segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ao sabor do vento

Passei 12 dias visitando o litoral do Uruguai, que apesar da pouca distância do sul do Brasil, era um lugar desconhecido para mim (com exceção de Punta del Este, onde estive nos anos 70, quando a badalação ainda era suportável, e da qual mantive distância desta vez).
Admiro as pessoas planejadas, ao ponto de levarem consigo mapas, guias com anotações de restaurantes, de museus, de monumentos, de pontos interessantes, gente que amplia seus conhecimentos sobre os lugares a serem vistos, sabendo de antemão um pouco de sua história para melhor aproveitar a viagem. Já fui assim, no passado. Agora, quando viajo, me deixo levar pelos acontecimentos. Muitas vezes descobrimos lugares mais charmosos e incríveis e pessoas curiosas e bem mais interessantes do que os indicados pelos guias, pelo menos para nós, observadores do cotidiano (e descompromissados em época de férias). É claro que certos países exigem esse tipo de ajuda, pela limitação da língua e cultura totalmente estranha. Não é o caso do vizinho Uruguai. Portanto, nestes poucos dias passados entre Uruguai e Buenos Aires (onde dei uma esticada, porque ninguém é de ferro), me deixei levar pelo sabor do vento. Literalmente. Além do sopro frio (para mim, porque para os uruguaios isso nem fazia diferença) em pleno final de dezembro nas largas e belas avenidas de Pocitos e Carrasco de Montevidéo, o que me surpreendeu no Uruguai foi a ausência de pressa das pessoas e a impressão de que o tempo não passava. Com o horário de verão, o sol se põe perto das 21h! O dia fica muito comprido porque as 5h já está claro. Os táxis velhos, os ônibus antigos e sem reposição da frota, o cobrador ainda dando bilhetes para o passageiro, alguns prédios em ruínas, os papéis voando nas ruas vazias do feriado (na parte mais antiga da capital), tudo isso nos deixava com uma idéia de que estávamos em plenos anos 50/60, e o tempo passando devagar. Impressão só quebrada quando vemos o grande número de pessoas usando MP3 e celulares nas ruas. Por outro lado, há uma sofisticação (nada exagerada e até um pouco decadente) no bairro de Carrasco, um subúrbio pleno de mansões construídas no passado (quase nada é novíssimo em Montevidéo). Essas casas ficam no meio de um bosque a poucas quadras do mar, e a paisagem é deslumbrante. Poucas cidades no mundo têm um bairro como aquele, eu acho.
Também me chamou atenção a gentileza extrema dos uruguaios. TODOS fazem questão de tratar muito bem os turistas. O motorista do ônibus seria capaz de nos levar até onde quiséssemos se pedíssemos a ele para sair de seu roteiro. Andar de ônibus, aliás, é uma experiência enriquecedora para quem não conhece a cidade. Sempre gostei e recomendo.
As praias de La Paloma, La Pedrera e Cabo Polônio, no norte do país, são pequenos povoados (a maior tem cerca de 3 mil habitantes) com um mar azul cristalino e gelado, mesmo no verão, para nós, brasileiros, um sacrifício. Cabo Polônio é uma vila hippie com suas dunas e rochas abrigando um punhado de casinhas mal acabadas, sem luz ou água encanada.
Foi uma aventura ficar sacudindo naqueles jipes 4x4 cheio de gente, único meio de transporte permitido para se chegar a Polônio. Voltei aos meus tempos de juventude quando os hippies tomavam conta do Farol de Santa Marta, no sul de Santa Catarina. Quando me dei conta, já estava sentada debaixo de uma árvore, às 3h da tarde do dia 31 de dezembro, na beira da estrada, esperando o ônibus de volta para La Paloma, ao lado de quatro jovens cantando um Bob Marley com violão e bongôs. Quem diria que algumas horas depois daquele momento riponga, estivesse sentada num elegante bistrô, comemorando o Réveillon com uma comida fantástica e uma taça de champagne. Foi um ano novo diferente e de contrastes. Sem estresse, sem correrias, e sem promessas feitas para depois não serem cumpridas. Taí, gostei.

2 comentários:

Patty Diphusa disse...

Vc descreveu muito bem Montevidéu, Bárbara. E sua população ainda é na maioria de idosos? Quando eu estive lá, há alguns anos, a grande discussão nos jornais continuava sendo o rombo na Previdência em função do número de aposentados começar a superar o de contribuintes ativos. Uma loucura.
Reveillon em NY é programa de chaienes -- nem deve ser assim que escreve. Não recomendo mesmo para ninguém que quer festa para comemorar essa data. Eu fui há muitos anos, antes de 2000 quando parece que deu uma melhorada. Imagina só como era. Mas a cidade continua linda, não? Bjs, adoro seu blog. Espero não estar invadindo seu espaço.

Barbara disse...

Obrigada Patty, o blog é pra ísso mesmo, para a gente trocar idéias. Montevidéo agora tem muitas crianças na rua, notei isso, e tomara que elas consigam emprego lá mesmo, para não precisarem emigrar e deixar o país só com os velhos, né:
abs