sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

dolce far niente

Fiquei recolhida com minha família durante esses 10 dias dos feriados de fim de ano numa casa de campo no sul de Santa Catarina, a uns 4 km de uma cidadezinha de uns 50 mil habitantes. Ir a uma padaria, a um supermercado ou a uma banca de jornais ali da esquina, nem pensar. É preciso se programar e pegar o carro. Preferia ficar ali mesmo (pois foi para isso que fui), na companhia de meus familiares e de meus livros, dos cachorros de minha irmã (e são muitos) e do canto dos passarinhos. Eles nos acordam às 6h da manhã e cantam o dia inteiro, acho que de alegria. Estranha a sensação de ser acordada por pássaros para quem é incomodada todas as manhãs pelo ronco dos carros zunindo da 23 de Maio, em São Paulo. Ali, entre uma leitura, um lanche, uma soneca, uma conversa, o som mais forte vem do latido dos cães que saem do seu marasmo para saudar qualquer vivente que passe na frente da casa. Sejam vizinhos ou estranhos, os cachorros fazem uma orquestrada algazarra. Acho que se divertem com isso. Depois se recolhem ao seu canto e dormem, de novo. Sua vida é assim mesmo: dormir, comer, latir, voltar a dormir. Se fossem homens cairiam em depressão? Talvez. De vez em quando um quero-quero ou um sabiá desce para beber água deixada num potinho. Se ele não for rápido o suficiente o cachorro avança e o bichinho já era. Lei do mais forte. Lá nos fundos, uma horta com tomates, alfaces, couve, milho, abóbora, radiche, salsinha, cebolinha, quase tudo para nossa salada fresca. Tive dificuldades para encontrar o pé de alface! Na verdade, ele estava meio escondido, e eu confundi a alface com a chicória no que fui muito zoneada em casa.
Minha irmã, generosa como é, fazia pão numa dessas máquinas modernas ou assava um churrasco para nós, apesar de ser vegetariana.
Como não tínha internet, já que os cabos da banda larga não chegam lá e a 3G celular ainda é quimera, meu computador ficou inerte e serviu apenas para eu revisar meus textos. Do celular, às vezes, recebia algum sinal de vida com torpedos ou ligações de amigos em viagem.
Estranhei muito todo aquele tempo disponível e o silêncio envolvendo a gente. Foram apenas alguns dias, mas parece que vários meses se passaram. Gosto do ar bucólico do campo, daquelas cores do entardecer, do aroma do mato, mas sou uma pessoa visceralmente urbana, e já estava com saudades das buzinas dos carros na minha janela e das inúmeras possibilidades que a cidade grande me oferece.

Um comentário:

Lorenzo Madrid disse...

Gostei Muito.... Beijos.