sexta-feira, 22 de agosto de 2008

saudades...

Refazendo os caminhos, passo a passo. A cada um revejo algo que daqui a pouco me deixará saudades. Saudades da Beira Mar, com seu mar de baía, coqueiros e vento, onde ando quase diariamente de manhã para pegar um pouco de cálcio; do céu azul até demais; do ar puro das montanhas em direção à Lagoa; do silêncio do meu escritório à tarde, onde crio meus textos e reinvento o inevitável trabalho rotineiro; do gorjear dos passarinhos me acordando de manhã na minha janela; do pôr-do-sol púrpura das 6 da tarde no inverno, e das 20h30 no verão; dos amigos, quase todos estrangeiros que adotaram Floripa como porto seguro e me fizeram esquecer um pouco a solidão; do café Pagano, um cantinho raro na ilha, com seus aromas importados de Minas; do restaurante Central, a melhor comida a quilo que experimentei em muitos anos, sob o comando da chef paulistana Kiki; da Videoteca, com seus gentis funcionários sempre procurando algum filme "diferente" para mim; da tranqüilidade de se andar por aí, nas ruas do centro, mesmo com a bolsa levando dinheiro (às vezes acontece de ter dinheiro ...) e cartões de crédito; o preço barato das manicures; da falta de trânsito pesado nas ruas, com um rush de no máximo 30 minutos no fim de tarde; das minhas caminhadas lendo o jornal e sem tropeçar em ninguém e nem em postes porque as calçadas são planas e uniformes; das aulas de Pilates - que freqüento há um ano - e, por fim, mas não menos importante, do meu querido Gabriel. Das conversas com o pequeno; das tardes que passamos juntos; dos desenhos criados com suas mãozinhas e sua mente brilhante e dedicados a mim, sempre com amor; das histórias que preciso contar a ele antes de dormir, geralmente com algum toque de mistério, porque ele se diverte ao sentir medo; da vozinha dele no telefone perguntando se eu estou muito ocupada e se ele pode vir aqui em casa pra gente brincar um pouco ou dar um passeio; da letrinha dele no caderno fazendo a lição de casa e, quando cansa, disfarça dizendo que precisa se "espichar" um pouco. Realmente, eu vou sentir MUITA falta dele. Meu coração fica pequeno só de lembrar. Mas, não se pode ter tudo na vida. Ou a gente fica ou a gente parte. E eu decidi partir.

sábado, 16 de agosto de 2008

Atletas

Achei que neste ano, por ser uma Olimpíada na China e também por causa do fuso horário, eu ficaria meio indiferente aos jogos. Que nada. Minha frieza durou pouco, uns dois dias, eu acho. Acabei me viciando. Não, eu não acordo cedinho para ver a seleção de futebol do Brasil jogar com Camarões num sábado, quando posso dormir até mais tarde. Ainda não enlouqueci. Mas na sexta à noite fiquei até altas horas vendo e revendo o choro do Cesar Cielo - um menino determinado, disse que ia ganhar o ouro nos 50m, foi lá e ganhou. Sorte dele o peixe-homem com asas nos pés Michael Phelps não disputar essa prova...senão não teria para ninguém. Impressionante esse Phelps. Não parece humano. Como uma pessoa, gente de carne e osso como eu, pode ser tão perfeita dentro da água e sem ser peixe? Me dá até medo. Mas não podemos ignorar, o cara está escrevendo a história, eu acho.
Depois da emoção de ver o Cielo, garoto bonito, simpático e um pouco chorão, estava hoje, sábado, às 11h30, grudada na tevê vendo o vôlei brasileiro dar show sobre os poloneses (sempre é um prazer ver o nosso vôlei); o sufoco de Emanuel e Ricardo para vencer os russos no vôlei de praia (e russo entende de praia??) e depois, a grande prova dos 100 metros rasos, com o velocista jamaicano Usain Bolt batendo aquele recorde incrível de 9s69. Fiquei paralisada!
Nas madrugadas também fiquei ligada com as ginastas, e no que elas são capazes de fazer naquelas barras e traves. Uma americana baixinha dançava na trave de alguns centímetros de largura como se estivesse numa pista de baile! Sem nenhum resquício de insegurança no olhar. Ela estava ali para mostrar ao mundo que a trave lhe pertencia, ou era uma extensão de seu corpo. Incrível! Mas fiquei preocupada com a Jade Barbosa, nossa ginasta, tinha um rosto triste em todas as competições, parecia que ia explodir no choro a qualquer hora. Ela é uma ótima ginasta, mas me pareceu meio insegura. Coisa que as chinesas, americanas, russas e romenas não demonstravam, nem em seus piores momentos, nem quando duas delas caíram da trave. O que acontece com alguns de nossos atletas? Temos de exorcizar essa pecha de coitadinhos. Afinal, se eles estão numa Olimpíada é porque são bons e merecem estar lá. Se o Brasil vai mal nas medalhas comparado aos países campeões (sempre os mesmos) é porque lá rola muito dinheiro, muito treino, muito apoio oficial e extra-oficial, muito incentivo desde a escola primária, muita disciplina e muita motivação. Quando vamos chegar lá? Bom, vou continuar torcendo para os nossos ginastas nesta madrugada. E ainda faltam cinco dias para acabar. Estou tão exausta quanto eles.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mudança

Empacotando, encaixotando, packing. Mudança chegando. Não tenho tempo nem para trabalhar, quanto mais para escrever em blog. Que pena! mas vejo você em breve ou assim que tiver alguma idéia fora destas que mantenho em minha mente: onde vou morar? como vai ser ? será que conseguirei um apartamento, um espaço? Minhas coisas ficarão aqui num guarda-móveis. Irei com a roupa e o computador, meu ganha-pão. Nada mais provisório. A vida é assim mesmo. Tão instantânea e volátil Se é para ser assim, então, será! Tudo por causa da economia bombando. A classe C e B estão no paraíso? Finalmente chegamos aonde sempre queríamos! Enfim, tudo faz parte da aventura. Parto para o desafio oculto. Que ele me seja leve e que São Paulo me receba, no mínimo, sorridente. Porque seus braços ainda não se abriram.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Samba? eu?

Alguém acha que me viu no sábado à noite, num lugar chamado Ginga Bar, na beira da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, com mais quatro amigos, escutando uma banda tocando sambão até quase 3h da manhã, com um copo de cerveja na mão e, de vez em quando, timidamente, dando uma mexida de ombros tentando acompanhar o ritmo, super desajeitada, e com cara de quem se pergunta: O QUE EU ESTOUFAZENDO AQUI?? Pode crer, era euzinha mesmo. Apesar de ficar de costas para a pista (estratégia adotada para não ser reconhecida?) e para o público, podia ver o balcão do bar, a movimentação dos garçons, as portas dos banheiros e a cara de alegria de meus amigos sambistas. Foi uma experiência, como diria, antropológica? sociológica? Mas nada lógica para mim. Enfim, precisamos ser ecléticos e aderir ao que a maioria pede. E ela pediu o samba e tivemos samba! Para não ser uma estraga-prazer eu fiquei até o fim. E até que não doeu porque, de vez em quando, os músicos tiravam da cartola seus melhores coelhos: Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, música para meus ouvidos. Mas, definitivamente, não é a minha praia... Da próxima vez, eu passo.

domingo, 3 de agosto de 2008

2%

Acho que perdi alguma coisa, talvez a noção da realidade ou do país em que vivo.
Nestas terras descobertas por índios e por Cabral, mais de 30% da população vive abaixo da linha da pobreza (salário de até R$ 125 mensais), e, embora tenhamos melhorado muito nos parâmetros da educação, saúde e riqueza, ocupando a 70ª posição no tal IDH (índice de desenvolvimento humano, menos desconfortável do que há cinco anos), ainda temos um longo caminho a percorrer para nos considerarmos uma verdadeira nação, onde direitos dos cidadãos são respeitados, a violência e a barbárie deixem de ser uma manchete diária nos jornais e cada vez mais gente tenha direito ao trabalho, lazer, educação, saúde e dinheiro para viver com mais dignidade.
E é neste mesmo país que estamos constantando a existência de filas de milionários para a compra de jatinhos e barcos de milhões de reais, para só receberem a"mercadoria" em dois ou três anos (alguns modelos levariam até 10 anos para a entrega!), gente que aguarda há semanas numa fila de espera de uma bolsa Louis Vuitton (de R$ 3.500), Dior (de R$ 4 mil) ou vinhos Romanée-Conti, cujo valor da garrafa é o mesmo de um carro popular.
Mais. Um shopping inaugurado recentemente em São Paulo, na Marginal Pinheiros, também voltado para o consumidor com muita grana na mão, decidiu não fazer entrada para pedestres, justamente para restringir o acesso a quem não esteja de carro, ou sei lá que motivos levaram seus empreendedores a essa decisão. Tenho medo até de pensar. Eu já ouvi comentários de pessoas que chegaram caminhando (e não de carro) pela porta da frente da butique Daslú terem sido olhadas com desconfiança pelos seguranças.
Não tenho nada contra os ricos nem contra a riqueza, nao sou comunista e nem louca. Todo o mundo tem direito a ter o seu milhão. Só acho que alguma coisa está errada. A concentração de renda absurda em nosso país encastelou 2% de felizardos no cume da pirâmide social com todas regalias desejadas por um feliz mortal. Mas será que também está lhes dando poderes ao escárnio e a tirar o direito de ir e vir dos demais 98%?
Para uma nação cumprir seu papel verdadeiro não basta subir alguns pontos no índice IDH. É preciso saber não regredir.