quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ainda Madonna?

Será que eu virei uma preguiçosa, ou estou ficando velha? Ou será que por ter visto um show dela há 15 anos, eu tenha a impressão de que já vi todos? Madonna, apesar de estrela - e bota estrela nisso, no bom e no mau sentido - e de ter arrebatado milhões de pessoas nesses últimos 20 anos nunca me fez vibrar de verdade com suas canções. Confesso aqui, para mim mesma, e que ninguém me leia ou me ouça, que nunca soube cantarolar mais do que três frases de algumas de suas mais famosas canções. Pior, agora eu não saberia identificar mais nenhuma música da diva.
Ai, como você é antiga Barbara!
Mas a falta de entusiasmo é só com a Madonna de hoje. Espero. Lembro que eu estava louquinha para ver o U2 há dois anos e não consegui ingressos. E já não era nenhuma garota quando os vi em São Paulo há 10 anos. Stones, Paul McCartney, Sting, Madonna, Michael Jackson, todos entraram na minha lista de shows frequentados. Sempre gostei desses grandes espetáculos, das coreografias, do movimento, de encontrar as pessoas, tudo me faz sentir viva. E agora estou me programando para ver o Radiohead. Ou seja, não sou tão preguiçosa nem estou tão desconectada. No máximo, vintage.

Desejos da Érika


Vou reproduzir aqui um selinho de uma brincadeirinha enviada por uma querida amiga, a Erika Riedel, cujo blog http://terceirosinal.zip.net/ é uma delícia e recomendo a todos que amam o teatro. Prometo que tentarei participar, assim que terminar as matérias de fim de ano para o jornal e antes de embarcar para umas rápidas férias. Amiga, devo te dizer que não faço mais listas de fim de ano e que vou aproveitar os seus desejos. hehehe

"'Fui convidada pela Laura(Blog da Laura Fuentes) para uma brincadeira que está rodando o mundo. É um meme bem legal, dividido em três partes:

1ª parte: fazer uma lista de 8 desejos. Aqui estão os meus:

1º) Que cada ser humano cuide e se ocupe da sua própria vida;
2º) Que as mentiras criem braços e estrangulem seus autores;
3º) Que a inveja mate;
4º) Que a solidariedade se multiplique pelo universo;
5º) Que o amor seja possível para todos;
6º) Que o dinheiro sirva para melhorar e não estragar vidas;
7º) Que a felicidade seja uma espécie de chuva e caia sobre nossas cabeças;
8º) Que a fé nos acompanhe, sempre.


2ª parte: convidar oito blogueiros para continuar a brincadeira, comunicando-os do convite via posts em seus blogs. São eles:

Ivam Cabral
Astier Basílio
Blog da Anninha
Blog da Ale Staut
Blog da Pedrita
Blog do Alberto Guzik
Blog da Cleo de Páris
Blog da Barbara

Torcer para que meus convidados aceitem a brincadeira.

3ª parte: Comentar no blog que me convidou (já comentei), e orientar os convidados a publicarem o selinho da brincadeira, que está aqui no alto."'



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Verão


Em Porto Alegre o verão deu as caras prá valer. Hoje deve estar uns 35 graus lá fora. Adoro, mas por pouco tempo. Além do calor, a umidade aqui é espessa. Quando saí de um ambiente refrigerado hoje de manhã e cheguei à rua, tive a sensação de poder cortar com a faca ou pegar com as mãos esse excesso de umidade do ar. Acho que Manaus tem um clima parecido, só que lá é o ano inteiro. Aqui, pelo menos, são só três meses. Depois, o frio é de matar. Terra de contrastes. Mas no sul o horário de verão faz a diferença. Ontem, o sol se pôs quase 9 horas da noite. Olhei no relógio, eram 8h50. Em São Paulo não sentimos muita essa vantagem do horário novo. SP, por ter um céu eternamente nublado ( poucas vezes vimos o céu azul), uma poluição constante no ar e ficar na região sudeste (quanto mais ao sul, mais longos os dias), começa a escurecer às 19h30 (18h30, na verdade). Isso não vale! Sinto muita falta dessa luz de Porto Alegre e de Florianópolis, do céu azul sem nuvens e que nos dá uma sensação de sermos acariciados eternamente.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Recomeço

As casas desabaram e foram soterradas, as ruas e avenidas sumiram do mapa. Supermercados alagados. As escolas que conseguiram ficar de pé estão lotadas de familias desoladas e que perderam tudo, familiares e amigos, o lar, os móveis e roupas, o emprego, seus animais, a própria cidade. Santa Catarina não sabe quanto tempo levará para se recuperar.
Vejo agora que seu João, uma dessas pessoas a quem não restou quase nada na vida, manteve o seu emprego. Ele retomou sua atividade de cuidar do jardim da escola onde trabalha, nem que seja só para remover parte do barro que toma conta do pátio. Flores? Nem pensar. Seu João precisa fazer "alguma coisa", para não pensar nas perdas. Pegar a pá e fazer de conta que está cuidando do jardim.
Foi uma primavera negra para os moradores de Santa Catarina. A estação das flores não teve a chance de mostrar seu esplendor e nem de sobreviver neste ano porque choveu três meses (quase sem parar) na região do leste e em parte do oeste catarinense. Então, seu João vai retomando aos poucos a sua vidinha como jardineiro. Senão vai enlouquecer. Como muitas pessoas que estão à espera de que "alguma coisa" boa aconteça a elas. Seu João perdeu quase tudo sim (a casa, os móveis, familiares), mas se consola ao dizer que, pelo menos, lhe restaram o trabalho, o gato e o cachorro. E com isso, ele terá forças para recomeçar.

É emocionante a solidariedade dos brasileiros com os desabrigados catarinenses. Não me lembro de ter visto tanta gente se movimentando para uma causa tão justa. Simplesmente maravilhoso.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tragédia

sábado, 15 de novembro de 2008

Allen em Barcelona

Um passeio turístico e romântico por Barcelona e Oviedo no verão, regado a muito vinho, imagens de Gaudí, ótimos diálogos, um pouco de sexo, humor e atores talentosos (e lindos) como Javier Bardem e Penélope Cruz, foi a fórmula apresentada por Woody Allen em Vicky Cristina Barcelona. É mais um de seus filmes rodados na Europa - apaixonada pelo diretor - resgatando um pouco do frescor de seus filmes mais antigos. O roteiro parece meio bobo, meio clichê, envolvendo triângulos amorosos e situações em que o caliente sangue espanhol e a paixão latina dão de dez no convencional e entendiante american way of life (or marriage). Tudo de propósito, claro. Allen não é bobo. E, o mais engraçado, é que quase tudo (ou tudo) que acontece ali não é fruto só de mera ficção ou fantasia. A loucura e o ciúmes da personagem de Penélope Cruz, ex mulher do belo Juan Antonio (Bardem); a proposta dele às duas americanas (de levá-las para a cama depois de um passeio romântico por Oviedo), ou o modo que duas mulheres apaixonadas pelo mesmo homem encontraram para viver essa paixão a três. Isso existe mesmo, e se for levado à tela com humor e umas pinceladas de tragédia, com atores talentosos, dirigido por um mestre, numa cidade linda, fica melhor ainda.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

REALIDADE

Achei essa noticia no site da Folha e resolvi postar aqui para que algum retardatário possa ler. A realidade é tão mais interessante do que a ficção.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u466182.shtml

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Change


Barack Obama eleito ! Ele é o cara! Ainda bem que estou viva para testemunhar esse fato. Yes HE CAN CHANGE. Me deu uma vontade imensa de estar lá nos Estados Unidos agora, trabalhando e festejando.

domingo, 2 de novembro de 2008

Obama

Cristãos, judeus, islamitas, budistas, xintoístas, pagãos do mundo todo, é hora de rezar. Rezar pela vitória de Obama nesta na terça-feira. Porque não vai ser fácil. O sistema eleitoral daquele País é complicado, aquelas urnas velhas, muitas descalibradas, estão trocando votos, e parece que a maioria da população vai ter mesmo de votar em cédulas de papel (nisso, damos um banho neles). Lá, o voto não é obrigatório, e os republicanos, os conservadores rednecks, seguidores de Sarah Palin - a caipira pit bull -, os cubanos exilados, os mexicanos ricos, os aposentados jogadores de golfe da Flórida, os portadores de armas de fogo da costa leste à oeste, os skin heads, os cowboys do meio-oeste, os americanos de meia idade comedores de McDonalds, todos eles acordam cedo para arrastar seus corpos imensos até os locais de votação e confirmar o nome do herói de guerra, um senhor já passado da idade, e que faria melhor se continuasse no congresso votando as leis de imigração e a libertação de alguns presos inocentes em Guantánamo.
Chega de cometer erros. O mundo deseja e grita por Obama, um mulato cosmopolita, filho de pai queniano, mãe americana, padrasto indonésio, criado no Havaí pela avó, com carreira brilhante como advogado em Chicago e militante de causas sociais. Engraçado que o slogan da sua campanha YES WE CAN - CHANGE é tudo o que nós queremos também. Náo só para os EUA, mas para o resto do mundo.
Confesso que tenho um pouco de medo desse tom messiânico imposto à campanha de Obama e da imagem daquelas milhares de pessoas seguindo seu Messias à espera de um milagre, como se ele fosse resolver todos os problemas da nação. Não será simples, a gente sabe. Mas, ele primeiro precisa vencer, instalando a esperança numa nação arrebatada pelo medo e paranóia há oito anos. A partir daí, ele poderá recomeçar a criar um país um pouco mais justo, falar menos de terrorismo e mais de paz. Porque é disso que o mundo precisa.

domingo, 26 de outubro de 2008

Irmãos Coen




Pensei que os irmãos Coen não teriam gás para fazer algo tão criativo num intervalo tão curto. Afinal, só passou um ano do lançamento de Onde os fracos não têm vez, tão bom que ganhou 4 Oscars em 2008. Ainda bem que estava errada. Os caras se superaram com Queime depois de ler (Burn After Reading), uma comédia de humor negro com um roteiro absurdo (escrito por eles, claro), envolvendo espionagem, CIA, traição, sexo, dois paspalhões de uma academia atrás de uma grana extra, e muito, muito humor. Minha semana foi salva com esse filme. Fazia tempo que não gargalhava tanto numa sessão de cinema. Eu e a platéia toda. As situações criadas pelos Coen evoluem numa sucessão de fatos tão non sense que o público pensa: isso não vai dar certo!! E, é claro, tudo vira uma grande confusão no final. (Me lembrei do Woody Allen em seus melhores momentos). O elenco, este parece que foi especialmente criado para o roteiro dos Coen. Incrível, não tem ninguém ruim ali. Brad Pitt e George Clooney estão hilários, combinando trejeitos e um figurino de nos fazer rir só de olhar para eles. A Francis McDormand - como sempre - está no seu habitat natural, faz os filmes de seu marido e cunhado com os pés nas costas. Se os irmãos Coen fizessem um filme desses por mês, o mundo estaria salvo! E a humanidade mais leve.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Il Divo

"Il Divo" é um dos inúmeros apelidos conhecidos do ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, líder dos democratas-cristãos e que governou a Itália por três mandatos (de 1972 a 1992). O filme com o mesmo nome, dirigido por Paolo Sorrentino, é puro cinema e um dos destaques da Mostra Internacional de São Paulo. Difícil encontrar uma obra de arte no meio de 400 títulos nacionais e internacionais competindo em horários e salas diferentes durante 15 dias. Uma maratona que cansa, estressa e que, neste ano, não me envolveu muito. Cheguei na sala 1 do Artepelxe atrasada (mais de 10 minutos), fui obrigada a sentar na primeira fila porque o cinema estava lotado e os frequentadores da Mostra nao têm muita paciência com quem chega atrasado, comendo e fazendo barulho (eu só estava atrasada). Não levava muita fé num filme autobiográfico de um político democrata-cristão, que dormia como se estivesse espichado dentro de um caixão (morto), jamais esboçava sorrisos, estava sempre com as mãos cruzadas na frente ou nas costas, falava pouco, rezava antes de jantar, mantinha laços de amizade com bispos, padres e até com o papa e se irritava (do seu jeito, só com um tique com as mãos) quando o interlocutor falava coisas banais ou pouco inteligentes. Um sujeito difícil, de poucas palavras. Uma pessoa soturna, impregnada daquela solidão que só o poder presenteia, e ainda com suspeitas de ter tido envolvimento com a máfia italiana (essa é a razão da cinebiografia).
E Sorrentino conseguiu, com esse tema e personagem central, fazer um belíssimo filme, em que ator (Toni Servillo, fantástico), direção, roteiro e música (e que trilha!) casam perfeitamente formando um conjunto harmonioso da sétima arte!

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Na fila para assistir Palermo Shooting, de Wim Wenders (com direito a um bate-papo com ele no final da sessão), pude ouvir essa pérola:
- Você acha que o Carlos virá?
- Que Carlos? o cinéfilo?
- Sim.
- O Carlos não vê nada da Mostra. Ele acha tudo muito burgues.

Me mate logo, como dizia uma amigo meu baiano....!!!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sem tempo...

domingo, 5 de outubro de 2008

Riqueza

Sempre fui fã de Warren Buffet. O bilionário avaliado em 50 bilhões de dólares, com grande criatividade para ganhar dinheiro e aplicá-lo, mas sem deixar de ser generoso na hora de distribuir essa riqueza. Na coluna de Élio Gaspari de hoje, na Folha, fiquei sabendo mais um pouco sobre esse ricaço simpático, com a cara de meu avô (que pena que não é!), que já doou US$ 40 billhões para organizações filantrópicas. Além de ser um dos executivos com menores salários anuais entre os CEOs das 200 maiores empresas americanas e viver de forma simples numa cidadezinha do interior de Nebraska, o que chama a atenção em Buffet, esse homem de hábitos comuns e nada excêntricos, são as apostas quase "banais"feitas por ele para manter sua fortuna. Ele investe em itens que o ser humano não abre mão, mesmo em época de crise. Dois deles: Comida e lâminas de barbear.
As crianças africanas - beneficiárias de boa parte de sua fortuna, junto com a de Bill Gates - agradecem. Talvez a humanidade ainda tenha salvação. É bom ter gente criativa para ganhar dinheiro. Melhor, ainda, se a criatividade for usada para distribuir essa riqueza.
A íntegra da coluna está em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0510200810.htm

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Era digital

Cena 1
Um bando de gente - homens e mulheres jovens, na faixa dos 25 aos 35, cheios de vitalidade, com crachás inteligentes pendurados no pescoço e vestidos de forma informal, - aguarda na frente de uma larga porta fechada de um teatro que se abrirá exatamente às 14h. Faltam cinco minutos e o porteiro, do tamanho de um armário, não deixa ninguém passar. A ansiedade vai tomando conta das pessoas, o burburinho cresce. Penso que uma expectativa semelhante poderia se esperar de um show da Madonna, embora não fosse entretenimento o que nos aguardava atrás daquela porta. Às 14h10, finalmente, o porteiro abre o recinto e começa a ler os crachás com seu coletor de dados infrared. Um público impaciente se joga nas cadeiras, aliviado.
Cena 2
O teatro é o auditório do Centro de Convenções do World Trade Center, lá na marginal Pinheiros, em São Paulo. As pessoas que aguardam o "show" para dali a alguns minutos são gerentes de TI, marqueteiros digitais, criadores de conteúdos móveis, desenvolvedores de sites para a Web, jornalistas especializados em tecnologia. Uma nova geração. Estavam ali para ver e ouvir um alto executivo do Yahoo! fazer suas previsões sobre os rumos da Web 2.0 na tela móvel. De repente, noto um movimento único e curioso, e perfeitamente apropriado para o tema em questão. As pessoas ligam seus laptops, seus ultra portáteis , seus smartphones e celulares bacanas e começam a checar e-mails, acessar a internet, escrever no blog, mandar SMS, entrar em programinhas de chats, checar planilhas.
O palestrante ilustre sobe ao palco para começar a palestra e é aplaudido. Mas, essas mesmas pessoas que recebem o convidado não desgrudam os olhos de suas telas iluminadas na escuridão e, sem a menor cerimônia, continuam suas tarefas iniciadas minutos atrás.
E eu me pergunto: aquela ansiedade demonstrada antes da abertura das portas do teatro/auditório seria mesmo para ver o executivo do Yahoo? Ou era uma simples demonstração da angústia da nova era, a de não conseguirmos abrir mão de algumas horas do nosso precioso tempo para desfrutar o momento, sem precisarmos ficar checando e-mails, entrando em redes de relacionamento virtual, conectando pessoas do outro lado da linha, mandando SMS para o colega de trabalho, lendo as notícias, acessando sites favoritos. Será que não podemos simplesmente parar e ouvir?
Ai que preguiça!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

aos 60

Chegar aos 60 com saúde, vigor físico para continuar trabalhando, um pouco de dinheiro no bolso para a diversão e viagens, e tesão para o que der e vier nesta vida (inclusive para o velho e bom sexo) é uma dádiva. No Brasil, onde os sistemas de previdência social e de saúde pública não são exatamente um primor, é uma sorte chegar lá carregando essa bagagem. Quem puder pagar uma aposentadoria privada e um convênio particular se habilita a um futuro mais garantido. Teoricamente, pelo menos. Mas, presentes de grego estão sempre à espreita nesses aniverários redondos, quando estamos prontos a permear mais uma década.
Um conhecido meu acaba de completar 60 anos. Junto com as velinhas, o bolo, novos cabelos brancos, algumas ruguinhas extras e a alegria de estar saudável e em plena forma, ele recebeu um presente especial, embalado cuidadosamente dentro de um envelope branco e colocado debaixo da porta. O remetente era seu plano de saúde. A notícia, que coincidiu com o aniversário, não era das melhores e nem menos apropriada para uma data tão festiva. Era um comunicado sobre o aumento do seu convênio médico: nada menos de 140% para os próximos 10 anos! Uma praxe dessas seguradoras, aliás, levando em consideração que ao atingir a terceira idade você forçosamente será uma pessoa decrépita, doente, queixosa da vida, e dando muito trabalho aos seus familiares ou amigos mais jovens, tomando remédio para depressão, se enchendo de bolas para dormir.
É essa a idéia que essas empresas sanguessugas fazem de um sessentão? Pois conheço muita gente em plena atividade com mais de 60. Estão trabalhando muito, fazendo academia, viajando, escrevendo, atuando, correndo, fazendo um check up por ano, sem gastar o precioso dinheiro dos seguros (que é nosso, afinal) com médicos ou exames sistemáticos. O fato de passarmos de uma década para outra não deve ser motivo de tristeza e sim de regozijo. É momento de comemorar e não de chorar. Mas eles não deixam!!!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

como ser zen?




A cidade mantém um ronco surdo e constante ao fundo. São os carros, os motores das obras, os caminhões de entulhos, o barulho das motos, tudo se junta para formar esse ronco uníssono que nunca cessa. Sem falar das sirenes, das buzinas, das freadas bruscas. O ar é pesado, meus olhos ardem e a cabeça dói. O inverno paulistano tem temperaturas acima de 30 graus, sufoca e nos mantém meio inertes e com uma sensação de torpor. Me lembro do verão de Porto Alegre, insuportavelmente quente e úmido. Aqui é tudo seco. A umidade do sul ficou para trás (isso é bom). Ladeiras íngremes, calçadas largas, muita gente na rua caminha apressadamente. Parece que todos estão atrasados para chegar a algum lugar. E devem estar mesmo. Celulares tocando a cada dois metros na minha frente, do meu lado, atrás de mim, na rua, nos elevadores, nas salas de espera, dentro dos carros. Musiquinhas irritantes sem dar trégua aos ouvidos mais sensíveis. Restaurantes lotados e comida meia-boca. Barulho, todos querem falar ao mesmo tempo e mais alto para serem ouvidos. Filas para entrar, filas para sair, filas no banco, filas no cinema, filas no metrô. Ninguém te deixa sair do trem, te atropelam antes. Ou você empurra e dá uma de mal educada, ou é empurrada porta adentro de novo. Metrôs de grandes cidades cosmopolitas não precisam ser assim. Em Nova York, Londres, Paris, Tóquio, onde os trens também são congestionados nas horas de pico, as pessoas te dão uma chance para descer ou subir, sem grandes atropelos. É só uma questão de educação.
Enfim, esse é o ritmo e o estresse de São Paulo. É preciso ser zen para sobreviver ao caos.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Rapidinho no Santa Luzia

Hoje fui no Santa Luzia, ali na Alameda Lorena, nos Jardins, um dos mais requintados supermercados de São Paulo (acho até que é o melhor da cidade) e de deixar qualquer ser humano com água na boca, principalmente quando se chega antes do almoço ou do jantar (grave erro!). Quem mora ou já morou em Sáo Paulo sabe. Aquilo é uma perdição, das brabas! Vontade de levar tudo para casa. A seção de frutas e verduras é um espanto. Tudo embaladinho, bonitinho, fresquinho, com brotos de alface, alfafa, rúcula.... Os pães são tantos, de todos os jeitos e grãos e massas. Adoro. A área dos queijos, meu Deus me dê forças para resistir. Não posso mais comer gordura em demasia, mas aqueles queijos são de enlouquecer até mesmo pessoas com restrições alimentares. Nada a dever para o Bon Marché de Montparnasse. Aqui, pelo menos, se paga em reais e não em euros. Passei rapidamente pela parte dos chocolates e vinhos, muito rapidamente, lógico.
Uma checada rápida na nota fiscal, guardada aqui no gancho das compras para que eu controle minhas despesas diárias, me dá uma noção de até onde posso ir, mesmo estando no Santa Luzia:
1)duas quiches minis (pequeninhas mesmo) de alcachofra e de salmão: R$ 10,20;
2) pão baguette pequeno (crocante por fora e macio por dentro, da padaria própria do supermercado: R$ 1,90 cada
3)iogurte Activia (4 unidades) : R$ 4,80
4) metade de um melão orange (delícia): R$ 3,89
5) uma caixinha de morangos hidropônicos: R$ 3,85
6) um vidrinho pequeno de vinagre de estragão (dos mais baratos): R$ 4,50
7) alface mimosa hidropônica: R$ 1,75

Se eu continuar assim, tudo bem...Mas acho que não dura muito meu namoro só com o basiquinho.
Bem, quem vai determinar isso é o meu bolso. E ele já anda meio vazio com tantas despesas fora de casa. Nesse aspecto, saudades de Floripa.
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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Minúsculo


Não costumo falar de produtos aqui porque meu blog é uma espécie de terapia mental, já que escrevo sobre tecnologia todos os dias e o que menos quero é continuar o assunto quando já encerrei o expediente. Mas achei que valia a pena fazer um registro desse sistema de som/home theater, com player de CD, DVD, uma base para se colocar o iPod, um amplificador de quatro canais, seis caixas acústicas e um subwoofer. Tudo dentro dessa caixinha redonda. Ótimo para espaços pequenos. Foi lançado na feira de eletrônicos de Berlim, IFA 2008, nesta semana.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Pólis

Casa nova e provisória. Estranho morar num flat. Para tudo preciso chamar a portaria... Cubículo onde cabem minhas roupas, meus sapatos, meu notebook, alguma louça, um microondas, um fogão duas bocas, uma mini geladeira, uns livros e um tevê com TVA , portanto sem alguns de meus canais preferidos. Busco, e não acho, os meus seriados favoritos. A banda larga, pelo menos, me conecta com o resto do mundo. Me certifico de que o ser humano precisa, mesmo, de pouca coisa pra viver. É preciso refletir sobre isso.
De minha janela, a poucos metros daqui, vejo homens musculosos se exercitando na academia do hotel Renaissaince. Eles também me vêem, mas trabalhando. Visões diferentes entre São Paulo e Floripa. Lá fora o som das sirenes da polícia, das ambulâncias e buzinas de carros. É a pólis no estado bruto.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

saudades...

Refazendo os caminhos, passo a passo. A cada um revejo algo que daqui a pouco me deixará saudades. Saudades da Beira Mar, com seu mar de baía, coqueiros e vento, onde ando quase diariamente de manhã para pegar um pouco de cálcio; do céu azul até demais; do ar puro das montanhas em direção à Lagoa; do silêncio do meu escritório à tarde, onde crio meus textos e reinvento o inevitável trabalho rotineiro; do gorjear dos passarinhos me acordando de manhã na minha janela; do pôr-do-sol púrpura das 6 da tarde no inverno, e das 20h30 no verão; dos amigos, quase todos estrangeiros que adotaram Floripa como porto seguro e me fizeram esquecer um pouco a solidão; do café Pagano, um cantinho raro na ilha, com seus aromas importados de Minas; do restaurante Central, a melhor comida a quilo que experimentei em muitos anos, sob o comando da chef paulistana Kiki; da Videoteca, com seus gentis funcionários sempre procurando algum filme "diferente" para mim; da tranqüilidade de se andar por aí, nas ruas do centro, mesmo com a bolsa levando dinheiro (às vezes acontece de ter dinheiro ...) e cartões de crédito; o preço barato das manicures; da falta de trânsito pesado nas ruas, com um rush de no máximo 30 minutos no fim de tarde; das minhas caminhadas lendo o jornal e sem tropeçar em ninguém e nem em postes porque as calçadas são planas e uniformes; das aulas de Pilates - que freqüento há um ano - e, por fim, mas não menos importante, do meu querido Gabriel. Das conversas com o pequeno; das tardes que passamos juntos; dos desenhos criados com suas mãozinhas e sua mente brilhante e dedicados a mim, sempre com amor; das histórias que preciso contar a ele antes de dormir, geralmente com algum toque de mistério, porque ele se diverte ao sentir medo; da vozinha dele no telefone perguntando se eu estou muito ocupada e se ele pode vir aqui em casa pra gente brincar um pouco ou dar um passeio; da letrinha dele no caderno fazendo a lição de casa e, quando cansa, disfarça dizendo que precisa se "espichar" um pouco. Realmente, eu vou sentir MUITA falta dele. Meu coração fica pequeno só de lembrar. Mas, não se pode ter tudo na vida. Ou a gente fica ou a gente parte. E eu decidi partir.

sábado, 16 de agosto de 2008

Atletas

Achei que neste ano, por ser uma Olimpíada na China e também por causa do fuso horário, eu ficaria meio indiferente aos jogos. Que nada. Minha frieza durou pouco, uns dois dias, eu acho. Acabei me viciando. Não, eu não acordo cedinho para ver a seleção de futebol do Brasil jogar com Camarões num sábado, quando posso dormir até mais tarde. Ainda não enlouqueci. Mas na sexta à noite fiquei até altas horas vendo e revendo o choro do Cesar Cielo - um menino determinado, disse que ia ganhar o ouro nos 50m, foi lá e ganhou. Sorte dele o peixe-homem com asas nos pés Michael Phelps não disputar essa prova...senão não teria para ninguém. Impressionante esse Phelps. Não parece humano. Como uma pessoa, gente de carne e osso como eu, pode ser tão perfeita dentro da água e sem ser peixe? Me dá até medo. Mas não podemos ignorar, o cara está escrevendo a história, eu acho.
Depois da emoção de ver o Cielo, garoto bonito, simpático e um pouco chorão, estava hoje, sábado, às 11h30, grudada na tevê vendo o vôlei brasileiro dar show sobre os poloneses (sempre é um prazer ver o nosso vôlei); o sufoco de Emanuel e Ricardo para vencer os russos no vôlei de praia (e russo entende de praia??) e depois, a grande prova dos 100 metros rasos, com o velocista jamaicano Usain Bolt batendo aquele recorde incrível de 9s69. Fiquei paralisada!
Nas madrugadas também fiquei ligada com as ginastas, e no que elas são capazes de fazer naquelas barras e traves. Uma americana baixinha dançava na trave de alguns centímetros de largura como se estivesse numa pista de baile! Sem nenhum resquício de insegurança no olhar. Ela estava ali para mostrar ao mundo que a trave lhe pertencia, ou era uma extensão de seu corpo. Incrível! Mas fiquei preocupada com a Jade Barbosa, nossa ginasta, tinha um rosto triste em todas as competições, parecia que ia explodir no choro a qualquer hora. Ela é uma ótima ginasta, mas me pareceu meio insegura. Coisa que as chinesas, americanas, russas e romenas não demonstravam, nem em seus piores momentos, nem quando duas delas caíram da trave. O que acontece com alguns de nossos atletas? Temos de exorcizar essa pecha de coitadinhos. Afinal, se eles estão numa Olimpíada é porque são bons e merecem estar lá. Se o Brasil vai mal nas medalhas comparado aos países campeões (sempre os mesmos) é porque lá rola muito dinheiro, muito treino, muito apoio oficial e extra-oficial, muito incentivo desde a escola primária, muita disciplina e muita motivação. Quando vamos chegar lá? Bom, vou continuar torcendo para os nossos ginastas nesta madrugada. E ainda faltam cinco dias para acabar. Estou tão exausta quanto eles.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mudança

Empacotando, encaixotando, packing. Mudança chegando. Não tenho tempo nem para trabalhar, quanto mais para escrever em blog. Que pena! mas vejo você em breve ou assim que tiver alguma idéia fora destas que mantenho em minha mente: onde vou morar? como vai ser ? será que conseguirei um apartamento, um espaço? Minhas coisas ficarão aqui num guarda-móveis. Irei com a roupa e o computador, meu ganha-pão. Nada mais provisório. A vida é assim mesmo. Tão instantânea e volátil Se é para ser assim, então, será! Tudo por causa da economia bombando. A classe C e B estão no paraíso? Finalmente chegamos aonde sempre queríamos! Enfim, tudo faz parte da aventura. Parto para o desafio oculto. Que ele me seja leve e que São Paulo me receba, no mínimo, sorridente. Porque seus braços ainda não se abriram.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Samba? eu?

Alguém acha que me viu no sábado à noite, num lugar chamado Ginga Bar, na beira da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, com mais quatro amigos, escutando uma banda tocando sambão até quase 3h da manhã, com um copo de cerveja na mão e, de vez em quando, timidamente, dando uma mexida de ombros tentando acompanhar o ritmo, super desajeitada, e com cara de quem se pergunta: O QUE EU ESTOUFAZENDO AQUI?? Pode crer, era euzinha mesmo. Apesar de ficar de costas para a pista (estratégia adotada para não ser reconhecida?) e para o público, podia ver o balcão do bar, a movimentação dos garçons, as portas dos banheiros e a cara de alegria de meus amigos sambistas. Foi uma experiência, como diria, antropológica? sociológica? Mas nada lógica para mim. Enfim, precisamos ser ecléticos e aderir ao que a maioria pede. E ela pediu o samba e tivemos samba! Para não ser uma estraga-prazer eu fiquei até o fim. E até que não doeu porque, de vez em quando, os músicos tiravam da cartola seus melhores coelhos: Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, música para meus ouvidos. Mas, definitivamente, não é a minha praia... Da próxima vez, eu passo.

domingo, 3 de agosto de 2008

2%

Acho que perdi alguma coisa, talvez a noção da realidade ou do país em que vivo.
Nestas terras descobertas por índios e por Cabral, mais de 30% da população vive abaixo da linha da pobreza (salário de até R$ 125 mensais), e, embora tenhamos melhorado muito nos parâmetros da educação, saúde e riqueza, ocupando a 70ª posição no tal IDH (índice de desenvolvimento humano, menos desconfortável do que há cinco anos), ainda temos um longo caminho a percorrer para nos considerarmos uma verdadeira nação, onde direitos dos cidadãos são respeitados, a violência e a barbárie deixem de ser uma manchete diária nos jornais e cada vez mais gente tenha direito ao trabalho, lazer, educação, saúde e dinheiro para viver com mais dignidade.
E é neste mesmo país que estamos constantando a existência de filas de milionários para a compra de jatinhos e barcos de milhões de reais, para só receberem a"mercadoria" em dois ou três anos (alguns modelos levariam até 10 anos para a entrega!), gente que aguarda há semanas numa fila de espera de uma bolsa Louis Vuitton (de R$ 3.500), Dior (de R$ 4 mil) ou vinhos Romanée-Conti, cujo valor da garrafa é o mesmo de um carro popular.
Mais. Um shopping inaugurado recentemente em São Paulo, na Marginal Pinheiros, também voltado para o consumidor com muita grana na mão, decidiu não fazer entrada para pedestres, justamente para restringir o acesso a quem não esteja de carro, ou sei lá que motivos levaram seus empreendedores a essa decisão. Tenho medo até de pensar. Eu já ouvi comentários de pessoas que chegaram caminhando (e não de carro) pela porta da frente da butique Daslú terem sido olhadas com desconfiança pelos seguranças.
Não tenho nada contra os ricos nem contra a riqueza, nao sou comunista e nem louca. Todo o mundo tem direito a ter o seu milhão. Só acho que alguma coisa está errada. A concentração de renda absurda em nosso país encastelou 2% de felizardos no cume da pirâmide social com todas regalias desejadas por um feliz mortal. Mas será que também está lhes dando poderes ao escárnio e a tirar o direito de ir e vir dos demais 98%?
Para uma nação cumprir seu papel verdadeiro não basta subir alguns pontos no índice IDH. É preciso saber não regredir.

terça-feira, 22 de julho de 2008

De Amor e Trevas

Terminei de ler há algum tempo, mas recomendo fortemente De Amor e Trevas, de Amós Oz. Um livro destinado a quem quer, se interessa ou precisa entender um pouco sobre a saga do povo judeu, sob o ponto de vista de um de seus orgulhosos descendentes. É uma autobiografia, com retoques romanceados, de um dos maiores escritores contemporâneos, narrada com prosa fluida, sensível e intensa sobre seus ancestrais russos e poloneses obrigados a encontrarem um destino incerto e árido na terra prometida, durante os horrores da segunda guerra mundial. A infância meio solitária do menino Amós Klausner foi cercada de livros e de gente adulta, severa mas muito erudita. O que o salvou da depressão foram os livros e o kibutz, eu acho.
É sempre bom ver o ponto de vista de um judeu pacifista sobre a questão milenar envolvendo seu povo e os palestinos. De Amor e Trevas, de Amós Oz, é uma obra perfeita para se começar a extirpar preconceitos anti-semitas e ainda presentes em muitos corações e mentes. O livro traz um número incansável de datas, eventos, nomes de familiares e gente ilustre de Israel, e se o leitor sublimar esse fato (eu gosto, mas tem gente que não) e deixar o glossário de significados de palavras e de alguns símbolos judaicos para ler no final, vai adorar.
Tive a felicidade de assistir ao debate entre Amós Oz e a escritora sul-africana Nadine Gordimer, durante a Festa Literária de 2007, em Paraty. Os dois autores falaram sobre o papel da literatura no resgate da humanidade permeada pela injustiça. Nada mais apropriado para os dias de hoje.

sábado, 19 de julho de 2008

Os freaks




O filme estreou ontem no Brasil. Eu já corri para vê-lo nesta sexta às 22h30. Saí do cinema depois da 1h da manhã, exausta por causa de um dia cheio, com excesso de trabalho, visitas em casa e noite mal dormida. Mas tive a sensação de que foi o melhor Batman de todos os já vistos na telona! Tá bom, teve a série do Tim Burton...é uma difícil escolha.

Mas Cristopher Nolan conseguiu uma densidade tão grande nos três personagens principais da história (Batman, Coringa e o promotor Dent/Duas Caras) que não tive dúvidas. Este é o melhor para mim. COnversei hoje de manhã com um menino da locadora onde alugo DVDs, ele é um estudioso de HQs e cinéfilo. Concordou comigo. "Sim, tem os do Tim Burton, mas e daí? Esse superou". Fiquei mais tranqüila, afinal não sou nenhuma especialista em histórias do homem-morcego e nem em HQs, mas gosto de cinema.

O peso de ser um herói anônimo - ou seria um vilão ao provocar mortes de inocentes às custas de sua identidade teimosamente secreta? - martiriza Bruce Wayne. Ele tem crises de consciência, está mais humano e até apaixonado (por Maggie Gyllenhaal, a juíza).
A personalidade satânica e teatral de Coringa, um freak cheio de humor e ironia, é a própria representação do mal e do caos. Impressiona. Heath Ledger, aliás, rouba a cena, é um ator sensacional com as melhores falas do filme. Sua atuação é carregada de simbolismo por causa da morte prematura. É estranho ver um vilão tão cruel, tão sagaz e tão vivo na pele de um ator já morto. E que grande ator Hollywood perdeu.
Aaron Eckhart, como o promotor Dent e depois Duas Caras, é uma das três melhores coisas do filme. Sua virada de bom moço apaixonado para a vilania carregada de rancor e desejo de vingança é um toque de mestre de Nolan.
Três freaks em evidência, três freaks em confronto, três freaks dando show.
É um filme para ser assistido com prazer, sem falar no elenco de apoio de primeira. Afinal, não é qualquer diretor que consegue Michael Caine, Morgan Freeman e Gary Oldman (sempre ótimo) como coadjuvantes. Depois da era Burton, começamos a era Nolan. Que venha o terceiro, embora seja árdua a tarefa de superar esse segundo Batman.

domingo, 13 de julho de 2008

Bye bye Floripa

Estou em processo de mudança. De Florianópolis para São Paulo. Retorno à metrópole, depois de quatro anos e meio morando numa ilha linda, ensolarada, de ar puro, céu azul, inverno ameno e pouco úmido para os padrões do lugar, sem violência, sem estresse, com distâncias curtas entre minha casa e o médico, o Pilates, o supermercado, o banco, o shopping, os amigos, o restaurante a quilo, os cinemas. Faço quase tudo a pé. Mas é uma cidade pequena demais para mim. Infelizmente, porque quando escolhi Floripa para morar, tinha este sonho de viver num lugar menor, com pouca gente na rua e onde todos se conhecem e se cumprimentam. Além disso, tinha
o mar, montanhas, ar limpo e era um lugar onde eu poderia sair sem medo e sem achar que havia um suspeito em cada esquina querendo me assaltar. Sempre sonhei com aquelas vilas do interior da França. Será que seria bom viver num lugar assim?
Eu estava meio estressada em São Paulo em 2003, com todas aquelas pessoas esbarrando em mim quando eu saía de meu prédio, carros para todos os lados, trânsito infernal, poluição, barulho, calor no inverno e chuva demais no verão. Só queria ver o mar e viver num lugar em que pudesse desfrutar melhor meus dias, depois de 30 anos dentro de redação de jornais. Bom, depois desses 4 anos e meio, vi que não era bem assim. A cidade tem tudo o que acalentei em sonhos. Mas não guarda o essencial: vida. As ruas são vazias demais. À noite, são desertas. Uma vez saindo do cinema perto de minha casa, num sábado, lá pelas 22h, eu devo ter contado umas três pessoas andando pela minha rua nas nove quadras do percurso até meu prédio. Foi aí que entendi o real significado da palavra solidão. Achava São Paulo um lugar para solitários, e é mesmo, mas pelo menos lá existe gente na rua. Aqui, elas estão aonde? Não estão, porque é um lugar com 400 mil habitantes na sua região metropolitana, mas o centro da ilha, onde eu moro, deve abrigar uns 150 mil apenas. O resto se espalha pelo continente e pelas praias, a 20, 30, 40 km daqui. Portanto, se todos têm seus carros, eles não caminham, dirigem. Uma vez, estava num lugar chamado Lynwood, pertinho de Seattle, na costa oeste dos Estados Unidos, e tive sensação parecida. Não via pessoas na rua, elas estavam dentro dos carros ou dos shoppings. Eu caminhei quadras e quadras para arrumar um táxi ou tomar um ônibus para ir até a cidade, e perguntava nos postos de gasolina, nos cafés que, porventura encontrava, onde poderia tomar uma condução, e todos me olhavam como se eu fosse um ET, porque eu não estava de carro! Sensação estranha.
Além do fato de exorcizar essa idéia de querer morar em lugares pequenos e com aparente qualidade de vida (a qualidade e a vida nem sempre estão juntas), a melhor coisa que me aconteceu em Floripa foi ter convivido com o meu afilhado Gabriel nos melhores anos da infância dele: dos 3 aos 8 anos. É um amor recíproco. Nos amamos profundamente. Eu, ele e a família dele sabemos disso. Estamos tristes com a separação física, mas minha ausência ele vai superar rapidamente porque está entrando numa idade interessante, a pré-adolescência, e isso, sabemos, provoca outros interesses. Certamente eu sentirei mais falta dele. Também fiz bons amigos por aqui. Poucos, mas de qualidade, quase todos forasteiros como eu. Bye bye Floripa, agora só venho te visitar, e vilas francesas, essas nem pensar! Eu não me mudo mais para cidades com menos de 3 milhões de habitantes!
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E agora estou entrando naquele pique de encaixotar coisas. Isso é a parte chata.
Confesso que sinto inveja das pessoas que não vêem empecilhos em sair para uma nova casa, uma cidade nova, ou para um outro país. Daquelas cujo empacotamento de coisas pessoais é prazeroso, embora cansativo. E daqueles cujas mudanças anuais ou de dois em dois anos viram uma rotina, e elas nem ligam ou perdem o sono pensando no que levar, deixar, doar ou inutilizar. Para mim, isso ainda é um processo penoso. O bom é que vou despojada de quase tudo. Só levando meus livros, discos, roupas e o computador. Mochila semelhante levei para São Paulo, aos 30 e poucos anos, quando saí de Porto Alegre.
Só que aos 30 existia uma grande expectativa com a cidade grande, um futuro. Agora, aos 50 e poucos, o que eu carrego é o passado e as lembranças.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Soy Cuba

Sei que não é muito, mas é um número redondo. Completo hoje 100 posts nesse blog! A preguiça, a falta de inspiração e de tempo têm me impedido de ser mais assídua. Não prometo nada, mas juro que adoraria atualizar com mais frequência (a trema não entra, mas como ela vai acabar mesmo...) este espaço. Vou tentar...
Enquanto isto, para quem perdeu no cinema ou já ouviu falar e não prestou muita atenção, corra até as locadoras para alugar Soy Cuba, O Mamute Siberiano, documentário dirigido pelo brasileiro Vicente Ferraz (e bem comentado quando foi lançado no Brasil em 2006). O filme aborda a realização do antológico filme Soy Cuba, dirigido pelo soviético Mikhail Kalatozov para homenagear a revolução cubana que acabara e acontecer dois anos antes. O diretor liderou uma equipe de 200 pessoas - uma co-produção entre russos e o governo cubano - e levou 14 meses para rodar e finalizar a película. Há momentos antológicos, especialmente a primeira cena de um enterro de um estudante morto pelo governo de Fulgêncio Batista, uma das cenas mais longas já vistas nas telas e sem cortes, o que para a época e para as condições do país era uma epopéia. Em P&B, o filme evocado no documentário de Ferraz é filmado sob a lente poética de Kalatozov, mas obedecendo ao dogma do realismo soviético, com cenas longas, silenciosas, em meio tons (a iluminação é um assunto à parte). Me lembrei de Rosselini e Antonioni, mas também de Murnau.
O documentário (de 2005) buscou em Cuba e na Rússia as pessoas que participaram do filme, seus iluminadores, maquinistas, atores, câmeras (o diretor e o roteirista já morreram), mais de 40 anos depois. E o mais irônico é que quando o filme estreou, na época, não entusiasmou nem russos nem cubanos (as culturas eslava e caribenha não tinham nada a ver uma com a outra, era o argumento dos seus críticos). E não serviu nem como arma para propaganda da revolução fora dos trópicos e muito menos como obra de arte. Foi considerado enfadonho e longo demais. Bem, não vou contar tudo, senão perde a graça. O fato é que depois de guardado por mais de 30 anos nos arquivos do instituto de cinema de Cuba (ICAIC) foi descoberto por Martins Scorsese e por Francis Ford Coppola. Bom, aí vocês já imaginaram o que deve ter acontecido.

Van Gogh aos 7


"Na realidade, eu estou pensando em ser artista, tipo Van Gogh ou Picasso, então não importa se eu tirei 6 em matemática no mês passado. E a média era 5, eu ainda estou acima dela". Essa foi a frase que ouvi ontem de meu perspicaz e precoce afilhado Gabriel - fofo, maravilhoso, lindo e inteligente - de 7 anos, cuja grande paixão são os lápis de cor, as tintas, um bloco em branco, alguns pedaços de arames, fitas, papelão, cola e tudo o que possa ajudá-lo na armação de uma "obra de arte", atividade na qual ele se empenha com entusiasmo, sempre. Eu mesma já ganhei várias dessas "obras" e as guardo, claro, com o orgulho de madrinha. Estávamos preocupados - eu e os pais dele - com as notas recentes na escola, um 10 em artes, outro em criatividade, outro 10 em enriquecimento pessoal, 9 em ciências, mas apenas 6 em matemática e um português escrito ainda capenga, embora o falado seja perfeito e com um vocabulário riquíssimo. Agora, a tarefa e fazer com que o menino leia mais - tem vários livros - e, pelo menos no português, ele flua melhor na escrita, pois com pai e madrinha jornalistas não há frustração maior do que ver o pequeno tropeçando no L e no U (trocando letras) em algumas palavras.
Mas quando ouço ele me dizer coisas como: "adoro essa tesoura (de cozinha, para cortar aves), ela tem um desenho futurista que dá vontade de desenhar" , eu já sei que o futuro dele pode passar bem longe da redação de um jornal. Ainda bem. A arte o inspira, que o pequeno Gabriel siga os passos que a sua intuição e o talento lhe reservam no futuro, descobrindo não só Van Gogh, Picasso ou Monet, mas os nossos Iberê, Volpi, Malfatti, Aldemir Martins, Tarsila, Varejão, Tunga, Leonilson, Valtércio. Sem abandonar os números e as letras, claro.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Menos é mais

Estou numa fase do tipo "menos é mais". Sinal dos tempos. O mundo não precisa de mais gente consumista do que já tem, gastando energia à toa, usando aparelhos eletrônicos sofisticadíssimos, mas cujas funções só são usadas em seu modo básico (especialmente no caso de celulares, players musicais ou de vídeo, controles remotos cheio de botões que só nos confudem, etc. etc.). São produtos com um grau de obsolescência planejada e sem padronização, ou seja, quando sua vida útil acaba e eles param de funcionar não podem mais ser consertados porque surgiu uma outra novidade, ainda mais cara e cheia de recursos. "O padrão é outro". Neste caso, nos resta descartar aquele equipamento num lixão especializado em recolher esse tipo de mercadoria (louvo pessoas com essa preocupação, mas nem todas pensam assim). Estou preocupada, sim, com o tanto de lixo que produzimos em nossas casas (sacos plásticos, latas de alumínio, utensílios de cozinha que ficam eternamente no fundo das gavetas para jamais serem aproveitados, equipamentos inúteis). Não vou nem entrar na questão dos combustíveis, da queima do petróleo, das florestas, da falta de alimentos, do excesso de carros nas ruas porque as famílias têm mais de dois carros na garagem, das imensas casas abrigando três ou quatro pessoas no máximo, do excesso de controles remotos para diversos aparelhos.
Falo isso e lembro do Japão e dos Estados Unidos (e o Brasil não fica atrás), com sociedades consumistas ao extremo, embora tão distintas, e, infelizmente, arrastando consigo os agora ricos chineses. Só que os japoneses se suicidam quando devem muito ao banco, os norte-americanos renegociam seus créditos no cartão e continuam comprando. Acho tudo isso tão anacrônico, tão fora de moda, tão triste.
O antropólogo cubano Emílio Morán, morador dos Estados Unidos há 14 anos, também está assustado com o que vê por lá. Numa entrevista à Folha nesta semana, ele pediu para a população desligar a tevê, porque ela seria a culpada pelo excesso de consumo na sociedade ocidental. Diz ele: "O americano, na média, está todo endividado. A maioria paga apenas os juros. Cada um tem uns US$ 20 mil em dívidas só no cartão de crédito". Apenas para ter mais e mais. "No caso do mercado imobiliário, por exemplo, muitos fazem a segunda hipoteca [antes de quitar a primeira] para mudar para uma casa maior."
Bem, eu não vou desligar a tevê, até porque eu não vejo comerciais ! E também porque não sou uma pessoa que se comove facilmente com anúncios ou vitrines. Adoro olhar vitrines sim, e também não vou mentir e dizer que não gosto de comprar, ou que já não tenha caído em tentação ao adquirir roupas ou outras coisas cuja necessidade foram postas à prova e não passaram no primeiro teste. Mas isso passou. Meus ímpetos, que já eram minimalistas, diminuíram muito nesses últimos quatro ou cinco anos. Talvez seja a idade, já que aos 50 você quer mais é se livrar de coisas e não acumular, porque sua vida adquire outra dimensão, outro tipo de prioridade, outros valores. Talvez seja a preocupação com o excesso desnecessário (não preciso de cinco calças jeans quando posso viver com três, por exemplo, ou de cinco casacos de lã, quando as pessoas do Morro da Cruz estão passando frio, ou de um celular novo por ano, se o meu funcionar direito por quatro ou cinco anos). Não é uma idéia de hippie. É um conceito novo que começa a fazer parte do dia-a-dia das pessoas mais conscientes, e conheço muita gente adotando a mesma atitude, felizmente. Isso também na vida.
Livros, viagens, cinema, teatro e comida boa são os meus prazeres de consumo hoje em dia. Todos voláteis. Livros podem ser lidos e doados (eu os guardo), viagens você as usufrui e guarda na memória, assim como os filmes e as peças. E comida é um prazer momentâneo. Você come e depois, bem....arrota como os franceses? Acho que assim estarei causando menos desperdício e fazendo minha parte. Ah! Não posso esquecer da sacolinha ecológica (de pano) para ir ao supermercado, e sonho com o dia em que os sacos plásticos poluentes serão eliminados dos caixas. E só os orgânicos vingarão.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Morro da Providência

Deixa eu ver se entendi direito. Onze militares do Comando Militar do Leste, designados pelo Exército para fazerem a proteção dos moradores e dos operários do Morro da Providência, no Rio, entregaram três jovens para um grupo de bandidos na favela da Mineira, como se fosse um pacote, e esses garotos foram executados pela facção criminosa e atirados num aterro sanitário??
Eu acho que ainda não entendi. Insisto. O Exército estava lá no Morro da Providência porque o Ministério da Defesa enviou seus homens para executar e fiscalizar as obras de um projeto denominado Cimento Social, apoiado pelo Ministério das Cidades, para revitalizar fachadas de casas e telhados da favela? São esses mesmos homens, que estavam lá para proteger cidadãos e garantir o cumprimento do tal projeto, os co-autores do assassinato desses três jovens que, até onde se sabe, estavam saindo de um baile e a única arma que tinham no bolso era um celular?
Será que minha indignação me cegou ao ponto de não me deixar entender, com clareza, alguns fatos?
Até quando seremos obrigados a conviver com esse tipo de barbárie no Brasil, onde, a cada dia, um novo grupo de protagonistas se junta aos já existentes? A população favelada, como disse hoje o jornal Página 12, da Argentina, não sabe se tem mais medo dos traficantes e milícias civis ou dos uniformizados. Pobre de um país que convive diariamente com esse tipo de manchetes e nada faz para mudar a edição do dia seguinte...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Brrr

Saí agora para imprimir uma folhas num cibercafé (estou, temporariamente, na casa de minha mãe, em Porto Alegre) e juro que quase encaranguei. Encarangar = verbo gauchês com o mesmo significado de congelar ... Me dei conta, de novo, do quanto eu odeio o inverno. Para uma saidinha singela ali na esquina, eu precisei colocar duas meias de lã, calça de abrigo, duas blusas de lã, cachecol enrolado até o nariz, casacão e luvas! Ridícula. Lá fora sopra um vento forte, o tal ciclone extratropical (tropical?) inclemente, persistente e sem dó dos pobres gaúchos. Vejo árvores caídas nas calçadas, pessoas vergadas e encolhidas e quase sem poder andar, juntando forças para superar a ventania. Sofro, luto contra o frio e não me acostumo mais com isso. Preciso trabalhar parada, sentada, mas os meus dedos não obedecem mais aos meus comandos. Estão encarangados. Faz uns 3 graus lá fora e, com o vento, a sensação térmica é de 3 negativos, sei lá. Dizem que Porto Alegre é uma cidade de extremos, ou faz muito frio, como este de agora, ou muito calor, sufocante, com umidade chegando a 80%, pior que Manaus. Pois, apesar do desconforto do verão, prefiro o calorzinho a esse friozão insuportável. Até porque eu não tenho gordura acumulada, peso míseros 42 quilos, razão pela qual sinto mais frio do que uma pessoa normal. E esse vento me derruba. Quero ir embora daqui, urgente. Vou voltar na primavera.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Frutas

Eu sei que, com o advento do Google, não nos é mais permitido ter dúvidas. Eu tenho. O que são essas mulheres Melancia e Moranguinho???? Não entendi...

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O mundo anda pra trás?

Costumo ler o jornal de trás para frente, mania antiga. É claro que não sou louca e dou uma olhada antes na capa para ver se rola algo realmente muito interessante e que não tenha sido exaustivamente abordado pelos telejornais da noite anterior. Mas, não, com a internet e com as tevês, as notícias impressas soam tão antigas. Principalmente as manchetes políticas. Nossa! Como é chato ler política hoje no Brasil. Só há casos de corrupção, acordos para votação de impostos, CPIs-pizzas, PAC que não acelera, blábláblá. Por isso, meu assuntos preferidos são a cultura e as notícias internacionais. Estas, leio primeiro. Com exceção da recente cobertura das eleições americanas, que perderam a graça por conta da cabeça-dura da sra. Clinton, devoro quase tudo da seção Mundo. Corro as páginas de trás para frente. O mundo está ali diante de nós, com todas as suas mazelas, algumas muitas parecidas com as nossas, outras bem distantes da realidade tupiniquim. Os conflitos religiosos e étnicos na África, no Oriente, nos Balcãs. Vimos a fúria dos sérvios para melar a independência do Kosovo, lemos diariamente que o radicalismo islâmico cresce tal qual bolo com fermento, a rivalidade entre judeus, xiitas, sunitas, curdos, cristãos (por causa da religião ou por territórios), os palestinos sempre à espera de recoquistar seu pedaço de terra na Israel dividida, milhares de pessoas emigrando de seus países em busca de uma vida melhor na rica Europa, a mesma Europa querendo expulsar os imigrantes de seus domínios, por motivos econômicos ou demográficos (Itália e França, principalmente), ou, na melhor das hipóteses, exigindo seu aculturamento às leis e costumes locais (e que falem o inglês, francês ou espanhol, de preferência, sem sotaque...). A proibição das mulheres árabes de usarem o véu nas escolas (caso da França). Fico sabendo também porque o lixo está acumulado há meses em Nápoles, cuja máfia local é quem manda na situação, e que Hugo Chávez tentou, mas não conseguiu, vingar sua "brilhante" idéia de cobrar das emissoras privadas de televisão (e suas opositoras) a retransmissão de imagens geradas pela estatal VTV. Os ruralistas argentinos protestam contra os impostos sobre os seus grãos, fazem marchas e paralisam estradas há 80 dias. E o terremoto da China, cujo número de mortos ultrapassou a 70 mil, com milhares de crianças desaparecidas? Os pais chineses das províncias atingidas perderam o filho único com o desabamento das frágeis 7 mil salas de aula em Sichuan. Ah, sim, agora terão a liberdade de gerar outro filho, e mesmo que adotem crianças órfãs, poderão tentar outros descendentes de seu próprio sangue. Um gesto magnânimo do senhor Hu Jintao, sem dúvida. Como diz a Sharon Stone, será um karma pelo que fizeram com o Tibete? Comentário infeliz, sem dúvida, e, depois, o terremoto deve ter provocado só tremores leves no prédio do partido comunista, errando redondamente seu alvo. A tragédia do ciclone Nargis, em Mianmar, com 140 mil mortes, e a forma como o governo ditatorial barrou a ajuda externa e tentou calar a população desabrigada do sul do país dando-lhe meia dúzia de bambus para reconstruírem suas casinhas. É revoltante.

Entre essas notícias nada animadoras que preenchem as páginas internacionais dos jornais, uma me chamou mais a atenção nos últimos dias. Não só por tratar-se de um assunto curioso (e dramático), mas por acontecer em pleno século 21. É o movimento de uma subcasta indiana, os Gujjares. Ela é formada por trabalhadores rurais e inserida em uma casta maior, os Vaishyas (comerciantes, pequenos empresários, proprietários de terras, artistas). Estes só estão abaixo dos superiores Brâmanes (intelectuais, sacerdotes, sábios), no topo da pirâmide, e dos Ksatriyas (ou Xátrias), dos guerreiros, militares e governantes. Os Gujjares estão protestando porque querem cair, por decreto, alguns degraus na escala social e serem incluídos na base da pirâmide, se submetendo até a ficarem junto com os Sudras (os trabalhadores manuais e operários), a quarta e última casta da milenar escala social indiana.

As castas são definidas pelos Vedas (os textos sagrados do hinduismo), que reconhece as pessoas pelas suas diferentes qualificações (guna) e tipo de trabalho (karma) e não pela família. Abaixo dos Sudras estão os Intocáveis ou Dulits, os sem casta, considerados os párias da sociedade, aqueles encarregados dos trabalhos impuros e cujas tarefas os demais indianos não querem assumir (seriam os nossos atuais imigrantes nos Estados Unidos e Europa??). Os intocáveis são barrados até mesmo nos templos se, por acaso, algum membro da casta superior estiver ali para rezar. Bom, mas por que o Gujjares querem ficar no mesmo nível dos Sudras (a última casta) e até dos Dulits, os sem-casta? Porque são essas camadas sociais as maiores beneficiárias da ajuda financeira do governo indiano, que também vem estimulando o programa de afirmação social, com a reserva de cotas no ensino e no funcionalismo para os membros da base de pirâmide. A tribo dos Gujjares quer participar desses benefícios, e insiste no seu rebaixamento.
Acho que é como se as famílias desempregadas da nossa classe média pedissem o seu enquadramento na classe C ou D para ter direito à bolsa-família do governo ou para tentar emplacar seus filhos em alguma universidade pública. Infelizmente, esse movimento dos Guajjares ganha ares trágicos porque os policiais já mataram 40 pessoas da tribo durante os protestos em Déli. Não é nada fácil ser rebaixado. Parece que o mundo anda mesmo para trás...

sábado, 17 de maio de 2008

Cassandra´s dream

A propósito, Sonho de Cassandra não é um grande filme de Allen, e dessa fase européia dele, na minha opinião, fica bem atrás de Scoop e Match Point (este sim, um trabalho de mestre). Mas não concordo com a crítica sobre o fato de ele ter ligado o piloto automático e feito um filme preguiçoso. A tragédia anunciada está sempre presente e a música de Philip Glass cria uma tensão até o final. Colin Farrel está em seu melhor papel graças ao personagem criado por ele, angustiado, culpado, e que nos faz torcer por ele e pelo irmão Ewan McGregor (ótimo como o irmão escroque, ingênuo e amoroso). A tragédia, a culpa, os sonhos, a solidariedade, as relações familiares estão ali e nos fazem lembrar de como somos frágeis e vítimas de tentações (mesmo que sejam perigosas e criminosas) para subir alguns degraus na escala social.
E se não é um ótimo Allen, é sempre gratificante assistir a um Allen médio do que a média por aí. Seu próximo filme, estreando em Cannes nesta semana, Vicky Cristina Barcelona, já recebeu mais bombardeios da crítica. Ainda bem que eu sou só cinéfila e não ganho para escrever falando mal do cinema.



Cinema x taxista

Saindo da sessão do filme de Woody Allen, Sonho de Cassandra, na sexta-feira à noite. Pego um táxi e o taxista já fala: hoje a sexta-feira tá bem parada...não sei o que acontece. Comento que também achei o cinema meio vazio, apesar de ser estréia, e ele aproveita a deixa para fazer uma definição bizarra aa respeito desta minha grande paixão, o cinema:
Ah, eu não perco tempo em ver esses filmes por aí. Odeio! Não tem Cristo que me faça gostar de entrar numa sala escura, com uma tela na frente, com um monte de gente ali dentro, respirando, num ar viciado. Pra mim, o bom é estar aqui fora, apreciando a natureza e respirando o ar puro. Ninguém me pega nisso. Só minha mulher. Ela é louca por cinema, e eu prá não deixá-la ir sozinha, sou obrigado, de vez em quando, a fazer o sacrifício. Mas faço uma exigência: tem de ser filme brasileiro, porque ainda por cima ficar lendo legenda, não dá, né? Mas os filmes brasileiros hoje são tudo de sacanagem ou de violência.

Eu muda. Não ia perder meu tempo tentando convencer o homem sobre as maravilhas e a magia do cinema, ele não queria ser convencido. E, além do mais, eu estou cansada de brigar com as pessoas sobre o que eu acho bom, útil ou necessário. Desligo, simplesmente. Mas, ele continua a falar mal dos filmes e deixa escapar que um dos únicos que gostou, ultimamente, foi um tal de "Seo Chico", um documentário feito em Santa Catarina, embora ele não identificasse o filme como um documentário pois desconhecia a palavra. O filme aborda a tradição de se produzir cachaça em Florianópolis e cujo engenho do seu Chico foi um dos últimos em atividade. O personagem em questão morreu assassinado em 1996 e, até hoje, a polícia local não desvendou o mistério sobre sua morte. Suspeitava-se do sobrinho de seu Chico, mas ninguém pode provar nada.
Bem, o taxista, então, encontrou alguma coisa positiva no cinema se gostou do documentário sobre o velho Chico... Ou seria porque conheceu o método de fabricação da cachaça? Não deu tempo de saber a resposta porque já estava na porta de meu prédio.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Vendaval de (des) informações

Ligo o computador neste domingo – depois de muita chuva e um ciclone anunciado – e vejo que a internet não entra. Deve ter sido o vento da madrugada. Ligo para o provedor, mas ele garante que o problema é da operadora telefônica, a dona do sinal ADSL da minha conexão. Sinto que um novo vendaval se aproxima, o das informações desencontradas daqueles atendentes. Eles são como os ventos, vêm de todos os lados, primeiro um, depois outro, uma ventania de gente me (des)informando sobre um problema técnico simples de resolver, o de uma luz que insistia em piscar quando deveria fixar fixa no modem (o sinal da ADSL).

Mas a senhora tem um modem que não condiz com a sua velocidade de 2 Megas, me diz uma delas. Eu tento, mas não consigo fazer com que ela me entenda, que eu não iria pedir 2 Megas (como elas falam) se não soubesse que não teria condição técnica de receber. Ou melhor, será que não seria “interessante” que a própria companhia falasse isso ao oferecer o produto pelo telefone naquela tarde?, embora saiba a sua resposta já decorada sem sair do scritp. Mas eu não quero saber se os 2 Megas são ou não são compatíveis com meu modem, porque até ontem ele estava funcionando perfeitamente bem, com ou sem os malditos 2MB! Mas a senhora terá de comprar outro modem, eu tenho aqui uma lista... Pode parar, obrigada.

Ligo novamente para o suporte. Outra moça me atende. Falo a mesma coisa, mas já indo direto ao assunto: a luzinha da ADSL está piscando e não consigo conexão com a internet, porque o sinal de vocês não chega até aqui. Desta vez, a dúvida da atendente era outra, totalmente diferente. A senhora já tentou trocar o filtro da linha telefônica?. Troquei. Peguei o da sala para colocar no escritório. Então, se não é o filtro de linha, deve ser um probleminha no seu modem. Sei, e será que alguém pode me dizer o que é? Já ligou para o provedor? Bidu. Foi a primeira coisa que fiz senhorita (faço questão de chamá-las assim, mesmo que seja uma senhora de 60 anos do outro lado da linha, o que é meio difícil porque os atendentes começam com 18 anos, eles precisam ser jovens para agüentar o tranco e o humor de clientes como eu, sem paciência). O que aconteceu quando trocou o filtro de linha? Nada, tudo continua igual, senhorita. Neste momento, é bom que se diga, estou de cócoras e sentindo uma cãimbra horrível no abdômen só de me contorcer debaixo do móvel onde está o computador, para fixar fios, retirar filtros, colocar outro no lugar, desligar modem, ligar novamente, ver as luzes piscando...A luzinha do ADSL pisca rápido ou devagar, de quantos em quantos segundo, senhora? Indaga uma terceira atendente do outro lado. Deixe-me ver, acho que de 1 em 1 segundo, agora pisca rápido, agora devagar, agora rápido. Ufa! Pera aí, estou contando os segundos... A raiva era tanta que mal conseguia respirar, mas eu precisava resolver aquilo logo.

Não tem jeito, a senhora terá de trocar o modem, ele queimou, vaticina o quarto operador. Queimou?? Como queimou se ele está ligado e com todas as luzes funcionando? Já não posso crer que exista algum sinal de inteligência do outro lado da linha. Desligo novamente.

Seis telefonemas depois para o mesmo número, uma hora e meia falando com o insuportável suporte da telefônica e com seis soluções diferentes para o mesmo problema, eu resolvi acreditar em um deles e desisti de minha banda larga de 2 MB (ainda que sequer tenha usufruído dessa velocidade desde que eles me disseram ter habilitado o plano, há 15 dias), optei por voltar ao de 1 MB, pagar 20 reais a mais (o de 2 MB era o mais barato de todos!) e ter minha internet de volta antes da segunda-feira, confiando que o problema era mesmo o modem que não suportava tanta velocidade. Vamos fazer um protocolo (para que? Isso nunca adianta de nada?), e se dentro de 24 horas sua conexão não for restabelecida, um técnico irá a sua casa.

Estava pessimista, o vento começou a uivar lá fora de novo, a noite chegava de mansinho, foi um fim de semana com clima de mudanças bruscas, totalmente esquizofrênico, tal como a dona do modem. Mas, uma hora e meia depois, a luzinha verde da ADSL ficou fixa e parou de piscar, sinal de que tinha eu voltado para minha conexão mais lenta de 1 MB, mas com a garantia de que a internet estaria funcionando antes de segunda-feira.

sábado, 19 de abril de 2008

Fúria e barbárie

O que leva um ser humano a rodar 400 km com um Corsa 95, saindo de Cuiabá até São Paulo para chamar de assassinos o casal Nardoni, em frente à casa do pai de Alexandre? O que passa pela cabeça do metalúrgico Juscelino, que sai de casa em seu dia de folga, sem tomar café e sem almoçar, para ficar postado na frente de uma delegacia cantando parabéns à você (no aniversário de 6 anos de uma menina morta) e clamando por justiça (com as próprias mãos?) ? E o que pensa estar fazendo ali a babá Maria de Lurdes, que não foi trabalhar na sexta-feira, saiu de Mauá, pegou um ônibus até o terminal da cidade, depois um trem até a Estação da Luz, no centro de São Paulo, dali tomou um metrô até a periferia, desceu na estação de Tucuruvi, se deu conta de que estava no endereço errado, pegou outra condução e foi até a delegacia para dizer que queria "acompanhar de perto" o desenrolar dos acontecimentos?
Assisti e li alguns relatos dessas pessoas na tevê e nos jornais, e nem preciso dizer que fiquei chocada. Por mais que a gente tente compreender o ser humano e seu comportamento, muitas vezes surpreendente e desumano, sempre ficamos devendo. Não sou psicóloga, antropóloga, socióloga nem nada, sou apenas uma observadora dos fatos. Mas, confesso que os humanos me dão um baile! Será que eles estão lá por causa da dor da perda de uma menina que nem conheceram? Ou seria pelo show promovido pela mídia? Ou têm pena da mãe de Isabella? Ou querem ver a cara dos suspeitos, gritar por justiça e, de alguma forma, participar do julgamento (ao seu modo)? É por morbidez ? Será que essas pessoas não têm nada para fazer? O que sei é que esse comportamento selvagem me arrasou, tanto quanto o assassinato.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Leilão de rico

Assisti (eu e a torcida do Corinthians e do Flamengo juntas) estarrecida ao noticiário sobre os bens do traficante Juan Carlos Abadía e colocados em leilão hoje no Jockey Club. Primeiro, pelo volume de coisas que ele acumulava na casa do Morumbi, depois, pelo número de pessoas interessadas na compra daqueles objetos que um dia pertenceram ao traficante: mais de 5 mil pessoas se acotovelando na frente do Jockey e ainda se arriscando a levar um spray de pimenta nos olhos. Bizarro.
Sempre tive a idéia de que os ricos - especialmente os noveaux riches - eram extravagantes em suas compras. Para esses não basta ter um ou dois relógios Rolex, alguns bons pares de sapatos. Afinal essas pessoas freqüentam muitas festas e é compreensível que tenham muitos sapatos, roupas de todas as cores, tecidos, estações e marcas, além de acessórios para cada ocasião. Mas fiquei pasma com o exagero. Parece que para Abadía e sua mulher não havia limites. Se era para ter um relógio, por que não ter logo uns 10? Todos caríssimos. A nossa Imelda Marcos latina, Yessica, tinha em seu closet nada menos do que 260 pares de sapatos, 70 bolsas, dezenas de cintos e 50 óculos escuros. Não precisa dizer que tudo é de griffe, nada abaixo de Dior, Cartier, Chanel. As camisetas de Abadía somavam a 170 e as femininas formavam uma montanha de 260 itens. Sem contar os móveis, eletrodomésticos, objetos de decoração, acessórios. Havia excesso até mesmo no número de plásticas no rosto do traficante (eu li que foram mais de 70!).
Tudo era superlativo dentro daquela casa milionária, um vasto mundo de consumo, agora escancarado pelas câmeras dos fotógrafos e dos cinegrafistas e colocado à disposição do grande público como um prato cheio servido ainda quente. Parte do povo que se aglomerava na frente do Jockey tinha a expectativa de abocanhar um pedacinho desse mundo quase irreal. Só que muitos não chegaram nem à porta principal e já foram barrados na entrada. O estoque acabou, é dura a realidade. Parece que nem o excesso de mercadorias, marcas e luxo foi suficiente para suprir os desejos daquelas pessoas de levar para casa um fiapo de glamour do megatraficante e a preço de banana.

Um detalhe me chamou a atenção: Abadía tinha 11 liqüidificadores na cozinha. Por que raios uma família pequena, embora rica, necessita de 11 liqüidificadores? Comentando isso com uma amiga ela lembrou bem: "Certamente ele tinha muita coisa para espremer ali". Ainda bem que há uma explicação lógica.



quinta-feira, 3 de abril de 2008

Crianças (ainda)

O que está acontecendo com as crianças neste país?
São maltratadas e torturadas por adultos insanos e doentes; arrastados por bandidos até a morte; exploradas pelos pais ou padastros nos faróis das avenidas de nossas cidades; esfomeadas e sem teto, são levadas a dormir debaixo de viadutos no meio do lixo; são obrigadas a vender balinhas durante o dia para ter um pedaço de pão quando a noite chega; estão trabalhando quando deveriam estar estudando; estão morrendo por causa de um maldito mosquito que ninguém consegue combater (lá no Rio de Janeiro) por absoluto descaso do poder público - municipal, estadual e federal.
E agora estão assassinando nossas crianças e atirando pela janela???

terça-feira, 1 de abril de 2008

Imaginação infantil

Sempre soube que meu afilhado Gabriel, de 7 anos, era uma dessas crianças "iluminadas" vindas ao mundo para somar, dar alegrias e instigar os adultos. Mas essa constatação sempre foi baseada numa boa dose de orgulho da madrinha-coruja que sou. Iluminado ou não, ele continua me falando coisas espantosas que só a imaginação infantil pode produzir. No domingo, conversávamos eu e ele (ele adora conversar) e perguntei que tipo de prêmio ele gostaria de receber algum dia, caso merecesse muito.
Gabriel ficou pensando um pouco com aquela carinha marota e disparou: "Eu queria a imortalidade", mas falando num tom de quem cobiça um carrinho novo da Hot Wheels. Minha reação, naturalmente, foi de espanto, mas logo quis desenvolver o assunto para ver até onde iria. "Por que você quer ser imortal, já pensou que isso te daria uma grande solidão, já que todos na terra são mortais?"
"Ah, mas no prêmio eu ia pedir a imortalidade para minha mãe, meu pai e para você, e assim não ficaria sozinho", resumiu. Simples assim.
Eu não gostaria de ser eterna, de saber que estaria sempre por aqui, mas esse menino certamente ainda tem muito pra me dizer. E sua alma, esta sim é imortal.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Dá tempo


FREE TIBET!!!!

Quando será que algum desses senhores poderosos do mundo (da guerra e da paz) serão determinados o suficiente para pararem a China com essa vergonha imposta ao Tibete? A hora é agora! A tocha olímpica está correndo o mundo. Ainda temos 137 mil quilômetros e cinco continentes antes de ela chegar a Pequim em agosto. Dá tempo.

Pena que os chineses não possam ver esse vídeo na íntegra...http://www.youtube.com/watch?v=QKr7JejRVko

terça-feira, 18 de março de 2008

Determinação


"Tem gente que não se determina"... foi essa a frase que minha mãe, D. Eliza, sussurrou para ela mesma ontem de manhã, como se estivesse resmungando e falando com seus próprios botões.
Perguntei a ela o que estava querendo dizer com aquilo, já sonhando com uma resposta que certamente me faria rir,:
"A vizinha aí de cima, do 405. Encontrei ela no elevador com uma sacola de roupas para lavar na casa da mãe dela, reclamando que não tem espaço para lavar e estender tudo no apartamento dela. Olha só o meu exemplo. Eu lavei toda a roupa hoje, de cama, de mesa, de vestir. E já está tudo seco. E pendurei tudo no espaço pequeno que tenho aqui em casa, que é o mesmo espaço que ela tem. E ela, bem mais nova que eu, precisa levar tudo pra casa da mãe dela. Por isso que eu digo sempre: tem gente que não se determina".

escândalos

E o novo governador do Estado de Nova York, David Paterson, que admitiu ter tido várias mulheres em relações extra-conjugais quando seu casamento enfrentou uma crise braba? Adorei a sinceridade e excesso de zelo... A notícia correu o mundo (o site do NY Daily News http://www.nydailynews.com/news/2008/03/17/2008-03-17_gov_paterson_admits_to_sex_with_other_wo.html deu o furo) e já começa a virar um novo pequeno escândalo, embora Paterson faça questão de frisar que esses seus envolvimentos não foram com prostitutas e nem teve dinheiro público. Cuidado que seu antecessor, Eliot Spitzer, não teve e por isso teve de renunciar. E tinha até uma brasileira por trás dessa rede de prostituição, que agora implora para ser deportada. A capixaba Andréia Schwartz trabalhava para a tal casa Emperors Club Vip e teria sido informante da polícia federal americana durante a investigação sobre a ligação de Spitzer com as prostitutas de luxo. É também acusada de tráfico de drogas.
Parece que o Estados Unidos estão padecendo não só com a crise econômica e financeira dos subprimes, créditos podres imobiliários e balanços negativos dos bancos.
Nós, brasileiros, estamos acostumados com todos os tipos de escândalos, e este seria só mais um na nossa vasta coleção de casos cabeludos. Mas para a família norte-americana, branca, classe média, religiosa (luterana, batista) e moralista isso deve incomodar tanto quanto a falta de crédito nos cartões da Macy´s e Wal-Mart.

domingo, 9 de março de 2008

Adolescência


Across the Universe é um desses filmes para lembrar a minha adolescência. Nunca gostei de filmes musicais, talvez porque fique frustrada por não saber cantar e morra de inveja desses atores-cantores. Eles são geniais. Sabem atuar, decorar bifes inteiros e ainda soltam a voz daquele jeito maravilhoso. Mas este musical eu curti porque tem a ver com meus verdes anos. A história, bem simples, é contada através de algumas das melhores canções dos Beatles, falando do amor, da guerra (do Vietnã), das drogas, do preconceito, da busca da identidade, da juventude perdida. Anos 60, anos de rebeldia, de ódio racial, do envolvimento dos Estados Unidos na Ásia, mas também de muita curtição riponga, comunidades, amor-livre. Tudo isso vem encaixadinho dentro das músicas.
A gente ouve canções que nos trazem muita saudade daqueles tempos de juventude beatlemaníaca. Eu era uma das mais fanáticas entre os 11 e os 17. Era fã dos Beatles de carteirinha, literalmente, porque fazia parte do fã clube "Ordem do Império Britânico" - nome pomposo para homenagear os Fab4 que haviam recebido uma medalha de condecoração da rainha Elizabeth (em 1965). McCartney era meu sobrenome adotado na época, e com ele assinava as cartas escritas a meus penpals (eu tinha uns 50 correspondentes, em tempos sem internet, a maioria deles fora do Brasil). Nossas cartas eram o supra-sumo da futilidade, pois só falávamos do novo corte de cabelo do Paul, da roupa que a Jane Asher estava durante o retiro que fez com o grupo na Índia (foi nessa época que ouvi falar pela primeira vez do guru indiano Maharishi Mahesh Yogi), dos anéis do Ringo, dos óculos de John, blábláblá. Era tudo tão pouco consistente, mas importante para mim. Aliás, era minha vida. Vivi, eu e meus amigos de jornada beatlemaníaca, pelo menos 6 ou 7 anos da pré e adolescência PARA os Beatles. Era uma obsessão tão grande que nossos pais chegaram a ficar preocupados porque não fazíamos outra coisa fora da escola. Era VIVER para os quatro cabeludos. Meus amigos e eu nos reuníamos nos fins de semana para escutar os novos discos (que demoravam a chegar por aqui ....), algumas raridades (botlegs) que os fãs mais abonados traziam do exterior ou ediçoes piratas que nos chegavam milagrosamente às mãos. O mundo em guerra lá fora, a ditadura dando as caras aqui dentro e nós só pensando naquilo...
Mas os Beatles acabaram (embora suas músicas não) e a adolescência também. Pano rápido.
O que mais me cativou em Across the Universe foi o ator central que interpreta Jude. Chama-se Jim Sturgess. O cara é demais. Canta bem, fez um tipo que lembra o Paul no filme, tem talento, e, além de ser um gato, é simpático!
Meninas, atenção, ele vai voltar às telas neste ano. Um dos filmes será com Harrison Ford e Ray Liotta, sobre imigração nos Estados Unidos (previsto para junho). O outro é 21, já anunciado em trailers, em que ele interpreta um gênio da matemática do MIT e é chamado para cometer fraudes em cassinos. Em The Other Boleyn Girl (em cartaz nos EUA), ele atua com Natalie Portman e Scarlett Johansson como irmão de Maria e Ana Bolena. Vamos ouvir falar muito de Jim Sturgess em 2008. Ainda bem, com ele meus tempos de adolescente voltaram.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Frases

Duas frases do dia:
"A mãe dos imbecis está sempre grávida", do físico italiano Franco Buccella, lembrando a imbecilidade das "autoridades" da imigração espanhola ao deportarem a estudante brasileira de física Patrícia Magalhães, só porque ela não tinha um voucher de hotel onde ficaria hospedada em Lisboa. Ela fez conexão em Madri porque o bilhete era mais barato e participaria de um congresso científico na capital portuguesa. Mais detalhes em http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u374136.shtml

"O dia que o Rio tiver sem problemas a gente pensa nisso", do subcomandante do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), major René, comentando o projeto-de-lei do deputado fluminense Flávio Bolsonaro (PP) para que a caveira e o uniforme preto do BOPE se transformem em patrimônios culturais do Rio. Isso parece ficção...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Tchau verão?

Horário de verão pra mim é que nem algodão doce em circo ou pipoca em cinema de shopping, numa sessão da tarde com o Gabriel, meu afilhado. Adoro! Tá certo, sei que tem milhões de pessoas que odeiam porque acordam cedo para trabalhar e acabam saindo de casa ainda noite. Respeito os trabalhadores de meu país. Também sou uma, mas meus horários são flexíveis e nem preciso sair de casa para isso.
Gosto porque o horário de verão, principalmente aqui no sul, é luminoso. As tardes ficam loongas, dá para andar na avenida Beira Mar até 8h30 da noite porque ainda é dia e com sol se pondo, um ventinho fresquinho soprando. Uma delícia. Parece que todo o mundo sai de casa mais feliz para andar, se exercitar, se espichar, ver o pôr-do-sol ser engolido pela lua cheia que chega (e que lua!) devagarinho, impondo seus reflexos prateados no mar. Uma pena que o horário de verão acabe assim, de repente, de forma melancólica, como que anunciando também o fim do tempo quente para a chegada do outono. Agora são 5 e pouco da tarde, mas a cara já é de 6h. A noitinha vem chegando mansinha, morna ainda.
Até logo horário de verão. Te vejo em outubro de novo. Snif...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Para quem gosta de teatro

Estavam todos os amigos (e os críticos) falando do espetáculo A Pane, ali no Sesc Anchieta, uma adaptação do advogado criminalista Nilo Batista para o conto do suíço Friedrich Dürrenmatt - o mesmo de A Visita da Velha Senhora, o que já me dava garantias de ser algo realmente interessante. Pensei que, por ser carnaval, o teatro estaria meio vazio e nem me preocupei em comprar os bilhetes com antecedência. Doce ilusão. Afinal estava em São Paulo e é nesse tipo de feriado que as pessoas aproveitam para ir ao teatro, ao cinema, a museus. Consegui dois lugares na fila N, e ainda nas laterais, porque as cadeiras centrais estavam todas ocupadas. Mas foi tranqüilo. Teatro lotado (320 lugares) em pleno carnaval. Talvez porque o espetáculo só esteja em cartaz aos sábados e domingo e em curta temporada. De 12 de janeiro até o próximo domingo, dia 10. Quem não viu precisa correr. Nele, farsa e tragédia andam juntas e durante um banquete (servido ali mesmo, no palco) um dos personagens é feito réu em um julgamento de "brincadeirinha", promovido por um juiz, um advogado de defesa, um promotor e um algoz, todos aposentados e querendo se divertir um poucos às custas do pobre visitante. O texto é um primor e evoca a decadência moral do ser humano.

Meu amigo André Fusko, ator e produtor, também está se aventurando nas letras e na direção. Depois de Os Solidores, sua estréia como autor no ano passado, ele está com um novo trabalho no Teatro Imprensa (espaço Vitrine): Sinceramante - Ou a trágica História de um Dono da Verdade. Um exercício tragicômico de Fusko sobre as agruras sofridas pelas pessoas sinceras demais e até que ponto isso interfere nas relações pessoais e profissionais. O resultado é bem redondo e dá para dar boas risadas das situações ridículas criadas pelo ser humano sincero. Parabéns ao querido Fusko e aos também ótimos Patrícia Vilella (minha conterrânea gaúcha) e Marcelo Diaz. (Paguei o mico de dizer que não conhecia o Marcelo Diaz! que tonta que sou!).
Acho que quem estiver lendo esse blog e, por acaso, estiver em São Paulo, DEVE ver Sinceramante. Sinceramente.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Fui!


Acho que raptaram ou abduziram o verão neste ano. Cadê o calor? Onde esconderam o sol? Por que estou usando blusa de mangas compridas e meias, em pleno janeiro? É lógico que o clima mudou e a gente está sentindo os efeitos rapidinho. Culpa nossa, de mais ninguém. Do homem. Sempre ele.
Bom, como o tempo tá chuvoso mesmo, não tá dando praia em Florianópolis (pobres argentinos, uruguaios e paulistas que desabaram para cá), meu jornal me deu uma folga forçada, e não tenho nada para fazer aqui porque odeio carnaval, vou dar um pulo até Sampa para ver os amigos, visitar a exposição da Tarsila na Pinacoteca, dos fotógrafos espanhóis no Masp (antes que roubem) e tirar um pouco do atraso com o teatro, pelo menos assistir aos espetáculos dos amigos, e não são poucos. Um frescor no cérebro. São Paulo não pára mesmo, com chuva ou sem chuva, com carnaval ou sem folia. Enquanto isto, Florianópolis fecha a cidade para o Rei Momo nesta sexta e só abre (e não estou brincando!) na quarta-feira de cinzas à tarde! Isso mesmo. Nem meu restaurante de quilo funciona nesses dias, ele só abre na quinta-feira! Para não morrer de fome ou de tédio, lá vou eu pegar um vôo da TAM rumo à paulicéia desvairada. Bom carnaval! Fui!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Ventania

"Nestas eleições não se trata de escolher segundo a região de cada um, a religião ou o gênero. Não se trata de ricos contra pobres, jovens contra velhos, nem brancos contra negros. Trata-se (de uma batalha) do passado contra o futuro". Foi esse, para mim, o melhor trecho do discurso, feito ontem à noite, pelo senador Barack Obama na Carolina do Sul, para comemorar a vitória folgada (55%) sobre seus colegas de partido Hillary Clinton e John Edwards, no complicado processo de escolha do candidato (dos democratas) para a eleição dos EUA, em novembro.
Vi o discurso de Obama pela CNN (na falta de coisa melhor para fazer, numa noite chuvosa de sábado e que acaba sendo ótima para se ficar em casa). Acompanhei também os comentários dos analistas internacionais contratados pela emissora nessa cobertura da corrida presidencial. Entre eles, o repórter Carl Bernstein (aquele que, com seu colega Bob Woodward, ajudou a derrubar o Nixon no caso Watergate, no tempo em que a imprensa norte-americana era mais independente do que é hoje). Todos estão fascinados - pelo que pude notar -, com o senador e novo fenômeno político (a imprensa adora novidades).
Nem lembro da primeira vez que ouvi falar ou li sobre Barack Obama, mas acho que há dois anos comecei a me interessar por ele. O que mais me chamou a atenção nele, além de suas imensas mãos e da magreza, contrastante com aquele povo roliço do norte, foi o carisma e aquele sorriso aberto. De cara, já gostei do sujeito, e ainda nem conhecia direito as idéias dele. Agora, sou sua fã número 1 (número 2, porque a mulher dele deve ser a primeira). O cara tem pinta de vencedor, é diferente (não porque seja negro, mas porque parece ser mais sincero que os outros bonitinhos e arrumadinhos), e pode representar um sopro de novidade naquela mesmice norte-americana. Ele me faz crer que realmente deseja uma mudança nos padrões (errados) do american way of life, e não apenas fala isso da boca prá fora. Ele cita os latinos, os pobres, os negros, a classe média no mesmo tom. E isso é bom.
Digo isso de longe, sou mera observadora, e sei que discurso de político é sempre uma maravilha. Mas, algo me diz que esse magrinho, com cara de bom moço, filho de africano, com nome de muçulmano e que deu uma surra na chatinha da Hillary na Carolina do Sul, vai incomodar. Torço muito por ele, porque os Estados Unidos precisam realmente dessa ventania chamada Obama. Que bons ventos o tragam e tomara que, desta vez, os norte-americanos saibam votar.