sábado, 22 de dezembro de 2007

Réveillon



Preparar malas é muito bom. Cada peça de roupa, cada par de sapato, cada potinho de creme, tudo é colocado ali dentro com carinho, arrumadinhos, na doce esperança de eles façam parte de uma viagem prazerosa, plena de emoções e grandes surpresas, como estivéssemos indo para um tour dos sonhos, com cenários paradisíacos, só gente simpática nos atendendo nos aeroportos, hotéis, restaurantes, nos servindo champanhe, caviar (eu adoro!), frutas tropicais. Por isso, a preparação e a expectativa em torno de uma viagem muitas vezes superam, de longe, a sua realização.
No ano passado viajei para Nova York com um grupo de amigos (Sérgio, Regina e Bia). Estava atrás das tais emoções. Esperava que a festa de Réveillon por lá fosse, no mínimo, excitante, apesar de algumas pessoas nos terem avisado sobre o grau de empolgação dos norte-americanos para esse tipo de festa ser perto de zero. Eles tinham razão. A tal maçã caiu de um prédio da Times Square e a multidão, que esperou por horas a fio para ver essa big apple cair, se dispersou em menos de 15 minutos. Tanto barulho por nada. Foi tudo tão rápido que a gente nem chegou a tempo da comemoração, já que estávamos a algumas paradas do metrô dali, voltando de um jantar numa das poucas cantinas abertas em Little Italy. Vimos a maçã caindo pela tela de uma tevê da vitrine de uma loja, embora estivéssemos a poucos metros de Times Square. "That´s it?"Não valia a pena ir até lá. Ao chegarmos ao hotel, depois de muita explicação aos guardinhas que faziam as barreiras, a gente se divertiu mesmo foi assistindo a tal "animação" pela tevê, em cima da cama. Na tela, um patético locutor/apresentador tentava, sem êxito, "animar" os poucos gatos pingados que agüentavam naquele frio, esperando pelo show de uma banda desconhecida. Essa foi a parte mais divertida do nosso Réveillon.
Na realidade, a gente sabe que nem sempre tudo sai como o sonhado. Mesmo sabendo disso, eu sempre gosto de viajar. Meu signo Sagitário, costuma-se dizer, é o da "malinha na mão".
Por isso, não importa se avião vai atrasar de novo; se no vôo te servem comida com gosto de plástico ou, no máximo, uma barra de cereal; se a cama do hotel é mole; se o concièrge tem cara de poucos amigos; se o restaurante te cobra mais pela gorjeta, e se o Réveillon simplesmente não existir. O que importa é que estou preparando as malas e, com elas, lá vou eu contente, no meu elemento, preparada para o desafio oculto e... , desta vez, para uma cidade pequena e pacata e sem nenhuma tradição de festejos no Réveillon, Montevidéo. Algo me diz que algo BEM LEGAL vai acontecer por lá.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Mais do que um minuto.



"A vida é um sopro, um minuto. A gente vem, conta uma história e vai embora". De Oscar Niemeyer. Dita assim, simplesmente, como quem rabisca um de seus geniais projetos. A vida, para ele, tem sido mais do que um sopro e levado mais do que um minuto. E a história, ele continua nos contando. Ainda bem que Niemeyer só tem 100 anos.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Sonhando acordada

Sou uma entre milhões de pessoas no mundo que sofre de insônia. São crises cíclicas. Às vezes, ela vem com tudo e me perturba por semanas. Depois, vai embora como se nunca tivesse existido. Assombração. Sei que muitas mulheres, não tão jovens e que já estão na menopausa, têm insônia por falta de hormônios. Como não faço reposição hormonal, talvez sofra mais do que as que seguem algum tipo de tratamento. Não vou entrar em detalhes sobre a causa da minha falta de sono, o fato é que ela existe há alguns anos. E preciso conviver com isso. Seja ela terminal - aquela que nos desperta lá pelas 4h30 da madrugada - seja a que nos ataca quando estamos nos preparando para dormir. A terminal, para mim, é a pior, nos tirando um pedaço precioso da noite. E, na manhã seguinte, precisamos acordar. A vida continua.
Tenho tanta inveja daquelas pessoas que pegam no sono facilmente, assim que vão pra cama. Daquelas que, nos vôos longos e noturnos, se aconchegam com suas mantinhas nos apertados bancos da classe econômica e, tão logo terminam o jantar, já estão sonhando, enquanto eu ainda estou decidindo se vou passar a noite vendo os filmes ou lendo um livro. Ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Quando termina a programação fico com aquela cara de "o que fazer agora?", frustrada, olhando as pessoas com a cabeça pendurada no encosto do banco, encolhidas ou espichadas, dormindo tão profundamente como se estivessem deitadas numa cama king size. Que sorte a delas! Eu fico andando pelos corredores do avião feito uma zumbi, olhando no relógio e contando as horas para o vôo chegar de uma vez, e torcendo para que aquela sensação de impotência me deixe de vez. A inveja mata.
Mas, ultimamente, não sofro tanto, ou pelo menos tento não ser atingida pela irritação quando estou em casa. Se acordar no meio da noite sentindo que a vigília será meio longa, já puxo o livrinho da cabeceira. Aliás, ler à noite é um dos prazeres que tenho, tudo é quieto, o telefone não toca, o computador está desligado, ninguém te perturba. A leitura flui.
Esta noite foi uma dessas insônias brabas. Acordei lá pelas 5h, esperei um pouco, vi que as cornetas dos anjos não iam voltar a tocar tão cedo, então, resolvi levantar. Raras vezes fiz isso. Levantar e fazer coisas. Aproveitar o tempo. Como já estava amanhecendo, me vesti, coloquei os tênis e saí para uma caminhada no calçadão da Beira Mar, aqui pertinho de casa. Achei aquilo tudo bem diferente. Primeiro, o silêncio da cidade. Os pássaros voando baixo, saindo dos ninhos. Muitos pássaros, por sinal. As ruas desertas (o povo aqui começa a trabalhar bem tarde...), o mar calmo e sereno. O sol saindo de trás do morro da Cruz e começando a iluminar a cidade. O dia ia ser lindo e sem vento, pensei. Algumas pessoas já estavam andando. Velhos com seus cachorros, senhoras, atletas maratonistas. O termômetro que mede os raios UV, e colocado num ponto do calçadão, indicava ZERO de radiação. Nem precisava ter colocado protetor solar. Eu não estava só, mas a sensação era de que a cidade me pertencia. Gostei da experiência. Cheguei em casa, tomei meu café, conversei um pouco com minha mãe, que já estava acordando, e voltei a dormir. Desta vez, profundamente, e sem hora para acordar.

Só para garantir, hoje comprei um floral novo, um tal de Bonus Somnus (Boa noite & bom sono). Acho que deve ser o quinto remédio que experimento para as crises de insônia. Sem contar a meditação, a yoga, a acupuntura, o Pilates. E por aí vai. Vamos ver se durmo bem esta noite para poder acordar disposta e ir à praia amanhã cedo. Boa noite...

sábado, 24 de novembro de 2007

Fundo do poço

Os brasileiros convivem, há alguns dias, com um grande incômodo e uma dúvida. Por que num Estado como o Pará, onde a governadora, a secretária de segurança, a delegada da cidade de Abaetetuba (a 130 km de Belém) e a juíza são todas mulheres, provavelmente mães, tias, avós ou madrinhas de alguma criança, permitiram que toda essa selvageria acontecesse com a menina L., de 15 anos, encarcerada com vários homens numa cela de cadeia?? O mais cruel é que muita gente sabia dos horrores cometidos contra a garota (estupro, pancadas, humilhação), e não fizeram nada. A denúncia foi anônima! Medo. Covardia. Ignorância. Francamente, dona Ana Júlia do PT! Não saber o que acontece numa cidadezinha do interior do seu Estado dá até para entender, mas não dispor de nenhuma cela específica para mulheres? Até quando vamos precisar testemunhar barbaridades como esta no País?
Como diz uma amiga minha, militante do movimento feminino e integrante do Conselho Tutelar: o Brasil ainda não trata as mulheres como deveria, e vários tipos de violência cometidos contra elas não são considerados crimes por aqui.

Será que vamos chegar ao ponto de condenar uma mulher por ter sido estuprada, como acontece nos países islâmicos? Recentemente, na Arábia Saudita, uma corte de apelação condenou uma moça a 200 chibatadas e a seis meses de prisão depois de ela ter sido estuprada 14 vezes por um grupo de homens. Seu castigo foi imposto por ela ter infringido as leis de segregação por sexo daquele país. A moça, de 19 anos, decidiu dar um passeio com um homem em um carro (provavelmente um amigo), o que é proibido. Depois, foi atacada por uma gangue. Como apelou à Justiça contra a covardia de seus atacantes, sua pena não foi só revista como dobrada (a pena inicial eram 90 chibatadas). Tem gente achando que ela teve sorte...

Dia de fúria

Blog esquecido...blog não lido.
Na verdade, estava com pouco tempo, pra variar, e, além disso, meu Firefox (atualizado), Java (atualizada) e o firewall começaram uma conspiração daquelas, me impedindo de acessar vários endereços, inclusive o meu blog, é mole?? Sem contar que alteraram as configurações no desktop SEM EU PEDIR. Como não tive tempo de me empenhar nesse "desfaz-faz-desfaz-faz" insano que essas máquinas e softwares nos impõem, fui deixando prá lá o menos essencial, este espaço desprentensioso...Hoje é sábado, tive um pouco mais de paciência, e tudo começou a funcionar direito.
Para quem não sabe, eu escrevo sobre tecnologia há algum tempo, mas devo admitir que não suporto essas surpresas maquiavélicas e insidiosas pegadinhas do mundo techno. Além de tudo, morro de preguiça. Acho que é porque trabalho, escrevo e dedico pelo menos sete horas do meu dia com esse ambiente high-tech, e preciso que essas máquinas me obedeçam, pelo menos na maior parte do tempo, senão tudo se vira contra mim.

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Bom, o Natal nem chegou e já estou exausta! Fui obrigada a ir às compras hoje para não ser atropelada em algum shopping da vida mais tarde, já que a partir de agora será um Deus nos acuda! Também preciso confessar que ODEIO essa época do ano. A gente precisa se armar de muita coragem para enfrentar os próximos dias. Colocar aquele sorriso amarelo no rosto, preparar o cartão de crédito para o choque do final do mês, fazer uma listinha de compras e incluir a manicure que, por vezes, faz seu dedo sangrar; o porteiro mal encarado que nunca te socorre quando você chega carregada de compras do supermercado; e aquela cunhada que maltrata o seu irmão, e você mal vê durante o ano, mas que, na hora da ceia, lá estará ela, à espera de que você se lembre de sua existência. Eu sempre juro prá mim mesma: "este ano será diferente, não vou dar nada para ninguém". Mas sou meio masoquista. Só pode ser.
Ah, e nem me falem daquelas resoluções de ano-novo! Aquilo eu já deletei faz tempo. Não cumpro mesmo, então, esquece...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Feriadão para os outros

Graças a Deus é feriadão! Melhor ainda porque será uma semana quase de recesso no Rio e em São Paulo, por conta do dia da Consciência Negra. E dá-lhe ponte! Não, não vou folgar nesses dias todos, ir pra praia ou ficar vagabundeando por aí, como muita gente. Na verdade, estou contente porque, sendo feriadão, minha caixa postal terá menos spams e menos releases de trocentas assessorias de imprensa, não haverá gente me ligando para entrevistas e nem o jornal pressionando por prazos. Vou poder trabalhar em paz! Tenho tantos frilas para escrever que este feriadão dos outros vem em boa hora para mim.
p.s. - Ironia morar num cidade com praia e não ter tempo para ver o mar...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Lanterninha de cinema


Alguns amigos me pediram para falar dos filmes que mais gostei da 30ª Mostra de São Paulo. Consegui ver 23, no período de 10 dias. Tinha ingressos para 25, mas um eu perdi (Delirious, de Ton DiCillo) porque meu avião atrasou 3 horas para chegar a São Paulo, na quinta, dia 25; e o outro, Desejo e Reparação, de J. Wright, não tive oportunidade de ver porque estava no Lust, Caution, do Ang Lee, e não me dei conta de que o longa tinha 2 horas e 40 minutos. Foi o vencedor do Leão de Ouro do festival de Veneza deste ano. O diretor, para quem não lembra, é o mesmo taiwanês que abocanhou, no ano passado, o prêmio máximo de Veneza, 3 Oscar e vários outros prêmios mundo afora pelo belo e sensível Brokeback Mountain, sobre os dois cowboys gays.
Lust, Caution é cinemão, com uma estética noir, sobre a invasão japonesa na China durante a II Guerra Mundial, opondo a resistência chinesa aos colaboracionistas que trabalhavam para o Japão, na surdina.
Cinema é meu elemento. Adoro. Assim como viagens (ao exterior), teatro e livros. Para mim, filme bom é não só aquele que te emociona (às vezes, a pieguice gruda e não vale), te leva a pensar, mas também o que te surpreende. E no item surpresa (e das boas), eu destaquei três títulos: O primeiro é A Vida dos Outros, dirigido e escrito pelo alemão bonitão e com nome de nobre, Florian Henckel von Donnersmarck, um cara poliglota e criado entre Nova York, Frankfurt e Berlim Oriental. Levou o Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano, acho que merecidamente. O roteiro é um achado! Um agente da polícia secreta da Alemanha Oriental é designado para vigiar um dramaturgo, que apesar de alinhado com o comunismo (ainda vigente na época), tinha um motivo especial para ser perseguido. O filme dá uma guinada surpreendente.
O segundo da listinha "roteiros surpreendentes" é Antes que o Diabo Saiba Que Você Está Morto, do diretor da velha escola, Sidney Lumet. Uma tragicomédia (meio Shakespeare, meio Woody Allen), cujos acontecimentos vão atropelando os personagens: dois irmãos (os ótimos Philip Seymour Hoffman e Ethan Hawke) tentam um golpe sem maiores conseqüências, mas a coisa desanda de tal forma que tudo vai piorando....
O terceiro é Um Jogo de Vida ou Morte (Sleught), de Kennet Brannagh, remake (o primeiro filme é de 72) adaptado de um texto de Harold Pinter, portanto, naturalmente teatral e com apenas dois atores. Michael Caine e Jude Law estabelecem um duelo de vida e morte em seus diálogos afiadíssimos. Tudo vira um blefe e você não sabe mais quem está falando a verdade.

Mas, nem tudo é uma questão só de roteiros surpreendentes. Há filmes que mexem com os nossos sentimentos, nos emocionam, contam uma boa história e a própria História. É o caso de alguns filmes abordando os massacres impostos pelos turcos aos armênios durante a I Guerra. Casa das Cotovias, dos irmãos Taviani, é um deles. O duro foi ver os armênios e os turcos falando em italiano.
Dol é outro relato sobre a perseguição aos curdos na fronteira com o Iraque (produção do Curdistão, França e Alemanha) e contada sob o ponto de vista de um homem (curdo) que só queria mesmo era se casar com uma boa moça, naquele fim de mundo, e tentar ser feliz. Mas nada deu muito certo para ele.
Também gostei da animação francesa Persépolis, de iraniana Marjane Satrapi, nos relatando, com um certo humor e ironia, como era viver no Irã da época do Xá (na infância da diretora, nos anos 70) e o que aconteceu com o país e às pessoas depois da revolução islâmica.
Outras verdades inconvenientes também são reveladas no escurinho do cinema. Algumas sobre a China, onde apesar do crescimento econômico, da pujança imobiliária e da concentração de renda nos grandes centros, a gente percebe que tudo continua mais ou menos igual para aquela gente do campo. As mulheres continuam sendo classificadas como pessoas de segunda categoria (não é só lá, eu sei). Pudemos ver isso em Blind Mountain, um belo filme de Li Yang, sobre a venda de mulheres como escravas sexuais. O curioso é que o diretor nos mostra a "velha camaradagem" do comunismo chinês dando lugar (mesmo no campo) ao suborno, aos expertos, ao jeitinho, à graninha por fora para pagar até uma internação em hospital público. Mao deve estar dando pulos na tumba.
Um título significativo da nova geração de cineastas chineses, e sem vergonha de mostrar suas mazelas, é Luxury Car, de Chao Wang. Aqui, uma menina do interior vira garota de programa de uma casa noturna em Xangai, mas omite isso da família, só que um dia o pai vai visitá-la e tudo vem à tona. Eu sei, parece resumo do guia da Folha, mas não é, juro.
As mazelas da guerra do Iraque são narradas corajosamente por Brian de Palma, em Redacted. O diretor optou por um formato documental (com atores desconhecidos) utilizando os depoimentos - em vídeo, câmeras digitais, blogs, internet - de um esquadrão do exército norte-americano sobre o inferno do Iraque de hoje. Palma fez um filme polêmico, para os padrões hollywoodianos, pois mostra as crueldades promovidas pelos soldados americanos aos civis iraquianos, homens, mulheres e até crianças. Vendo aquilo lembrei de Tropa de Elite, porque sabia que tudo era verdade. Isso é o mais chocante no filme. A platéia não segurou o choro no final, quando as fotos reais da guerra são mostradas, com massacres de inocentes feitos tanto por soldados como por terroristas islâmicos sunitas e xiitas. O mundo tem sido muito cruel naquelas bandas.

Um dos filmes mais bonitos (na minha opinião), e escolhido pelo júri como o melhor da Mostra, foi Banheiro do Papa, do Cesar Charlone e Enrique Férnandez, uma produção do Brasil, Uruguai e França. Aborda a vida dos pequenos muambeiros de uma cidadezinha uruguaia chamada Melo, na fronteira com Aceguá, do lado brasileiro. Todos os dias eles vão e voltam com suas bicicletas, trazendo comida, bebida, bugigangas, de cá para lá. E assim vivem, são pobres, muito pobres (não têm sequer um rádio funcionando direito), mas, de certa forma, acomodados e felizes naquelas vidinhas, acalentando seus sonhos, sua camaradagem entre vizinhos. Até que é anunciada a visita do Papa à pequena cidade. A partir daí, as coisas mudam. A população se mobiliza para tirar proveito desse grande evento, pois sabe que jamais acontecerá algo do tipo naquele lugar. A construção de um banheiro público para atender às necessidades dos milhares de visitantes é só uma das idéias. O filme tem graça, humor e emociona, sem ser piegas.

P.S. - esqueci de falar de Atrizes, uma produção francesa de Valeria Bruni Tedeschi (a personagem principal do filme), sobre uma companhia de teatro e um atriz à beira de um ataque de nervos. Muito bom.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Pausa

Minha amiga Sonia Guimarães, blogueira de primeira hora, aliás com um blog lindo que indico aqui do lado desta página, me deu um conselho que nunca esqueço, mas que poucas vezes consigo seguir. Quando soube do meu diário online ela me avisou que o importante nesse tipo de postagem é a assiduidade. "Babi, você precisa atualizar o blog pelo menos uma ou duas vezes por semana, senão as pessoas desistem de ler e acabam te esquecendo."
Pois, querida amiga e caros inimagináveis leitores (será que ainda os tenho?), acho, então, que caí no ostracismo e no mais puro esquecimento. Não consigo dispor desse fôlego necessário para atualizar este espaço como a devida assiduidade requerida pelos parâmetros da blogosfera. Tenho tanta coisa a dizer, fui numa Mostra de Cinema onde pude assistir a 22 filmes num espaço de 10 dias, vi filmes bons, alguns ótimos, e outros horrorosos o suficiente para a gente sair correndo do cinema e não querer entrar nunca mais dentro dele. Credo! Preciso escrever sobre isso. E vou fazê-lo, até para mantê-los vivos dentro de mim. Mas hoje não dá. Estou na correria do dia-a-dia de frilas, e ao final do dia fico muito cansada, querendo desligar essa máquina infernal!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Mostra

Peço desculpas aos meus dois leitores por estar ausente deste blog por mais de uma semana. Mas é por uma boa causa. Estou no meio da maratona (mais uma) da Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, entrando e saindo de cinemas, sem tempo nem pra comer. Só acesso a internet eventualmente (por sorte, nao trouxe meu laptop, senão já viram, né?) , num cybercafé da esquina ou na casa de amigos. Prometo que na próxima semana voltarei! Não sei se isso é bom ou ruim...em todo o caso, estou me divertindo muito e conhecendo realidades de vários países graças à magia do cinema. Viva o Leon Cakoff e viva minha vida de free-lancer!
Até mais.

domingo, 21 de outubro de 2007

Budismo




Estou chegando de uma cerimônia sobre o budismo tibetano. Nos reunimos, cerca de 50 pessoas, no templo Chagdud Rigdjed Ling, um centro localizado numa área verde na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, repleta de bambuzais, quaresmeiras, cerejeiras, primaveras, ipês, cantos de pássaros e até pequenos sagüis. A cerimônia de iniciação era para poucos privilegiados e eu, por sorte, fui convidada por uma amiga. Recebemos os ensinamentos e as bençãos da monja Chagdud Khadro, uma lama inglesa que dirige o centro Chagdud Gonpa Brasil, de Três Coroas, no Rio Grande do Sul. Foram quatro horas absorvendo aquela voz suave da lama nos falando de dois budas: Amitabha, uma das figuras masculinas mais veneradas no budismo tibetano da China, Japão e Coréia, e a deusa Tara, a representação feminina de todos os budas, e a corporificação da sabedoria, do amor e da compaixão.
São coisas que aprendi hoje, mas tenho consciência de que preciso continuar estudando se quiser entender e aceitar essa iniciação dentro de mim. Foi uma experiência nova e intensa. Mas, confesso, fiquei cansada e me perguntando: Como podemos nos concentrar no amor, na sabedoria, na vacuidade (!), na impermanência do ser se, depois de algum tempo sentados em cima de uma almofadinha, as pernas, cruzadas em lótus, começaram a brigar com a mente para que não formigassem de cinco em cinco minutos? Como poderia pensar na iluminação interior e no nirvana, se as costas teimavam em doer desde o pescoço até a lombar, e as nádegas a pegar fogo naquele montinho duro e desconfortável? Como manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo (como dizia Gilberto Gil), e ainda pensar no prazer, se eu estava sem comer há mais de quatro horas?
Sim, o budismo, seus rituais, cerimômias e ensinamentos são essenciais para acalmarmos a mente e encontrarmos o eu interior. Mas acho que meu corpo não agüenta tanta provação até encontrar a iluminação e a sabedoria.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Istambul

Desde que li Istambul, do escritor turco Orhan Pamuk, Nobel de literatura em 2006, comecei a ter grande curiosidade pela cidade e pelo que acontece na Turquia. É estranho dizer isso porque, até o ano passado, eu nem cogitava em conhecer esse país. Sempre associei a Turquia a um regime militar repressor, com pouco respeito aos direitos humanos, sem falar na perseguição às minorias curdas, aos gregos ortodoxos, o massacre dos armênios. Idiomas estranhos ao turco foram banidos e reprimidos por muitos anos. Até hoje, os curdos, um contingente de mais de 15 milhões de habitantes na Turquia, evitam falar sua língua-mãe em alto e bom som dentro do território turco. Ou seja, nem sempre o islã e os mulás são culpados pelas coisas ruins que acontecem no mundo, já que o país é um Estado laico, livre das ingerências do islamismo radical, desde a criação da república pelo líder militar Mustafá Atatürk, no começo do século passado. Mas não é sobre a situação política da Turquia que quero falar aqui. Isso deixo para os jornais e livros de história.
Quero falar sobre livros e o fascínio que exercem sobre a gente. As memórias de Pamuk são uma verdadeira declaração de amor à cidade, com lembranças desde as mais remotas de sua infância, nos anos 50, com relatos saborosos sobre a movimentação da casa em que viveu quando era criança e da vizinhança no bairro onde morava. Suas visitas fugidias às ruelas estreitas e escuras da cidade e às casas armênias, gregas, otomanas, muitas em ruínas, são impregnadas de um olhar curioso e melancólico. O Bósforo é o personagem principal dessas memórias, com seus navios prenhes se insinuando no estreito, rumo ao oeste da Europa ou ao leste oriental. Uma cidade dividida entre a Ásia e a Europa. Identidade partida, tentando ser européia, mas, ao mesmo tempo, presa às origens do Oriente.
Em quase 400 páginas, Pamuk desvenda aos seus leitores a principal essência da cultura, da poesia, da literatura, da música e da vida dos istambulis: a hüzüm, palavra turca (de raiz árabe) para designar melancolia. Esse sentimento parece ser uma exclusividade de Istambul, segundo os relatos de Pamuk, que dedica um capítulo inteiro para descrever como a cidade reflete essa melancolia:
"Das velhas barcas de passageiros do Bósforo amarradas em estações desertas no meio do inverno, com marinheiros sonolentos esfregando o convés, balde na mão e um olho na tevê preto-e-branco à distância; dos barbeiros que se queixam de que os homens se barbeiam menos depois de uma crise econômica; das casas de barco vazias à margem do Bósforo; das casas de chá repletas de homens desempregados; das construções de madeira cujas tábuas rangiam, mesmo quando eram casas de paxás e rangem mais agora que se transformaram em repartições municipais; das muralhas da cidade em ruínas desde o fim do Império Bizantino; das finas fitas de fumaça que se erguem das chaminés das mansões centenárias no dia mais frio do ano; dos Chevrolet dos anos 50 que seriam peças de museu em qualquer cidade ocidental, mas aqui servem de táxi-lotação...." Irresistível, não?
Depois de ter lido Istambul e, na seqüência, Neve, do mesmo autor, e ter visto o documentário Atravessando a Ponte - O Som de Istambul, outro mergulho na cidade, com um olhar musical do diretor turco-alemão Fatih Akim, já decidi o destino de minha próxima viagem.

sábado, 13 de outubro de 2007

Paulo Autran

Apesar do burburinho e agitação que se apoderaram da Praça Roosevelt neste feriado, com as Satyrianas, o vazio e o silêncio se instalaram nos palcos brasileiros. Paulo Autran se foi. Com ele o l´esprit, a ironia, o humor sarcástico, o talento, o drama, a comédia, a tragédia. Tomara que o teatro volte a ser o mesmo, um dia.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Paris, sempre Hilton

Essa é a entrevista que Paris Hilton deu a David Letterman no finalzinho de setembro. O entrevistador desmonta a patricinha com as perguntas (im)pertinentes sobre a sua recente prisão por ter dirigido embriagada. O vídeo é hilário e achei que valia a pena postar aqui. Ele pergunta sobre a comida, quantas refeições ela fazia por dia, como se mantinha em forma, por que, afinal, foi presa (coisa que nem ela sabe direito), e como a amiga dela ficou detida somente por 45 minutios. Até que ela se enche de responder sobre a prisão e diz que só quer divulgar seu filminho, um perfuminho e umas roupinhas. Hilário. Vale dar uma olhada.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Déjà vu

Estou tão cansada, mas tão cansada, que não tenho nem forças nem cabeça para colocar nada de útil neste blog hoje, embora eu saiba que ando muito, mas muito relaxada com meus dois leitores cativos. Desculpem-me amigos, mas agora são quase 9h da noite de uma sexta-feira. Estou encerrando uma maratona de três dias enfurnada dentro de um centro de convenções, assistindo a trocentas palestras e painéis, participando de outras duzentas coletivas de imprensa com CEOs de empresas de telecom e visitando outro tanto de estandes que exibiam suas novidades desse "admirável mundo novo" (desculpem a redundância) da tecnologia. Meu Deus! Notionless.
Já deveria estar acostumada com tudo isso, afinal participo de eventos como esse há tanto tempo (mais de 15 anos, pelas minhas contas), mas a cada ano eles me deixam mais exausta, tanto física como mentalmente. Não só porque estou ficando mais velha, ou porque perdi um pouco de minha saúde nos últimos tempos, mas também porque tudo me parece tão igual, tudo tão do mesmo. Embora os produtos, exibidos como diamantes nos estandes, sejam ultra mega high tech e absolutamente inéditos para todos (e para mim), eu tinha uma sensação de déjà vu a cada caminhada que dava por aqueles corredores, quase me arrastando.
Depois, tive de passar dois dias enfiada no escritório escrevendo sobre todo esse déjà vu!
Ou seja, estou exausta e sem condições de escrever qualquer coisa inspirada, agradável ou criativa para vocês (meus dois leitores). Mas eu volto. E com outro humor. Prometo.

domingo, 30 de setembro de 2007

A vida é efêmera





Les Éphémères, da companhia Theatre du Soleil, dirigido por Ariane Mnouchkine,
da França encerrou hoje o Porto Alegre Em Cena. Fui ver o espetáculo no sábado à tarde.
Na chegada, um galpão imenso e abandonado, localizado em uma das regiões mais perigosas de Porto Alegre (zona norte, parque Humaitá). Resolvi ir até lá de táxi, porque não confiei chegar sozinha de ônibus, apesar do horário, 14h de um dia ensolarado e fresco. Nem o taxista estava muito contente de me levar lá, tal a barra pesada. Mas, tudo pela arte. Era estranho ver toda aquela movimentação por ali, e tipos humanos tão diferentes desembarcando no número 324 da rua Frederico Mentz, toda esburacada, com suas casinhas humildes, e provocando a curiosidade dos moradores do parque Humaitá (por que será que todos as vilas pobres das cidades brasileiras têm nomes tão bonitos? Como se isso aliviasse a dureza de se viver nesses lugares).
Lá fora, uma hora e meia antes do espetáculo, uma enorme fila dos sem-ingresso já estava formada e ficava atenta ao número de pessoas com o privilégio de entrar. Senti uma certa inveja no olhar deles. Só que eu fiquei durante 3 horas e meia num domingo chuvoso e frio, de pé, numa fila descomunal, no primeiro dia da venda dos ingressos, para garantir meu lugarzinho naquele galpão.
Lá dentro, uma pequena surpresa, um salão enorme, do tamanho de um ginásio de esportes, com mesas postas como um restaurante. E havia mesmo dois restaurantes. Um deles servindo comida quente, vinho ou água e outro com entradas, combinando salada e queijos franceses, acompanhados de vinhos tinto ou branco. O aparato foi montado porque Les Éphémères (Os Efêmeros) é uma peça longa, quase sete horas, com alguns intervalos (um deles de uma hora, o que permite um jantarzinho rápido entre a primeira e a segunda parte).
Enquanto nos dirigimos para o teatro, com espaço para 600 pessoas (você pode escolher o lugar antes, marcar com um adesivo, e voltar ao centro de convivência), passamos pelos atores que se preparam para entrar em cena. Estão ali se maquiando, se alongando, conversando com o público, permitindo fotos.
Amigos que viram o espetáculo na França, disseram que eles reproduziram, fielmente, o espaço Cartucherie, em Vincennes, onde o grupo atua.
O público fica frente a frente e o palco no meio. De propósito, já que assim, podemos nos identificar com aqueles personagem em suas cenas curtas (efêmeras) que retratam nosso cotidiano, nossa fragilidade, nossas famílias, infância, solidão, perdas, as alegrias, as uniões, separações. Retratos da vida, pequenos universos. Cenas que passam em palcos giratórios, empurrados por quatro atores num balé no solo. Mas, frente a frente, o público também tem a chance de observar a reação das pessoas do outro lado. Seus olhares, sua expressão, seu sorriso, suas lágrimas. Espelhos da alma.
No caminho de volta para casa, dentro de um táxi, fiquei imaginando. Uma produção dessas, tão sofisticada, tão cara, com tantos detalhes, contêineres, dezenas de atores, viajando de tão longe só para nos lembrar de algo tão essencial que é a vida.



segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Dias felizes

Agora eu avalio melhor como os habitantes do hemisfério norte se sentem quando, depois de um longo e tenebroso inverno, sai o sol e começa a esquentar. Sei, também, a causa de tanta euforia com a chegada da primavera, quando europeus, norte-americanos, eslavos fazem até eventos oficiais para comemorar a estação das flores. Muitos cidadãos chegam a se despir nos parques, nas praças, para absorver aquele calorzinho gostoso dos raios solares.
Digo isso porque aqui no Rio Grande do Sul, assim como no planeta todo, o clima enlouqueceu de vez. Choveu durante cinco dias - sem parar! Era água que Deus mandava sem piedade de ninguém. Era só o que se falava nos jornais e na televisão: Afinal, quando vai parar essa chuva? Depois de provocar estragos, alagamentos, contratempos e rostos acabrunhados em todos nós durantes dias, o aguaceiro parou.
E, desde ontem, um sol maravilhoso banha Porto Alegre. Como o povo lá de cima, saímos todos para a rua, não importa o frio que faz lá fora (beirando 11 graus). A gente só quer tirar o mofo, a umidade de nossas roupas, aquecer o corpo e eliminar aquele ar acabrunhado de nossos rostos. Queremos ver a primavera chegando, florindo os ipês roxos e amarelos que enfeitam as ruas e parques, e voltar a sentir aquele cheiro de jasmim e de laranjeira, tão comum nesta época do ano na cidade.
Acho que nós, que vivemos no sul do País e que sofremos tanto com o inverno rigoroso deste ano, precisamos comemorar muito a volta do sol e do calor (quando ele chegar), e voltar a sorrir.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Duas cenas do POA em Cena


Cena 1:
A Pedra do Reino, com o grupo Macunaíma e Centro de Pesquisa Teatral, de Antunes Filho, baseado no texto de Ariano Suassuna. Um casamento perfeito da dramaturgia do paulistano com a saga do escritor paraibano e que narra a história do rei e palhaço quixotesco Pedro Dinis Quaderna,
preso por subversão pelo Estado Novo em 1938. O palco é nu, justamente para realçar o jogo entre os atores e as cores do nordeste, com seus mantos e bois de reisados, explicou Antunes durante a estréia em São Paulo, no ano passado. O destaque entre os 20 atores, que se revezam num entra e sai constante, é o goiano (ótimo) Lee Thalor. Confesso que me cansei um pouco daquelas correrias e do apito insistente dos militares indo para lá e para cá e num tropel sem fim. Mas isso é o de menos num espetáculo tão belo, abrangente e cheio de vitalidade. Um Antunes à altura de Suassuna.


Cena 2
Convergence 1.0, com direção, concepção e interpretação do francês Adrien Mondot.
Como o próprio nome deixa claro, trata-se da convergência de vários tipos de arte: o circo, malabarismo, o teatro e a tecnologia. Alguns chamam isso de multimídia, mas acho essa palavra tão desgastada. Mondot é acrobata, comediante e diretor artistico da companhia Guillaume Bertrand. É um espetáculo quase solo, não fosse a participação discreta da
violoncelista Véronika Soboljevsk, no fundo do palco, fundamental para a composição da trilha.
Adorei o fato de o show mesclar técnicas de circo e de dança com ilusão de ótica e tecnologia. Isso se explica pelo fato de Adrien Mondot ser também programador de informática e matemático e ter usado seus conhecimentos para criar um software que brinca com as leis da gravidade. Aquele fancês faz misérias com uma bolinha de vidro (e de verdade), rolando-a ou firmando-a nos braços, nos punhos, nos ombros, na cabeça, como se ela fosse parte do seu corpo ou da nossa imaginação. Pura ilusão? Que nada, a bolinha era real mesmo. No contraponto, ele brinca com as bolinhas criadas pelo programa do computador e refletidas numa tela na frente do palco, dando a impressão de que elas são reais. Inacreditável. Valeu cada centavo!

(JPG)


terça-feira, 18 de setembro de 2007

Argentinos


Esta é uma cena de Comunidad, produção argentina baseada num conto de Franz Kafka, com dramaturgia e direção de Carolina Adamovsky, e um dos 70 espetáculos em cartaz durante o Porto Alegre Em Cena, que termina no dia 30. Gostei da montagem, um grupo de homens engravatados, murmurando coisas desconexas, e que, a certa altura, expulsa um deles da comunidade. O renegado faz de tudo para voltar, mas não consegue. O espetáculo faz parte da cena underground (será que ainda se usa essa expressão?) argentina. Aliás, neste ano, o Em Cena trouxe sete produções argentinas e outras cinco uruguais, mostrando uma afinidade cada vez maior dos gaúchos com o Cone Sul. Afinal, Porto Alegre está mais perto de Buenos Aires e de Montevidéo do que de São Paulo e Rio de Janeiro, e essa proximidade influencia muito a preferência dos gaúchos pela produção cultural dos portenhos e uruguaios.
Soube, por uma amiga, que o show do argentino Fito Paez - um roqueiro nascido em Rosário e que fez um relativo sucesso por aqui nos anos 80 - levou uma multidão ao seu show, em julho, no Theatro São Pedro, com ingressos esgotados com bastante antecedência. Minha amiga contou que havia uma fila enorme ocupando a Praça da Matriz, em frente ao teatro, numa noite fria de lascar, porque as pessoas mantinham a esperança de entrar, à espera de possíveis (eu diria, impossíveis) desistências de última hora de alguns fãs.
Talvez seja esta a razão pela qual os organizadores do festival de teatro invistam tanto nos espetáculos castelhanos do Cone Sul e cuja lotação é garantida. Aqui, pelo jeito, a rivalidade Brasil x Argentina fica limitada ao futebol. E os argentinos não mandam só frentes frias para cá...
Vou continuar falando do Em Cena depois, porque agora tenho de correr para o teatro!

sábado, 15 de setembro de 2007

Cansei! (de novo)

Eu não gosto de ocupar espaço neste blog falando de política. Especialmente essa politica miserável brasileira. Acho perda de tempo, chato. Já disse isso aqui. Mas, meus amigos ficaram tão desiludidos e irritados - para dizer o mínimo - com a absolvição de Renan Calheiros, na quarta-feira passada, que fiquei surpresa. Não me surpreendi com a raiva deles, claro, porque isso é natural diante do resultado promovido por aquele bando reunido no plenário, às escondidas e de forma covarde. Fiquei surpresa foi com a esperança acalentada por alguns amigos de que Renan seria cassado. Confesso, não tive nenhum pingo de ilusão sobre o que sairia dali daquele plenário.
Parei de ler sobre esse assunto há uns dois meses, mais ou menos. Deixei de me interessar quando percebi que tinha coisas mais importantes para ver no jornal, na tevê ou na internet, e não queria perder meu tempo me informando a respeito dos malabarismos do ilustre senador para permanecer no cargo, se seus bois estavam no pasto ou se as fotos de sua ex amante na Playboy foram retocadas. Em todo o caso, eu admiro meus amigos, pela fé mantida por eles de que alguma coisa mudasse. Admiro cada um que me enviou mensagem manifestando sua indignação, que escreveu no blog um post raivoso, que me ligou para dividir sua descrença no poder legislativo e executivo (o judiciário, bem, este meio que se salvou com a votação sobre o mensalão). Vejo que eles não perderam a capacidade de se indignar. Coisa que eu perdi, infelizmente, pelo menos com a política.
Quem me conhece, sabe, sempre fui uma pessoa um pouco revoltada, meu sangue fervia quando discutia algumas questões políticas, principalmente se elas envolviam o PT. Mas, já faz algum tempo, isso mudou. Hoje, o Congresso, ao mesmo tempo que me dá nojo, me é indiferente. O PT, prá mim, está morto e enterrado, por motivos óbvios. E o presidente, esse não passa de um papagaio falante. Uma pena eu ter perdido o entusiamos com algo que antes me fascinava tanto. Triste ver que a democracia de nosso País esteja nas mãos dessa gente. Mas, não perco mais o sono por isso. Quero, sim, voltar a ter capacidade de me indignar, como meus amigos. Talvez com outro governo, com outro congresso. Com esses daí eu cansei!

domingo, 9 de setembro de 2007

As cores do arco-íris




Estou chegando em casa agora, são quase 9h da noite, e ainda ouço os gritos, a música e a alegria vindos lá da Beira Mar - a avenida principal de Florianópolis, uma espécie de Copacabana daqui, com o mar de um lado e do outro uma fileira de prédios chiques. No meio, a avenida cortando a cidade e onde estão reunidos, neste momento, milhares de gays em seus caminhões e trios elétricos com música tecno, comemorando a parada da diversidade, combatendo o preconceito. O lema deste ano é Amar é Direito de Todos.
Este é o segundo ano da parada em Florianópolis. Já é um começo para uma região (sul) e uma cidade onde o machismo e o preconceito começam no berço. No ano passado, lembro que o evento foi realizado no mesmo dia do final da Copa do Mundo (16 de julho). Enquanto as seleções da Itália e da França disputavam o título, e todos os machões se encontravam na frente da televisão naquela tarde de domingo frustrante para os brasileiros, os gays aqui da ilha desdenhavam o futebol e os bonitões italianos e franceses para comemorarem seu début na primeira manifestação oficial em favor da diversidade sexual. Pelas contas da PM local, a parada reuniu umas 25 mil pessoas e eles não contavam com patrocínio algum. De um ano para cá, as coisas melhoraram. O número de caminhões com publicidade estampada (eram patrocinados por casas noturnas) triplicou. Hoje eram 9, um feito para esta pequena cidade. O número de pessoas também aumentou. Não sei, ao certo, quantos eram pulando, dançando ou apenas caminhando pela avenida, mas, com certeza, havia mais do que as 25 mil de 2006. Neste ano, os organizadores tiveram, também, patrocínio oficial da Caixa e da prefeitura de Florianópolis, o que encoraja novas manifestações nos próximos anos. Considero esse um movimento corajoso. Sim, porque fazer paradas GLS em capitais cosmopolitas como São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Londres e Berlim é fácil. Difícil é sair às ruas de mãos dadas com seu companheiro ou companheira, dançar em cima de um caminhão só de sunga e ainda sorrir e parecer feliz em lugares como Florianópolis ou Jerusalém (lembro do que aconteceu por lá no ano passado, várias prisões, a oposição da comunidade judaica e até uma lei local foi criada para proibir o ato). Aqui, em Florianópolis, não chegamos a esse ponto, mas é sintomático que só agora, 11 anos depois de São Paulo ter feito a sua primeira parada GLS (agora GLBT), e ter reunido quase 3 milhões de pessoas na principal avenida paulistana, os homossexuais da "ilha da magia" tenham conseguido chegar a sua segunda manifestação pública. Por aqui, as coisas caminham lentamente. É o ritmo da cidade. O curioso é que Florianópolis é considerada um reduto gay dos mais conhecidos do Brasil e procurada por muitos turistas GLBT, principalmente no verão. Mas, como disse, as coisas estão mudando. Além dos patrocínios oficiais já conseguidos neste ano, o público gay está começando a despertar o interesse também dos hoteleiros e empresários de turismo locais. Neste feriadão, houve até um Fórum de Turismo GLS, na praia do Campeche, para debater o impacto econômico e social desse tipo de turismo na ilha, já que não é novidade para ninguém que o público gay tem poder aquisitivo para viajar, consumir e se divertir. Que venham todos. Esta cidade precisa da alegria, do burburinho dessa gente nas ruas, e das cores do seu arco íris. De que adianta uma cidade tão bonita, guardar tanto rancor, tanto preconceito e tanta melancolia? Ainda bem que o barulho continua lá fora. Ninguém consegue dormir com tanto silêncio, às vezes.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Tudo pela cultura

Domingo sombrio e úmido em Porto Alegre. Dia ótimo para ficar na cama até tarde e fazer tudo preguiçosamente pela casa. Mas eu tinha dois compromissos inadiáveis ontem. Um deles, era comprar os ingressos antecipados do festival de teatro Porto Alegre Em Cena, e que eu já tinha escolhido com cuidado na internet, e o outro era pegar um vôo rumo a Florianópolis, de volta para casa, depois de uma estada de 23 dias na casa de minha mãe.
Lá pelas 11h30 eu saí de casa e disse à mãe que não iria demorar, porque com aquele tempo, num domingo, garoa, frio, pouca gente seria tão determinada quanto eu para adquirir seus ingressos com antecedência de 10 dias, ainda mais no primeiro dia de venda. às vezes, é essa determinação que me salva. Dez minutos depois, às 11h40, desci do ônibus e avistei, de longe, em frente ao escritório da Secretaria de Turismo, no bairro Menino Deus, uma pequena fila, acho de uns 10 metros de comprimento. Umas 50 pessoas com seus guarda-chuvas se enfileiravam ali. Pensei: "Nossa! Será que tem tudo isso de gente para o teatro, ou esse povo está ali por alguma outra razão, um concurso público, talvez?". Deu a primeira opção.
Fui chegando e perguntando como estava a situação. Uma moça de óculos, na minha frente, me deu a sentença: "Eu não sei quantas pessoas têm lá dentro, mas minha amiga, que chegou aqui às 10h em ponto, me ligou agora dizendo que ainda ainda está na fila, e muito atrás ainda. Eles estimam uma espera de 3 a 4 horas aqui."
"Mas, como assim?" , perguntei espantada, "não são só essas pessoas aqui de fora, apanhando chuva, que formam a fila?" Obviamente que não. Seria muito bom se isso fosse verdade.
Fui verificar, e vi que havia centenas de pessoas numa outra aglomeração lá dentro, no local do estacionamento da Secretraria, e mesmo lá de dentro do estacionamento (escuro e úmido), as pessoas sequer enxergavam onde a fila acabava, dezenas de metros adiante, numa outra sala, à qual só fui ter acesso 3 horas e 10 minutos depois de ter chegado. Quando saí da garoa da rua e consegui entrar no estacionamento (sinal de status, naquele momento), contei. Havia pelo menos umas 400 pessoas na minha frente. E o pior, a fila não andava, apesar do 25 guichês funcionando (sendo três deles para atendimento preferencial). Isso porque as pessoas, na maioria das vezes, demoravam muito para se decidirem sobre o que ver, apesar do tempo na fila e do catálogo na mão para ajudar na escolha. Nem todo o mundo é objetivo. Além disso, cada um tinha direito a comprar para duas pessoas, e escolhiam pelo menos uns 10 espetáculos.
O sistema estava lento, a impressora idem. Perguntei a um dos organizadores, que passava de chimarrão na mão (por que os gaúchos carregam essa cuia para todos os cantos, meu Deus?), a razão dessa lentidão no atendimento, apesar dos 25 guichês operantes. Ele me deu uma resposta simples e objetiva: "É a chuva, quando chove, tudo fica mais lento, até a internet". Olhei para a moça loira e alta atrás de mim, com a mesma cara de espanto que ela fez ao ouvir a explicação. Rimos. "Certamente, os dados trafegam em cabos telefônicos, fibras ópticas e até por satélite, é possível que alguns deles tenham caído na valeta antes de chegarem aqui". Isso passou a ser motivo de piada na fila.
A sorte é que tinha levado o jornal de domingo (Folha de São Paulo) para ler. O jornal é meu fiel companheiro há anos, em salões de beleza, em filas de banco, de cinema, em restaurantes (quando almoço sozinha), em cafés. Aos poucos, como costuma acontecer em ocasiões como essas, as pessoas começaram a interagir, a perguntar sobre os interesses do festival, se era dança, drama, comédia, experimental, nacionais, estrangeiros. Quando finalmente cheguei no guichê, com dor nas costas, faminta, me sentindo úmida até na alma por causa daquele ambiente gelado e cimentado (um lugar horroroso!), consegui comprar meus 11 ingressos. O destaque foi a a companhia francesa Théâtre de Soleil, de Ariane Mnouchkine, Les Éphémères, com duração de 8 horas, e em dois atos, um dos mais esperados do festival, com estréia nacional em Porto Alegre nos dias 27, 28, 29 e 30/9. Depois segue para São Paulo. O festival Em Cena, coordenado por Luciano Alabarse (que está dirigindo Medéia, neste momento, na cidade), enfatiza os espetáculos do Cone Sul - especialmente Argentina e Uruguai e algumas montagens de vanguarda e de dança da Europa (serão 19 trabalhos da AL, Espanha, França, Alemanha e Japão). Mas, sem deixar de lado o bom teatro feito no Brasil e no Rio Grande do Sul. Ao lado de montagens uruguaias e argentinas, como os textos de Sarah Kane (4:48 Psicosis e Crave), teremos Pedra do Reino, Pret-à-Porter, Abre as Asas Sobre Nós (de meu amigo Roveri), Edmond .
Vai valer a pena ter esperado tanto tempo naquela fila. Quem quiser conferir o link da programação http://www2.portoalegre.rs.gov.br/poaemcena/

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Cartão Postal

É impossível ficar indiferente ou ignorar o documentário A Ponte, em cartaz em alguns cinemas brasileiros. Eu já estava me preparando para falar sobre o assunto, quando li o blog de meu amigo Sérgio Roveri narrando - com elegância e estilo literário peculiares - sua experiência ao assistir o mesmo filme. Fiquei com as mãos acima do teclado, paralisadas. Mas não me intimidei, já que escrever é um exercício, mesmo sem a assiduidade exigida pelo blog.
O documentário A ponte trata de um tema delicado, o suicídio. No filme, a principal protagonista é a majestosa Golden Gate, cartão-postal de São Francisco, considerada uma das maravilhas modernas da engenharia.
Visitei a cidade em 1999, num desses tours para jornalistas, a convite de uma empresa de tecnologia. A viagem era maçante, tínhamos de assistir a diversas palestras, fazer um sem número de entrevistas, almoçar e jantar com vários executivos, e sorrir o tempo todo. Em meio a essa maratona de quatro dias, tentar dar uma escapada para conhecer os pontos mais interessantes da cidade - e que cidade! - era um desafio. Em alguns dos almoços, naqueles restaurantes panorâmicos dos andares mais altos dos prédios de São Francisco, ficávamos observando a cidade lá de cima, loucos para estar lá embaixo. Quando uma rara oportunidade surgiu, dei uma escapada e peguei um táxi para conhecer a Golden Gate. Assim, enquanto outros jornalistas se dividiam em passeios pelo bairro Castro, pelas docas do porto ou foram às compras de seus gadgets high techs, lá fui eu em busca do cartão-postal mais famoso da Califórnia. Paguei uns 50 dólares para chegar até lá.
A ponte, projetada pelo engenheiro Joseph Strauss, liga São Francisco a Sausalito e levou cinco anos para ser construída (foi inaugurada em 1937). De seus 2,7 quilômetros de extensão, 1.966 metros são suspensos. Suas torres de suspensão erguem-se a 227 metros acima do nível do mar, suportando cabos principais com diâmetro de 92 cm. São detalhes que pesquisei no Google, claro. Quando avistei a ponte eu fiquei quieta, mirando seu desenho, sua beleza, sua cor dourada sob o pôr-do-sol naquele fim de tarde de primavera. Nem sei quanto tempo fiquei ali. Era como estar num filme. Aquilo era tão familiar, mas, ao mesmo tempo, tão imponente e distante.
Vi as pessoas passando de bicicletas, de carro, a pé, turistas tirando fotos (como eu) . Decidi ir até a cabeceira dela e parei, de repente. Olhei para baixo e pensei: isso é muito alto! É um bom lugar para suicidas.... e voltei depressa para terra firme. Tive uma sensação de desamparo diante daquela imensidão toda. Algum tempo depois, fiquei sabendo que ali se concentrava o maior índice de suicidas do mundo, um óbito a cada duas semanas, em média.
São essas criaturas, com problemas mentais, depressivas ou profundamente solitárias, que acabaram como coadjuvantes(?) desse triste documentário dirigido por Eric Steel. No filme, a Golden Gate é a protagonista estática, gigantesca, engolidora de vítimas atormentadas, servindo de plataforma ideal para um pulo mortal. Durante a filmagem, as câmeras escondidas de Steel conseguiram testemunhar duas dezenas de suicídios em 2004, além de algumas tentativas frustradas. São pessoas para quem a idéia da morte é mais concreta e redentora do que a sua etérea e insuportável vida. E, para alguns, nem a medicação adianta mais. Porque o anseio por se livrar deste mundo é maior do que qualquer fio de esperança de continuar vivendo.
É uma pena que o belo cartão-postal do engenheiro Strauss esteja servindo de cenário tão macabro e doloroso para tanta gente.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Ortografia

Leio na Folha de hoje que a reforma ortográfica, com novas e radicais mudanças na grafia de nosso idioma, começa a valer a partir de 2008. Entre as mudanças, resultantes de um acordo entre os países de língua portuguesa (Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau e Timor Leste), estão o abandono da tão temida trema, acentos diferenciais, circunflexos e agudos, hífens, enfim, todos legados ao esquecimento. Novas regrinhas virão. Um novo aprendizado, especialmente para quem conhece e costuma respeitar o idioma. Vai ser dureza escrever ideia, jiboia, veem, voo, feiura.
Tem muita gente que está a comemorar a eliminação de tantos agudos, chapeuzinhos ou tracinhos nas palavras, especialmente quem nunca conseguiu usá-los adequadamente.
Por outro lado, vejo, com espanto, como alguns jovens internautas criaram uma novilíngua sem nunca terem lido George Orwell. É só dar uma olhada em seus bate-papos pelo MSN, Yahoo!, blogs, mensagens no Orkut e torpedos e ver como essa geração digital resolveu bem seu problema com a língua, criando inusitadas formas de escrita, com abreviações e terminações esquisitas. E todos acabam se entendendo e adotando aquilo como norma.
Não sou contra escrever sem acentos em e-mails e torpedos para amigos. Eu mesma faço isso com freqüência (ou frequencia) porque a internet é um veículo ou mídia que exige rapidez, e, convenhamos, acentos nos exigem várias funções no teclado, ainda mais nos que não seguem as normas ABNT. Mas isso é perfeitamente aceitável para quem conhece as regras e sabe usá-las, mesmo que as ignore na pressa da escrita.
O que me apavora é que essa garotada (jovens com boa educação em casa, ótimas escolas particulares, estantes cheias de livros e boas notas) não sabe escrever mais. Será que aprendeu algum dia? E a nova ortografia, será mais fácil para eles?. Torço para não precisar mais ler viajem, aflissão, ipocrisia, paíz e coisas do gênero em alguns textos desses jovens internautas, já que teremos de nos acostumar com voo, veem, heroica e assembleia.

Enquanto isto, os portugueses não poderão mais grafar acção, adopção, húmido e herva - óptimo (oops... ótimo) para eles!

sábado, 18 de agosto de 2007

Músicas de fundo

D. Eliza sempre foi uma mulher forte e saudável, apesar de seus 81 anos. Os únicos poblemas dos quais se queixa, ultimamente, são a labirintite e o colesterol um pouco acima do normal, controlado com remédios. Quisera eu chegar à idade dela com essa vitalidade! Mas ela tem, também, um problemas de audição já faz alguns anos. Na verdade, acho que tudo começou quando meu pai ainda era vivo. Nos últimos anos de vida de seu Cenorino, a gente já precisava gritar para ele ouvir. E isso era meio estressante para minha mãe, já que além de gesticular e falar aos berros com meu pai, não existia uma conversa normal entre eles, por conta justamente dessa limitação. Depois de algum tempo convivendo com essa deficiência de seu Cenorino, ela acabou por ficar tão surda quanto ele.
Bom, o fato é que ela usa aparelho num dos ouvidos. Mas notamos que esse dispositivo, por vezes, mais atrapalha do que ajuda. Isso porque, segundo ela, dependendo do volume colocado no tal aparelho, ela diz ouvir só os barulhos do ambiente, e não consegue entender as palavras da pessoa falando diretamente com ela. Isto é, se ela está num ambiente com música, buzinas de carros, rádio, tevê alta, muita gente conversando ao mesmo tempo, o aparelho captura mais esses sons, prejudicando uma conversa bilateral. O que pode explicar o fato de ela não me escutar muito bem quando estamos em ambientes barulhentos.
Agora, D Eliza diz que além de não escutar muito bem o que a gente fala - o que não é grave na idade dela, mas atrapalha um pouco as relações sociais - ela está ouvindo uma música ao fundo, e...dentro da cabeça! Pior, a música, diz ela, é alemã, talvez austríaca (terra do pai dela). "Às vezes, é uma valsa de Strauss, bem ao longe, noutras é uma música de minha infância". E começa a cantar, em alemão, a canção folclórica austríaca da hora. E, tem mais, ela não curte essa música. Em outros tempos, me disse, era aquela "Fascinação" (a mesma cantada pela Elis Regina). O repertório é variado. Diz que essas músicas surgem quando está sem aparelho ou quando está tudo no mais absoluto silêncio.
Bem, vou ter de tomar uma providência, levando D Eliza ao médico para avaliar esse tipo de "ruído"na cabeça.
Só espero que essas músicas continuem como estão, folclóricas alemãs, valsas austríacas ou canções suaves, sem descambar para o sertanejo ou rap, aí sim, a situação de D Eliza ficaria preocupante.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Médicos inconvenientes

Em Porto Alegre, às voltas com exames, consultas a médicos, novos exames faltantes, apalpa daqui apalpa dali, perguntas, sorrisos, algumas rugas na testa, a espera de novos resultados. Nada disso é mais doloroso do que ir ao ginecologista. Nem mesmo a mamografia, em que a mama é ensanduichada entre duas plataformas geladas - de frente, de lado, do outro lado - e apertadas com toda a força da máquina de alta resolução, é tão cruel do que consultas com ginecologistas. Pelo menos para mim. E de uns anos para cá, tem sido pior.
Explico, além da posição constrangedora que nos impõe a situação (como se fosse uma galinha, de pernas abertas e pra cima, já pronta para ir pro forno), vem aquele ferro medieval, fuça daqui, fuça dali, e, por fim, as malditas perguntas. Justo naquele momento em que não tenho forças nem para gemer de dor, vêm as tais perguntas, mais constrangedoras do que a posição ridícula em que me encontro e que podem doer mais do que o exame em si.

E a vida sexual? Indaga a médica, pouco conhecida minha, e, portanto, com quem não tenho a menor intimidade.

Como?? respondo baixinho e sem forças.

Então, como anda o sexo? Insiste ela, com a maior calma do mundo, fuçando, fuçando...

Ah! Hmmm! (interjeições que exprimem a dor e a completa falta do que dizer naquele momento.
Bom, eu ando fechada para balanço, por uns tempos (dizer o que?? tenho de ser sincera... e otimista).

Você precisa ter atividade sexual, você é jovem, bonita ainda (gostei dessa parte!) e fazer sexo faz muito bem - diz ela, naturalmente, como se eu fosse uma freirinha jovem, a caminho do convento e dezenas de homens, entre eles o Fábio Assunção, o Gianechinni e o Rodrigo Veroneze estivessem correndo atrás de mim dizendo "não vai, não vai, fica comigo!".


p.s. A propósito de homens bonitos. Fui ver Primo Basílio, e fiquei pensando no sacrifício que deve ter sido para Débora Falabella fazer o filme com o Gianecchini e o Fábio Assunção, um como marido e o outro como amante. UAU!!





sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sr e Sra Smith e a globalização

Leio que as bolsas estão caindo no mundo inteiro, os bancos centrais da Europa, Estados Unidos e Brasil começam a manifestar uma certa preocupação com o que está por vir, e injetam recursos na economia, ao ponto de o Banco Central Europeu ter feito um aporte de US$ 130 bilhões nos bancos europeus, na quinta passada, e o FED (Banco Central dos EUA) ter ampliado suas reservas para o sistema bancário americano, nesta sexta, em mais US$ 35 bilhões, para evitar uma crise de liquidez no sistema de crédito de risco daquele país.
Mas, por que estou falando de um assunto tão árido num espaço como este? E por que estou preocupada com o rumo da economia mundial e com a queda das bolsas se eu não tenho um centavo aplicado em ações? Primeiro, porque vivemos num mundo globalizado, e se chove lá em cima respinga por aqui, no andar de baixo. Segundo, porque acho que o cerne dessa crise mundial - ainda controlável, se Deus quiser - aparenta ser bem prosaico, pelo menos na minha pobre e limitada avaliação e como observadora dos fatos.
Pelo que entendi, os norte-americanos, um povo patologicamente consumidor e sem nenhum controle de seus gastos, acostumado a comprar suas belas casas de dois andares, com aquele monte de janelas, com garagens para dois ou três carros e em subúrbios que mais parecem cenários de filmes hollywoodianos, estão, agora, sem condições de honrar seus compromissos com o crédito imobiliário dos bancos. E teriam passado a hipotecar suas casas para quitar outros débitos com cartões de crédito. Dívidas contraídas, quem sabe, com a Macys e com a Century 21, com os postos de gasolina onde enchem o tanque de seus carrões, e com as caras universidades de seus filhos. E isso tudo estaria gerando uma insolvência no mercado imobiliário - um dos grandes pilares da economia americana, aliás - e afetando os bancos, as bolsas, e toda a economia mundial.
Ou seja, a falta de planejamento do sr Smith e de sua esposa Carrie, que não conseguem saldar seus débitos com o banco do subúrbio de Utah ou do Arkansas, terá um efeito dominó no mundo. O dólar sobe, os juros se elevam e as bolsas caem. É sempre a mesma coisa. O Pedro, operário de uma fábrica de calçados em Novo Hamburgo, no interior do Rio Grande do Sul, o Monsieur Gaulin, que tem uma pequena vinícola na cidadezinha de Chalons sûr Saône, no sul da França, e Hu Ling, um jovem estudante que trabalha numa loja de CDs (piratas?) de Xangai, deverão ser intimamente afetados pela inadimplência do sr e sra. Smith. Seja pelos juros mais altos quando forem comprar uma camisa, ou com uma alta nos preços da comida (no quilo da esquina ou no supermercado), ou quando forem fazer um crédiário para comprar uma tevê. São os efeitos da globalização. E não me venham dizer que isso é queixa de classe média, porque desse discurso eu também já cansei.

sábado, 4 de agosto de 2007

O tempo enlouqueceu...segundo D Eliza

Alguém já reparou que o clima é sempre o tema escolhido para iniciarmos uma conversa desprentensiosa com alguém, especialmente se for com algum estranho ou com uma pessoa com quem não temos intimidade? Comigo, pelo menos, é assim. Num restaurante a quilo, quando sento à mesa ao lado de quem não conheço e fico comichando para entabular uma conversa, é sobre o tempo que falo. Quando estou numa fila de cinema, ou vou pagar a conta no caixa do supermercado (e ele já me conhece), ou quando encontro alguém conhecido no shopping, é sobre o clima que comento: "Que friozinho tem feito, né? Ninguém merece tanto". Minha mãe, d. Eliza, com quem falo duas a três vezes por semana, por telefone, mora em Porto Alegre, cidade onde o inverno tem sido muito rigoroso. Por vezes, o tempo também motiva nossa conversa. "Oi, tudo bem, como está o tempo por aí?"Damos o boletim meteorológico de nossas respectivas cidades e eu comento que enquanto estamos sofrendo com o frio aqui, no hemisfério sul, dezenas de pessoas estão morrendo de calor na Europa, com temperaturas pouco acima de 40 graus, especialmente na Hungria, Romênia e Itália.
D. Eliza escuta com atenção o que eu digo, pensa e dá o seu veredito: "Pois eu acho que o tempo enlouqueceu por causa dos homens." Concordo com ela. Mas deixo ela desenvolver um pouco mais seu pensamento porque sei que vem coisa por aí.
"Se não fossem esses caras, esses astronautas, sempre dentro de um foguete, no espaço, mexendo na lua, nesses planetas todos e voando por aí, nada disso estaria acontecendo. Não é possível que essa movimentação toda lá em cima não provoque toda essa confusão aqui embaixo, com frio e chuva no sul e seca no nordeste".
Essa é a teoria de D. Eliza sobre o clima, que não conhece nada de fenômenos como La Niña ou El Niño, nem de aquecimento global, nem de emissão de gases que formam o efeito estufa. Para ela, as coisas são bem mais simples. A culpa é dos astronautas.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Aquecimento aonde?

Tem feito tanto, mas tanto frio aqui no sul, que a cada blusa de lã que coloco sobre outra que já está sobreposta noutra camiseta, a cada meia que calço sobre outra e a cada teclada que dou no computador com luvinhas sem dedinhos - congelados - me pergunto: onde está o aquecimento global, o efeito estufa, e os invernos amenos que tivemos nos últimos três anos aqui em Florianópolis? Nem falo do Rio Grande do Sul, porque lá o inverno está de congelar pingüins. As frentes frias não dão trégua no sul do País. Vem uma atrás da outra, de enfiada, sem permitir que a gente se recomponha, evitando de usar esses agasalhos um pouco exagerados e que nos deixam meio ridículos - especialmente dentro de casa.
É o inverno mais rigoroso dos últimos 12 anos, dizem os meteorologistas. Nossas casas, no Brasil, não têm aquecimento central, nem pisos, paredes ou janelas preparadas para esse frio ao estilo hemisfério norte. Tudo é gelado.
Mas, pelo menos podemos dispor de aquecedores, roupas quentes, cobertores, ar condicionado. Fico lembrando das pessoas que não têm nada disso e como elas estão sobrevivendo a esse clima (se é que estão). E os animais sem dono? Durante algumas madrugadas ouvi, ao longe, o lamento persistente de um gato, não sei se era por causa do frio ou se ele tinha outra queixa (dá uma angústia ouvir esse choro e, mais ainda, não saber como ajudá-lo pois ele não ficava visível a partir de minha janela). Nas últimas duas noites, porém, o choro cessou. Como foram madrugadas com 4 a 6 graus de temperatura, me pergunto se o bichano morreu de frio ou arrumou um cantinho mais quente para ficar. Prefiro achar que gatos têm sete vidas e sabem se virar bem. Ao contrário de nós, humanos, tão fracos, tão dependentes, tão queixosos, e que a qualquer friozinho já reclamam de tudo e acham que vão morrer congelados, mesmo cheio de roupas por cima e por baixo.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O país das chuteiras (femininas)

Marta, Cristiane, Cylene, Daniela, Andréia, Aline, Pretinha... alguém já ouviu falar dessas meninas antes de começar o Pan? Talvez. São as meninas da nossa seleção de futebol feminino e que fizeram a melhor campanha coletiva nesse Pan, pois ganharam todas as partidas - fizeram 33 gols, não levaram nenhum, com uma média espetacular de mais de 5 gols por partida (fizeram 11 na Jamaica e 10 no Equador).
Hoje, essas meninas valentes, aguerridas, desafiadoras e talentosas ganharam a medalha de ouro contra a seleção norte-americana, considerada a melhor do mundo, campeã mundial e olímpica, blá-blá. Tá certo que parece que os Estados Unidos mandaram o time B, mas mesmo o time B deles impõe respeito. Aliás, nunca entendi isso de os EUA sempre mandarem os times Bs para os jogos pan-americanos, talvez seja porque nos considerem atletas de segunda categoria e não mereçamos ter o privilégio de enfrentar o seu time A. Mas mesmo que viesse o time A, tenho certeza de que ele se intimidaria com essas brasileirinhas lutadoras, oriundas de famílias pobres do nordeste e do interior deste País, que enfrentaram preconceitos de toda a sorte para chegar aonde chegaram. E, ainda hoje, com todo esse potencial, esse talento e essa garra, jogando como jogam, não contam com patrocínios, nem apoios de empresas ou dos governos, a maioria delas nem tem onde trabalhar aqui dentro porque não há interesse em estimular o futebol feminino neste País, onde predominam as chuteiras masculinas. Uma das exceções é a nordestina Marta, eleita a melhor jogadora do mundo no ano passado, pela Fifa, e com uma carreira sólida na Suécia. Katia Cilene lembrou que precisou se vestir de menino para poder treinar e enfrentar o preconceito na sua cidade, já que futebol é para homens e não para mulheres.
Pois bem, essas meninas deram, hoje, uma lição em todos nós. Mostraram, jogando, pois é isso que elas fazem melhor, que devemos prestar mais atenção nos outros esportes em que somos muito bons. Elas nos lembraram que o Brasil não é feito apenas de bola nos pés de machos. Há outros esportes - futebol feminino, basquete, atletismo, karatê, TaeKwon-Do, ping-pong, badminton, etc. - que esperam por nossa atenção, nosso apoio, nosso reconhecimento, nosso patrocínio.
Foi emocionante ver o Maracanã com 70 mil pessoas gritando por Marta, Cristiane, Pretinha, Daniela, nomes que não estamos acostumados a falar nem a ouvir, porque estivemos meio cegos e surdos para outros atletas que não fossem Ronaldinhos, Kakás, Adrianos e Robinhos. E porque torcemos por chuteiras masculinas - que nem sempre nos merecem.
Infelizmente, por aqui, poucas chances têm os outros atletas de crescerem, serem patrocinados e se profissionalizarem, como acontece nos Estados Unidos, Rússia, Cuba, Canadá, Inglaterra, Hungria, Suécia, só para citar alguns países onde a atividade esportiva é levada a sério desde a escola primária. Assistimos há anos os EUA e Cuba liderarem as competições mundiais. E isso cansa.
Por isso, o mérito dessas meninas da seleção feminina do futebol foi retumbante. Não só por terem ganho a medalha de ouro contra o melhor time do mundo (?), contra a poderosa seleção dos Estados Unidos, mas por terem chegado aonde chegaram, sem levar nenhum gol, fazendo inúmeros contra as outras e sem queixas, sem lamúrias, sem frescura. O único choro visto naqueles rostos foi a expressão da alegria e da emoção. Será que alguém do governo, da mídia e das comissões técnicas prestou atenção no recado dado por elas?

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Surtei

Me bateu um surto de egoísmo.
Não agüento mais: ler sobre "mais um dia de caos nos aeroportos";
problemas em aviões descendo, subindo ou no ar;
ver gente chorando ou reclamando nos aeroportos de que não conseguiu embarcar;
pessoas brigando com os funcionários das companhias;
esses mesmos funcionários com cara de patetas ouvindo os gritos e sem nada a dizer para essas pessoas histéricas;
o jogo de empurra e a incompetência do governo para tratar a crise;
a ganância das companhias aéreas;
os parentes das vítimas que não conseguem enterrar seus familiares sem a identificação do IML; e as palavras Congonhas, Cumbica, Cindacta; Anac; grooving; aquaplanagem; reversor; frenagem; vôos cancelados...

terça-feira, 24 de julho de 2007

Crianças

Tenho um afilhado que acaba de completar 7 anos. Por ele estar em férias, dedico um dia menos corrido da semana pra ficar com ele. Gabriel diz que adora (esse é o verbo usado por ele) ficar comigo, e eu fico inchada de tanto orgulho. Acho que é verdade, porque criança não costuma mentir. Também porque faço todas as vontades dele. Brinco de bola, passeamos no parque, o levo para andar de motinho na pracinha, preenchemos juntos os álbuns de figurinhas, jogamos o novo tabuleiro do Bob Esponja - personagens dos mais carismáticos do mundo infantil e um verdadeiro ídolo de Gabriel -, e assistimos pela 10ª vez o filme do Scooby Doo.
O mais fascinante nas crianças, a meu ver, além de sua sinceridade demolidora, é a lógica peculiar. Hoje, andando na rua, vimos muitos cachorros com seus donos tomando sol. Desde pequeno Gabriel sente um pouco de medo de cachorros, embora crianças nessa idade costumem amar os cães e fazerem festinha quando vêem algum por aí. Sempre pergunto sobre esse medo, mas ele não me responde, ou só fala aquela famoso "porque sim" que as crianças costumam dizer quando não querem entrar em pormenores e já cortando o assunto. Então, eu lembrei a ele sobre a nobreza dos cachorros, pois são eles que estão cavando nos destroços do acidente da TAM à procura de corpos (depois me arrependi de ter tocado neste assunto com uma criança), e são sempre a eles e ao seu faro que os homens recorrem em horas difíceis e trágicas. Que são os cães nossos fiéis companheiros e nunca nos abandonam ou nos traem. Enfim, depois de fazer a apologia ao bicho ainda cravei o clichê: "o cachorro é o melhor amigo do homem". E ele, de pronto e com a sua lógica infantil, rebateu sério: "e das mulheres, não?"
p.s. - eu também A D O R O estar com meu afilhado, e nada aquece mais o coração do que aquele pingo de gente vir beijar e abraçar a gente de manhã, dizer bom-dia e nos acordar às 7 horas de uma fria manhã de inverno.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Tragédia aqui dentro

Uma das regras mais interessantes aprendidas no jornalismo é: quanto mais próximo do leitor estiver o fato, mais interesse ele vai despertar.
Todos os dias assistimos pela tevê e lemos nos jornais o grande número de mortos em mercados de Bagdá, os desastres naturais com perdas significativas em terremotos no Japão, maremotos na Ásia, incêndios na costa oeste dos Estados Unidos -, desabamentos de minas na China, ataques em mesquitas no Paquistão, acidentes aéreos na Rússia. Mortes em massa é uma rotina neste mundo. São fatos que acontecem longe do Brasil e provocam uma certa comoção, mas na dose certa. Nunca pensamos neles mais do que o necessário, porque as notícias mudam com um simples reload no navegador da Web ou um zapping no controle remoto. Pano rápido e já somos apaziguados com uma medalha de ouro no Pan, ou bombardeados por uma nova crise política em Brasília. São os fatos que nos atropelam. Mas quando eles são trágicos e acontecem dentro de nossas fronteiras, no País, na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa cara, temos uma reação totalmente diferente daquela experimentada ao vermos os sunitas matando xiitas no Iraque. Ali é só dar o reload e a tela muda. Com o acidente do vôo JJ 3054 da TAM, em São Paulo, vitimando mais de 180 pessoas, a situação é outra. É um acontecimento que nos comove profundamente, nos faz pensar, nos deixa com insônia e tristes, sem palavras, a não ser aquelas para lembrar e relembrar a tragédia. Nos faz perder amigos, parentes, conhecidos. Uma tragédia anunciada e resultado de uma sucessão de erros, que deve ser investigada de forma incansável a partir de hoje, embora saibamos que há poucas chances de mudanças no sistema de transporte aéreo brasileiro, num país em que a impunidade não mede mais esforços para se manter latente.
Um acidente dessa magnitude me faz olhar para o céu - e hoje ele está azul em Florianópolis - e para a tranqüilidade do mar que se espraia na frente de minha casa e repetir para mim mesma: obrigada por eu estar viva! Obrigada por mais este dia, obrigada por ninguém da minha família ou nenhum de meus amigos figurarem entre as vítimas. Não sei a quem agradeço, acho que é a mim mesma por não estar naquele avião. E também aos vários amigos que me ligaram ontem para saber de mim.
Infelizmente outras 180 pessoas estavam no vôo JJ 3054 ou morreram em terra. A esses familiares, se tiverem fé, só resta o conforto de alguma oração, e a esperança de que essas mortes (assim como as do acidente da Gol, em setembro passado) sirvam para mudar alguma coisa nesse país de desmandos e amadorismo, especialmente quando tantas vidas estão em jogo. Porque para esses parentes e amigos das vítimas do vôo 3054 não basta dar o reload na página.

domingo, 15 de julho de 2007

Vaias

Cometi uma incorreção no meu post anterior. Na verdade, o presidente Lula foi vaiado seis vezes na cerimônia de abertura do Pan, no Maracanã, e não apenas três. Acho que perdi os outros momentos das vaias porque fui pegar um café na cozinha. Não gosto de ocupar este espaço falando de políticos, porque meu tempo é precioso demais para perder com eles, mas achei muito apropriada a manifestação democrática das 90 mil pessoas naquela tarde do dia 13 de julho. Eu sou otimista, e acho que as vaias podem ter servido para mostrar ao presidente que esta ilha da fantasia que ele apregoa ser o Brasil de hoje só está na cabeça dos governantes. Vimos, no Maracanã, uma intocável popularidade ser arranhada (como diz o grande Clóvis Rossi: um risco no teflon) e um boa dose de realidade ser desvendada para quem anda meio cego com tantos apupos, culto à personalidade e ôba ôba em torno da sua figura. Espero que para alguma coisa positiva tenham servido as vaias e não só para constranger Lula e d. Marisa.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A festa do esporte

Ainda sob o impacto da festa de abertura do Pan, no Rio de Janeiro. Foi emocionante ver um espetáculo com a cara do Brasil, suas cores, sua alegria e a sua música. Os mais de 1.500 ritmistas de escolas de samba tocavam Brasileirinho na recepção aos atletas dos 42 países - uns com delegações imensas, outros com apenas dois participantes, a minúscula equipe de Dominica, na América Central. O maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, um animado porta-bandeira à frente de mais de 800 elegantes atletas brasileiros que sambavam com seus chapéus amarelos; a brava Elza Soares cantando o Hino Nacional com tanta emoção que levou muita gente às lágrimas. Momento mágico: o menino baiano Kainã, de apenas 12 anos, toca um tambor e lidera os 1.500 percussionistas no estádio. A platéia delira. A coreografia montada com 4.500 voluntários para a dança da fauna e flora, seguida do movimento das águas - com a praia de Copacabana como tema -, as manifestações folclóricas do Boi de Cara Preta, Cazumbá, Carrancas; as músicas de Tom Jobim, Caymmi, Carlos Gomes, Villa Lobos, Ari Barroso. A alegria dos atletas veteranos, medalhistas de ouro em competições em Barcelona, Cuba, Atlanta, carregando a tocha olímpica, faísca para iluminar o imenso sol dos jogos pan-americanos e ao som de Cidade Maravilhosa, com Daniela Mercury. Foi bonito de ver.
Com uma ajudinha de produtores da Disney, mas também de carnavalescos brasileiros, mostramos nossa capacidade para montar espetáculos de alto nível em competições esportivas, porque optamos pela simplicidade e pelo que temos de melhor neste país: a criatividade e a energia do nosso povo.
E estou certa de que todas as pessoas que lotaram o Maracanã esta tarde saíram de lá felizes e orgulhosas. Mas ao menos uma deixou o estádio muito constrangida, o presidente Lula, vaiado ruidosamente por três vezes pelas 90 mil pessoas. Aquele não era o momento dele. Ainda bem que chegou calado e calado ficou, afinal era um momento de festa.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Leituras, autores, mistérios

Ler é um dos maiores prazeres da vida para muitas pessoas. Ler, assistir a um bom espetáculo de teatro, um filme interessante, uma viagem sonhada. São experiências estimulantes que aguçam nossa mente e nos dão uma sensação muito agradável, comparável talvez àquela vivenciada pelo fumante ao acender um cigarro depois do café ou do sexo, ou à de beber um bom vinho num ótima companhia. Experiências sensoriais que nos cativam, nos prendem e nos despertam.
Se estamos vendo uma peça ou um filme, ou até mesmo viajando com alguém, podemos dividir nossas opiniões imediatamente com as pessoas ao nosso lado, amigos, gente que está VENDO a mesma coisa que nós. A mesma obra provoca opiniões diversas - uns gostam, outros nem tanto - e tudo é falado, debatido e esquecido horas depois. Com os livros é um pouco diferente. O prazer da leitura costuma ser silencioso, misterioso, solitário e sólido. Talvez, por isso, mais intenso. Podemos tocar, manusear o livro, saborear cada palavra, cada página, pensar naquilo que o autor escreveu, e usando o tempo que cada um de nós necessita para refletir sobre as suas idéias. Puro deleite. E sem aquela sôfrega e exibicionista necessidade que temos de expor nossas opiniões ao grupo sobre o que acabamos de VER (um filme, uma peça), e em alto e bom som para que todos ouçam (e digam: "ai como você é chata!"). LER não é igual a VER ou OUVIR.
Talvez por isso eu tenha experimentado uma sensação diferente durante a FLIP - a Festa Literária de Parati - quando o genial e recluso J.M. Coetzee começou a ler para um grupo calculado em 2.600 privilegiadas pessoas (nas duas salas - a dos autores e a do telão da praça da Matriz) alguns contos selecionados por ele do seu mais recente livro, Diário de Um Ano Ruim, a ser lançado até o final do ano no Brasil. Foi uma leitura impecável, precisa, perfeita. A platéia - embora frustrada por não poder debater com o autor (por exigência dele), ouvia atentamente saboreando e segurando cada palavra no ar para que elas não escapassem daquele espaço coberto por um toldo de pano. E cada ser humano naquele momento, tenho certeza, apesar de integrar um coletivo de centenas de pessoas, sentadas lado a lado, tinha a sensação de estar em casa, na sua poltrona, apenas na companhia daquele som, daquelas palavras. OUVINDO Coetzee. Mesmo quando ele fez aquele longo silêncio, à espera de que o alarme do carro na rua parasse de interromper suas palavras.
Talvez pelo modo como autor nos fez ouvir, pelo mistério que envolve sua vida pessoal, pelo seu peso no mundo literário, enfim, seja lá o que contribuiu para essa mística leitura, ela teve uma importância particular. Não posso dizer que tenha testemunhado esse mesmo comportamento solene da platéia durante a leitura de outros autores, mais carismáticos e igualmente talentosos. A sul-africana Nadine Gordimer chegou bem perto disso com um capítulo de seu novo livro, De Volta à Vida, mas para mim, em especial, porque o tema me toca de forma particular. Guilllermo Arriaga, o roteirista de 21 Gramas, Amores Brutos e Babel, é outro que me seduziu. Talvez por ser latino e pelo drama pessoal (desde os 13 anos ele não tem olfato, vítima de uma violência praticada por um bando de adolescentes). Lawrence Wright, o jornalista e autor de O Vulto das Torres, um de meus livros preferidos deste ano, por sua vez, precisou enfrentar um histriônico, parcial e deselegante Robert Fisk. (Em tempo, gosto muito do que Fisk escreve e admiro sua coragem na defesa do Oriente Médio em seus artigos). Mas nenhum desses escritores arrebatou tanto e tanta gente ao mesmo tempo como Coetzee, o mesmo que não quis debater, não quis responder às perguntas do público, detesta fotos, nao fala de sua vida pessoal e escreve com precisão cirúrgica. São grandes os mistérios da literatura.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

nomes...

Estou com muita pena da jovem James Alves da Silva, de apenas 16 anos, já grávida. Não, não é porque a adolescente está grávida que estou com pena dela. É por causa do nome que ela recebeu ao nascer. A mãe, Ana Célia, achou "tão bonito" que não viu nada de estranho chamar a filhinha de James. Apesar dos problemas causados à filha na escola, com os amigos, na vida, a menina com cara de Ana, Maria ou Nicole (nome com o qual queria ser batizada) conseguiu chegar à adolescência sem maiores traumas. Só que as coisas não seriam tão simples para ela. Além desse nome esdrúxulo, o notário da cidadezinha baiana de Banco Central (e isso lá é nome de cidade?) registrou o bebê recém nascido também como homem! Claro, faz sentido. Descuido do tabelião? E o que dizer dos pais de James, que nem perceberam o erro durante 15 anos (!), idade em que a menina precisava tirar uma carteira de identidade e a emissão do documento foi negada porque ela era ele, pelo menos na certidão de nascimento.
Agora, James não pode casar com seu companheiro e está com problemas para fazer o pré-natal porque foi registrada como homem. Que situação! Além da falta de boa vontade do posto de saúde do Jardim Caiçara (em São Paulo), onde ela foi tentar o pré-natal, e do fato de seu cartório ter sido transferido para Ilhéus e nenhum dos antigos funcionários do cartório de Banco Central (BA) existir mais, James quer trocar o nome para Nicole e não consegue, não sem antes trocar de sexo e ser reconhecida como mulher, que ela é, de fato. Não bastasse essa situação complicada na vida de James, a mãe dela, a mesma que fez o favor de chamar a filha com nome de homem e não ter se dado conta também do erro do tabelião no registro (talvez pelo fato de ela ser semi-analfabeta), revelou à Folha de São Paulo que outros dois nomes estavam na sua lista para a pobre filha: Tabita ou Sadoque (se ela fosse menino).
Acho que deveriam proibir d. Ana Célia de ter essas "brilhantes" idéias para nomes. James/Nicole, um conselho: não deixe sua mãe chegar perto de um tabelião com o neto no colo.

Mais cinema

A propósito do post anterior, queria dar uma dica sobre a nova comunidade dedicada ao cinema, com conteúdos postados por blogueiros do Brasil, México e Argentina. A Fox convidou um grupo restrito de pessoas para criar essa comunidade de blogs, especializada em lançamentos de filmes na América Latina, o Bloggers Cut www.bloggerscut.com . Divirtam-se.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

O cinema de cada um

O Festival de Cannes, realizado em maio passado, fez 60 anos e tratou de lembrar a data comme il faut. O presidente do festival, Gilles Jacob, teve uma idéia simples (embora não original), para homenagear o cinema. Chamou 33 cineastas - entre aqueles que melhor conhecem e dominam a grande arte - para demonstrarem seu amor pelas salas de cinema. Um jeito singelo de homenagear não só a sétima arte, mas também as salas de bairros, hoje desaparecidas e substituídas por outros tipos de negócios que em nada lembram a cultura e nem estimulam nossa imaginação, como bingos, igrejas universais, shoppings centers, supermercados. Tudo em nome do comércio. Assim, as salas de cinema do interior e dos bairros foram rareando, rareando e ....sumiram! Deixando para trás a saudade das pessoas por um tipo de arte e diversão, às vezes, único. Uma arte acessível, alegre (às vezes, triste), gregária, mágica.
Minha paixão pelo cinema começou bem cedo, ainda lá no interior do Rio Grande do Sul, em Butiá, onde vivi minha infância. Meus pais sempre foram muito boêmios. Eles dançavam no clube da cidade, às vezes se apresentavam em coreografias de tango, reuniam os amigos para jogar cartas e também eram loucos por cinema. Como eles tinham o hábito de frequentar o Cine Butiá quase todas as quartas e sábados (sim, os filmes trocavam de um dia para outro), eu, ainda com três anos e de colo, também ia com eles (nem sempre eles arrumavam uma babá para ficar comigo). Meu pai era amigo do bilheteiro e do porteiro, portanto, eu entrava sem problemas, nem que fosse para ficar dormindo no colo deles, e não sem antes dar uma espiada naquela tela preto-e-branco com as imagens de chanchadas da Atlântida ou de musicais de Hollywood, numa língua que eu não entendia. Eram filmes singelos, numa sala muito simples, com cadeiras de madeira, desconfortáveis...mas, para mim, tudo era novidade e alegria. Adorava ficar no colo de meu pai vendo aquelas imagens em movimento até cair no sono profundo. Quando tinha uns 6 ou 7 anos, já começava a entender um pouco os filmes de Oscarito, Zé Trindade e Grande Otelo, e dava muitas gargalhadas com eles. Já me sentia gente.
Vendo os 33 filmes feitos por cineastas como Walter Salles, Theo Angelopoulos, Konchalovsky, os irmãos Dardenne, Alejandro Iñarritu, Wong Kar-Wai, Billy August, Ken Loach, Wenders e um punhado de outros bons diretores que toparam o desafio imposto por Jacob, lembrei muito do cine Butiá.
Hoje, no lugar daquele mundo mágico de minha infância existe um supermercado. Dura realidade é essa que substitui nossos sonhos e ilusões por pacotes de miojo, margarinas e detergentes.

domingo, 24 de junho de 2007

O Vulto das Torres




Até 0 11/9 o interesse do mundo ocidental pelo Oriente Médio e pelos árabes, afegãos, paquistaneses, persas-iranianos, e sobre o Islã e seus fiéis, os muçulmanos - fossem eles radicais ou não -, era, digamos, periférico. Não falo de acadêmicos, escritores, historiadores, jornalistas de cobertura internacional. Falo de nós, comuns mortais, minimamente curiosos e que nos limitávamos a acompanhar pelo jornais as guerras entre Israel e os árabes, os conflitos no Líbano contra judeus e contra sírios, a guerra no Golfo em 1991, os sofrimentos dos refugiados muçulmanos na África e depois o dos cristãos (pois a situação se inverteu em alguns países). Poucos se questionavam sobre aquilo tudo.
Até o 11/9, muitas pessoas que conheço (inclusive eu, admito) achavam que todo o árabe era um muçulmano, e pior, um islamita radical. Mas esse interesse periférico, quase despojado, mudou a partir da queda ds torres do World Trade Center. Agora prestamos (falo por mim) mais atenção no que acontece com esses povos, desde que outras tragédias se instalaram no Afeganistão, a partir de 2001, e no Iraque, em 2003 (como se os povos desses dois países já não estivessem marcados pelo sofrimento imposto ou por seu ditador de plantão ou pelas frequentes ocupações estrangeiras, caso do Afeganistão).
Tudo isso para falar num livro fundamental para quem quer entender um pouco mais a alma desses povos e, principalmente, como foi arquitetado o pensamento radical islâmico a partir dos anos 50, e o que levou alguns grupos islamitas a acharem que o terrorismo seria a solução e levaria à negação do Ocidente (leia-se Estados Unidos e Europa, principalmente), surpreendendo até mesmo Alá.
Trata-se de O Vulto das Torres (The Looming Towers), de Lawrence Wright, um trabalho jornalístico primoroso que consumiu mais de três anos do tempo do autor, uma equipe de entrevistadores, centenas de fontes do Oriente e do Ocidente (sete páginas do livro são dedicadas só às pessoas entrevistadas), além de dezenas de livros consultados (dez páginas com a relação dessas fontes de referência) e inúmeras viagens de Wright para checar as informações. Enfim, ali está um trabalho robusto sobre a história do Islã moderno e seus extremistas, desde o seu mentor e primeiro mártir do movimento islamita radical, o egípcio Sayyid Qutb (morto em 1966), até os novos tempos, com a formação da Al Qaeda e seu líder saudita Osama Bin Laden e um dos seus mais próximos colaboradores, o poderoso intelectual egípcio Ayman Muhammad al-Zawahiri, emir da temida Jihad Islâmica Egípcia. Ele, junto com bin Laden, é um dos terroristas mais procurados pela CIA e FBI.
Devido ao incansável trabalho de investigação, o livro de Wright serve de referência para quem precisa explicar e entender um pouco da história do Islã moderno e do por que dos muçulmanos radicais odiarem tanto o Ocidente. Depois de ler o livro, passei a ver com outros olhos todas esses acontecimentos no Oriente Médio, por que eles morrem em martírio e matam crianças inocentes e mulheres em atentados terroristas (inclusive entre eles mesmos), mesmo com o Alcorão não permitindo assassinatos nem suicídios. Passamos a entender um pouco mais dos meandros da tomada de poder dos Talibãs no Afeganistão e como aquele país consegue sobreviver (se é que consegue) a tantas guerras e invasões, embora a gente saiba que são eles, os afegãos, além dos iraquianos, representantes dos maiores contingentes de refugiados no mundo. A obra ilumina fatos obscuros e que até há pouco tempo eram desconhecidos até mesmo de muitas autoridades. Inclusive coloca o dedo na ferida da política de espionagem norte-americana, já que a CIA, segundo Wright, já tinha informações sobre a presença dos membros da Al Qaeda nos Estados Unidos meses antes de as torres serem explodidas e impediu o FBI a ter acesso a esses nomes.
São 505 páginas lidas com sofreguidão e paixão ao mesmo tempo. Não só pelos fatos históricos e assombrosos ali revelados, mas também pelo estilo narrativo e romanceado do livro. Não foi à toa que o autor ganhou o prêmio Pulitzer 2007 de não-ficção pela obra. Vale cada linha!
E o melhor é que Lawrence Wright estará na Festa Literária de Paraty (FLIP) deste ano. E eu, fã de carteirinha de todos aqueles ótimos escritores participantes, estarei lá para conferir o que ele e os outros têm mais a nos dizer.