me aconteceu em Floripa foi ter convivido com o meu afilhado Gabriel nos melhores anos da infância dele: dos 3 aos 8 anos. É um amor recíproco. Nos amamos profundamente. Eu, ele e a família dele sabemos disso. Estamos tristes com a separação física, mas minha ausência ele vai superar rapidamente porque está entrando numa idade interessante, a pré-adolescência, e isso, sabemos, provoca outros interesses. Certamente eu sentirei mais falta dele. Também fiz bons amigos por aqui. Poucos, mas de qualidade, quase todos forasteiros como eu. Bye bye Floripa, agora só venho te visitar, e vilas francesas, essas nem pensar! Eu não me mudo mais para cidades com menos de 3 milhões de habitantes!
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E agora estou entrando naquele pique de encaixotar coisas. Isso é a parte chata.
Confesso que sinto inveja das pessoas que não vêem empecilhos em sair para uma nova casa, uma cidade nova, ou para um outro país. Daquelas cujo empacotamento de coisas pessoais é prazeroso, embora cansativo. E daqueles cujas mudanças anuais ou de dois em dois anos viram uma rotina, e elas nem ligam ou perdem o sono pensando no que levar, deixar, doar ou inutilizar. Para mim, isso ainda é um processo penoso. O bom é que vou despojada de quase tudo. Só levando meus livros, discos, roupas e o computador. Mochila semelhante levei para São Paulo, aos 30 e poucos anos, quando saí de Porto Alegre.
Só que aos 30 existia uma grande expectativa com a cidade grande, um futuro. Agora, aos 50 e poucos, o que eu carrego é o passado e as lembranças.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pois é Babi. Não é fácil mudar. E te digo isso com a tranquilidade de quem já mudou de casa 20 vezes, sendo que quatro foram para paises diferentes.
Isso sem contar pequenas mudanças, como a da casa de praia ou a do sítio. Se contar essas então o número deve chegar perto 33.

Mas você tem razão. Cidade pequena é idílico, mas cansa. O melhor é morar em um bairro afastado perto de uma grande cidade e com transporte fácil. Para mim funcionou muito bem quando estava em Alphaville e aqui em Redmond está sendo ótimo.

Tem-se a tranquilidade de uma pequena vila, enquanto se escuta ao longe o burburinho da civilização.

Beijos

Anônimo disse...

e vai ser linda essa tua volta!!! sampa, eu e muitos amigos te esperamos de braços abertos!!! beijos mil e até já! Erika Riedel

Barbara disse...

Valeu amigos!!