sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sr e Sra Smith e a globalização

Leio que as bolsas estão caindo no mundo inteiro, os bancos centrais da Europa, Estados Unidos e Brasil começam a manifestar uma certa preocupação com o que está por vir, e injetam recursos na economia, ao ponto de o Banco Central Europeu ter feito um aporte de US$ 130 bilhões nos bancos europeus, na quinta passada, e o FED (Banco Central dos EUA) ter ampliado suas reservas para o sistema bancário americano, nesta sexta, em mais US$ 35 bilhões, para evitar uma crise de liquidez no sistema de crédito de risco daquele país.
Mas, por que estou falando de um assunto tão árido num espaço como este? E por que estou preocupada com o rumo da economia mundial e com a queda das bolsas se eu não tenho um centavo aplicado em ações? Primeiro, porque vivemos num mundo globalizado, e se chove lá em cima respinga por aqui, no andar de baixo. Segundo, porque acho que o cerne dessa crise mundial - ainda controlável, se Deus quiser - aparenta ser bem prosaico, pelo menos na minha pobre e limitada avaliação e como observadora dos fatos.
Pelo que entendi, os norte-americanos, um povo patologicamente consumidor e sem nenhum controle de seus gastos, acostumado a comprar suas belas casas de dois andares, com aquele monte de janelas, com garagens para dois ou três carros e em subúrbios que mais parecem cenários de filmes hollywoodianos, estão, agora, sem condições de honrar seus compromissos com o crédito imobiliário dos bancos. E teriam passado a hipotecar suas casas para quitar outros débitos com cartões de crédito. Dívidas contraídas, quem sabe, com a Macys e com a Century 21, com os postos de gasolina onde enchem o tanque de seus carrões, e com as caras universidades de seus filhos. E isso tudo estaria gerando uma insolvência no mercado imobiliário - um dos grandes pilares da economia americana, aliás - e afetando os bancos, as bolsas, e toda a economia mundial.
Ou seja, a falta de planejamento do sr Smith e de sua esposa Carrie, que não conseguem saldar seus débitos com o banco do subúrbio de Utah ou do Arkansas, terá um efeito dominó no mundo. O dólar sobe, os juros se elevam e as bolsas caem. É sempre a mesma coisa. O Pedro, operário de uma fábrica de calçados em Novo Hamburgo, no interior do Rio Grande do Sul, o Monsieur Gaulin, que tem uma pequena vinícola na cidadezinha de Chalons sûr Saône, no sul da França, e Hu Ling, um jovem estudante que trabalha numa loja de CDs (piratas?) de Xangai, deverão ser intimamente afetados pela inadimplência do sr e sra. Smith. Seja pelos juros mais altos quando forem comprar uma camisa, ou com uma alta nos preços da comida (no quilo da esquina ou no supermercado), ou quando forem fazer um crédiário para comprar uma tevê. São os efeitos da globalização. E não me venham dizer que isso é queixa de classe média, porque desse discurso eu também já cansei.

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