terça-feira, 18 de maio de 2010

Steinbeck, sempre atual

Acabei de ler, tardiamente, um livro lindo do John Steinbeck: The Winter of our Discontent (no Brasil, foi traduzido como O Inverno de nossa Desesperança). O nome é uma referência à frase dita por Ricardo III na peça de Shakespeare. Se ainda havia dúvidas na Academia, foi provavelmente a obra que faltava para o Nobel conquistado por ele em 1962. O autor de Vinhas da Ira, Ratos e Homens e Vidas Amargas (East of Eden) esmiuça a vida de Ethan Hawley, um sujeito simples do interior dos Estados Unidos, chefe de família e empregado de uma mercearia. Aborda a sua crise moral diante de tantos apelos à corrupção da pequena cidade (fictícia) de New Baytown e seu conflito interno para não ceder a esses chamados do lado "negro da força". Falava mais alto a pressão dos filhos para terem uma tevê e um carro. Corria o ano de 1961, e era inadmissível a uma família americana não possuir um automóvel, uma tevê, uma máquina de lavar. Essas coisas que formam a base da sociedade americana (o consumismo). Ethan era um homem que prezava os valores da pátria e da família, mas precisou encarar alguns desvios de conduta, e a vida passou a ficar meio complicada... Enfim, um livro e tanto, com uma prosa fluida e gentil com o leitor.

Destaco aqui um dos trechos mais comoventes:
Acho que somos todos, ou pelo menos a maior parte de nós, guardiões daquela ciência do século 19 que negava a existência de qualquer coisa que não pudesse medir nem explicar. As coisas que não éramos capazes de compreender continuavam acontecendo, mas não tinham a nossa benção. Não enxergávamos o que não éramos capazes de explicar e, por isso, uma enorme parte do mundo ficava abandonada às crianças, aos loucos, aos tolos e aos místicos, que estavam mais interessados no NO QUE do que NO PORQUÊ. TANTAS COISAS ADORÁVEIS E ANTIGAS ESTÀO GUARDADAS NO SÓTÃO DO MUNDO...Não as queremos por perto, mas não temos coragem de jogar fora.

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