segunda-feira, 29 de junho de 2009

Jackson, fatos & férias


Se eu tivesse entrado na internet ou ficasse na frente de uma tevê naquela tarde quente e ensolada de quinta-feira, dia 26 de junho, eu teria sabido da morte de Michael Jackson pouco tempo depois de ela ter ocorrido em sua casa na Califórnia. Como estava em curtas férias, achei melhor percorrer o Bósforo de barco, visitar o palácio Topkapi, tirar algumas fotos, e tentar encontrar o endereço de uma casa de banhos turcos de Istambul. Até tentei ver jornais turcos, mas quem entende aquela língua? Aprendi algumas palavras e descobri que o % eles colocam na frente e não depois dos números. O fato é que fui surpreendida com a informação da morte de Jackson só 24 horas depois, uma eternidade nos dias de hoje. E foi também por acaso, pois, já em Paris, entrei numa banca só para comprar o Cinemascope (guia das sessões de cinema) e dar uma olhada nas manchetes. Os jornais gritavam para mim! Estava tão cansada da viagem e tão furiosa com os taxistas parisienses (eles me obrigaram a arrastar minha mala até o hotel por considerarem que 3 km era uma distância pequena demais para eles me levarem) que mal pude entender se aquilo que estava lendo nas primeiras páginas era verdade ou fruto de uma mente exausta e incapaz de distinguir o fato da imaginação. Duas linhas no alto da página e uma foto do "rei do pop" no Le Figaro foram suficientes para eu avaliar o peso da notícia que havia ignorado por 24 longas horas. Comprei vários jornais e, como uma espécie de punição, li todas as matérias até tarde já no quarto do hotel.
Enquanto escrevo este post, lembro de alguns fatos importantes que, por alguma razão, escolheram minhas férias para acontecer. Às vezes, eles estão tão próximos que nem posso ignorá-los. Foi o caso da queda do ditador da Hungria, em 1988, Janos Kadar, já nos estertores da era soviético-comunista. Como eu não conseguia teclar em máquinas de escrever húngaras a fim de mandar um relato ao jornal sobre a comoção popular em Budapeste, tive de seguir para Londres, escrever a matéria e enviar para o JB por...telex! Eram tempos jurássicos e sem internet.
Antes, em outubro de 1982, estava na Espanha quando o partido social-democrata de Felipe Gonzalez (o PSOE) venceu as primeiras e históricas eleições livres, iniciando a democratização do país após um longo período franquista. Participei da festa nas ruas de Madri e, com prazer, interrompi meu descanso para redigir um um texto em colaboração com o correspondente local, já que por sorte estava hospedada na casa de espanhóis, um deles fotógrafo da agência Efe, que me municiaram de informações preciosas sobre o que acontecia na Espanha naquele momento. Ainda em outubro daquele ano, o papa João Paulo II esteve no país para uma de suas incontáveis peregrinações pelo mundo, e eu continuava lá. Desta vez, o jornal tinha um aparato grande na cobertura e eu fui deixada em paz.
Em 1995, estava em Nova York com amigos, quando um judeu ortodoxo matou o premier israelense Yitzhak Rabin. Em dezembro de 2007, durante as festas de fim de ano, me refestelava numa praia uruguaia ao mesmo tempo em que a ex-primeira ministra paquistanesa Benazir Bhutto era assassinada perto de Islamabad. Agora, o pobre Michael Jackson. São apenas coincidências, e sei que não importa a mais ninguém a não ser para mim mesma conservar essas lembranças de férias conectadas a algum fato importante. Será que o fantasma do Forrest Gump me persegue?

domingo, 14 de junho de 2009

Sobras

Urina e álcool tomam conta da Paulista e ruas adjancentes horas depois da realização da Parada do Orgulho Gay. Será que a prefeitura não podia dar um banho na área central da cidade ? Uma festa desse tamanho não pode ficar só com esse rescaldo.
A propósito, achei a parada meio caída neste ano. Cheguei às 2h da tarde na Augusta para almoçar com amigos. Às 3h30 saímos do restaurante e os carros de som já tinham passado. O que deu pra ver foi uma multidão desordenada andando pela Paulista em direção à Consolação, assim meio meio sem rumo, meio sem roupa, quase desmontada, em busca de algo no local da dispersão, perdendo boás e outros apetrechos menos nobres pelo chão. (Guzik achou mais coisas que eu pelo caminho). Ficou uma sensação de que perdemos uma parada com 3 milhões de pessoas enquanto comíamos um tutu à mineira... foi rápido.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pai nosso

Será que alguém conhece a missa da igreja São Luiz, ali na Paulista? Todos os domingos, ou quase todos, passo ali na frente e ouço uma música tocando lá fora, transmitida pelas caixas amplificadoras. Num domingo desses fiquei curiosa e entrei. Era a missa das 19h. Fiquei pasma. Mudou tudo! Está tudo interativo, como se fosse um Orkut religioso, onde as pessoas criam uma comunidade, interagem, se beijam e se dão as mãos na hora do Pai Nosso, cantam as músicas (de onde elas surgiram?), acompanhando as letras no telão (sim, tem um telão com letras garrafais para que também os ruins de vista como eu possa ler as canções sem precisar recorrer aos óculos). A banda, no altar, não pode ser mais desafinada. Tem uma cena (oops) em que as pessoas CANTAM um Pai Nosso de mãos dadas. A letra é diferente da reza falada, eu não consegui acompanhar, perdi o fio da meada. Ainda bem que, depois, a oração é entoada do jeito tradicional... eu precisava de algum ponto de identificação com as antigas missas que costumava frequentar quando era bem jovem. Mas o fato de termos de rezar de mãos dadas com gente que nunca vimos na vida, e depois nos aproximarmos das pessoas que estão do lado, atrás e na nossa frente para lhes desejar paz ou um namastê qualquer, torna tudo muito íntimo, sem que eu queira realmente participar dessa intimidade da comunidade religiosa dos Jardins.
Enfim, consegui acompanhar a missa até o final por aquele jornalzinho que eles dão no início, e que serviu para eu ter um mínimo de noção sobre o que estava ocorrendo ao longo da celebração.
Cantar eu até cantei, rezar eu rezei, dei as mãos, interagi ao máximo com quem estava ao meu lado (pena que não era um bonitão). Mas deixei de fazer duas coisas: não dei dinheiro para a riquíssima igreja católica e nem comunguei. Acho que o simples ato de entrar numa igreja, participar de uma missa e cantar um Pai Nosso com as mãos erguidas não me redimiu de todos os meus pecados.