domingo, 17 de janeiro de 2010

terremoto

Haiti, todos choramos por ti.
O professor Eduardo Felipe, doutorando em História Social e um especialista no escritor Alejo Carpentier, lembrou bem, na Folha de hoje, o que o cubano nos relata em seu livro "No Reino deste Mundo": que a beleza do ser humano está em sua própria miséria, na sua capacidade de amar, mesmo sendo esmagado pelos sofrimentos e pela calamidade.
É o que esperamos desse povo tão sofrido e esquecido, e que hoje vive sua maior tragédia. Tudo já foi dito sobre o terremoto do Haiti. Eu não consigo sair da frente da CNN. É tão surreal ver aquelas cenas de horror, corpos sendo desovados em caçambas de caminhão e depositados em valas comuns, sem sequer uma identificação, um adeus, uma oração, sei lá. Lembra o holocausto. Além da água, comida, cuidados médicos e um teto, tudo o que os haitianos precisam agora é de muita coragem.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A bolsa ou ... o celular

Domingo, 9h da noite. Calor em São Paulo. Eu descendo a rua para ir ao supermercado. De repente, uma mão aperta meu braço esquerdo e diz: Vem comigo. Eu levo um susto e alguns segundos para perceber que aquilo não era uma cantada ou alguém querendo me levar para beber uma cerveja. Era um assalto.
Olhei pro cara, era alto, magro e de boné (por que todos usam bonés?). Disse pra mim mesma, tou ferrada. Ele tentava me empurrar pra frente como se quisesse me levar pra algum lugar. Insegura, mas não em pânico, eu empaquei e dali não saía, porque apesar de não ter viv'alma na rua, pelo menos eu tava pertinho de um hospital, onde sempre tem muito movimento de gente chegando ou saindo. Ele me dizia e repetia: Me dá a bolsa e não se preocupe, não vou fazer nada contigo, não quero nada além da sua grana, nem o celular eu quero, nem documentos, nada! Bom, menos mal,pensei, o cara é decidido e aparentava sinceridade. Aproveitando essa "abertura" eu dei uma checada se ele estava armado. Em frações de segundo, arrastei meu braço no corpo dele para sentir se a cintura tinha algo escondido. Nada, a não ser um abdome tipo tanquinho. Fiquei mais tranquila e disse que precisava pegar a chave para poder entrar em casa. Então perguntei, o que você vai querer com uma bolsa de mulher? Ele disse que não queria nada, só o dinheiro. Arranquei os únicos trocados que tinha na carteira (20 reais)e entreguei. O sujeito, impaciente com minha pobreza, se espanta. É só isso? Me dá o celular também. E ainda argumentei, esse celular é instrumento de trabalho, tem tudo ai dentro! Ele nem piscou. Pegou o aparelho, que nem era tão bom assim,e encerrou o caso. Eu me virei para subir a rua do lado contrário de onde estava indo. Ele ainda segurava o meu braço e eu cheguei a acenar para umas pessoas que estavam passando do outro lado, mas eles nem deram bola, poderiam achar que aquilo era uma briga de namorados. Ele insistiu para que eu seguisse o caminho original, ou seja, rumo ao supermercado, vamos pro lado que você 'tava indo, eu te acompanho. E eu: não vou descer com você nessa escuridão! Já chega, você já teve o queria, me deixa em paz. Ele me puxou ainda numa última tentativa, mas acho que também estava muito nervoso para ficar brigando e se mandou. Livre do cara, subi a rua do lado contrário dele e fui pra minha casa. As pernas estava meio frouxas, encontrei um monte de gente na rua depois. Fiquei besta como as coisas acontecem assim, na rua, e ninguém vê.

Já na segurança da minha casa eu pensei que aquilo poderia ter sido um pesadelo, uma tragédia, um horror, uma violência. Mas não foi. Foi só uma tentativa desesperada de um sujeito para assaltar uma pessoa à mão desarmada, levando qualquer coisa que ela oferecesse. Sim, porque a única coisa que ele tinha na mão era um celular, e que, provavelmente, também havia sido roubado.
Eu sei que fiz tudo ao contrário do que está escrito no manual das vítimas de assalto. Reagi, argumentei, acenei para outras pessoas, segurei a bolsa como se ela escondesse o diamante da pantera cor-de-rosa e não segui o caminho com ele. Me disseram, você é louca! Acho que fui louca sim. Mas só agi desse modo maluco porque senti segurança no momento para não ceder ao que ele pedia. Mas não recomendo a ninguém fazer o mesmo. Nunca se sabe o tipo que vamos encontrar pelas esquinas.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

dolce far niente

Fiquei recolhida com minha família durante esses 10 dias dos feriados de fim de ano numa casa de campo no sul de Santa Catarina, a uns 4 km de uma cidadezinha de uns 50 mil habitantes. Ir a uma padaria, a um supermercado ou a uma banca de jornais ali da esquina, nem pensar. É preciso se programar e pegar o carro. Preferia ficar ali mesmo (pois foi para isso que fui), na companhia de meus familiares e de meus livros, dos cachorros de minha irmã (e são muitos) e do canto dos passarinhos. Eles nos acordam às 6h da manhã e cantam o dia inteiro, acho que de alegria. Estranha a sensação de ser acordada por pássaros para quem é incomodada todas as manhãs pelo ronco dos carros zunindo da 23 de Maio, em São Paulo. Ali, entre uma leitura, um lanche, uma soneca, uma conversa, o som mais forte vem do latido dos cães que saem do seu marasmo para saudar qualquer vivente que passe na frente da casa. Sejam vizinhos ou estranhos, os cachorros fazem uma orquestrada algazarra. Acho que se divertem com isso. Depois se recolhem ao seu canto e dormem, de novo. Sua vida é assim mesmo: dormir, comer, latir, voltar a dormir. Se fossem homens cairiam em depressão? Talvez. De vez em quando um quero-quero ou um sabiá desce para beber água deixada num potinho. Se ele não for rápido o suficiente o cachorro avança e o bichinho já era. Lei do mais forte. Lá nos fundos, uma horta com tomates, alfaces, couve, milho, abóbora, radiche, salsinha, cebolinha, quase tudo para nossa salada fresca. Tive dificuldades para encontrar o pé de alface! Na verdade, ele estava meio escondido, e eu confundi a alface com a chicória no que fui muito zoneada em casa.
Minha irmã, generosa como é, fazia pão numa dessas máquinas modernas ou assava um churrasco para nós, apesar de ser vegetariana.
Como não tínha internet, já que os cabos da banda larga não chegam lá e a 3G celular ainda é quimera, meu computador ficou inerte e serviu apenas para eu revisar meus textos. Do celular, às vezes, recebia algum sinal de vida com torpedos ou ligações de amigos em viagem.
Estranhei muito todo aquele tempo disponível e o silêncio envolvendo a gente. Foram apenas alguns dias, mas parece que vários meses se passaram. Gosto do ar bucólico do campo, daquelas cores do entardecer, do aroma do mato, mas sou uma pessoa visceralmente urbana, e já estava com saudades das buzinas dos carros na minha janela e das inúmeras possibilidades que a cidade grande me oferece.