quinta-feira, 16 de abril de 2009

supérfluo

A empresária Roselani D'Ávila, aos 47 anos, é bonita, tem cabelos louros e o sorriso mostra seus dentes brancos e bem tratados. O quadro da sala de seu elegante apartamento é uma fotografia de um momento feliz: Roselani e o marido Flávio sorriem. Novo Hamburgo, cidadezinha dos arredores de Porto Alegre, onde mora Roselani, é lotada de indústrias do setor calçadista, boa parte das fábricas exportam seus modelos "made in Brazil". São calçados exclusivos e quase nunca encontrados em lojas brasileiras, porque são feitos exclusivamenta para o mercado externo, com níveis de exigências diferentes dos nossos. Mas o mundo entrou em crise profunda, e os norte-americanos, canadenses e parte da comunidade européia acharam que sapato passou a ser supérfluo e deixaram de comprar os nossos modelos. Pelo menos por enquanto. Novo Hamburgo e as cidades vizinhas do complexo industrial passaram a sofrer o revés da crise. Fábricas começaram a fechar, a demitir operários, as dívidas se acumulam. A empresa de Roselani estava devendo a esta altura dos acontecimentos mais de R$ 2 milhões, segundo li nos jornais locais de Porto Alegre.
Roselani acordou na terça-feira passada disposta a acabar com todos esses problemas financeiros que iriam "prejudicar toda a sua família". Poucos minutos antes do relógio despertar - às 5h30 da manhã - Roselani levantou, foi até a cozinha, pegou uma faca e matou o marido ainda dormindo. Ela deixou ele ali e seguiu seu rumo como se fosse mais um dia normal, como todos os outros. Mas não era. Almoçou com a sobrinha Maria Francisca, de 6 anos, e perguntou à irmã Rosângela se podia dormir na casa dela naquela noite. Talvez não quisesse se deitar ao lado de um cadáver. Perto das 4h da madrugada de quarta-feira, quase 24 horas depois de ter esfaqueado o marido, ela levantou, foi até a cozinha da casa da irmã, pegou uma faca e atingiu mortalmente Rosângela, ainda em sono profundo. A sobrinha em pânico tentou fugir, mas foi em vão. Roselani tinha uma dívida de R$ 180 mil com a irmã. E quitou ali mesmo o que devia. Tentou se matar depois dessa tragédia, mas não conseguiu impor a si mesma a força da faca que desferiu nos seus três familiares.
Deixou uma longa carta explicando os homicídios, falou a certa altura que "amava demais o marido para para vê-lo sofrer", que via sua irmã "infeliz"com as dívidas da familia e que a sobrinha seria "poupada de um sofrimento no futuro".
Ainda não existe motivação clara para a barbaridade, a não ser o que está escrito nas cartas e no depoimento ainda confuso de Roselani. A delegada, que ouviu a empresária enquanto ela se recuperava dos ferimentos no hospital municipal de Novo Hamburgo, relatou que Roselani sofria de depressão e consultara um psiquiatra para iniciar um tratamento. O médico recomendou sua internação, mas aparentemente ela não estava muito disposta a seguir a recomendação médica e teria dito que cometera os homicídios para evitar que seus familiares a internassem. Além do fato macabro de ter matado marido, irmã e sobrinha, e de ter escrito 10 cartas endereçadas à mãe, irmão e outros familiares tentando explicar o inexplicável, o que chama atenção é a firme intenção de Roselani, em uma das cartas, de querer ir atrás também da mãe para "livrá-la do sofrimento".
Triste a história de Roselani, para quem a vida não vale mais nada, talvez até menos que os sapatos que fabricava e que se tornaram supérfluos para o mundo.

2 comentários:

Anônimo disse...

caraca, o mundo está mesmo fora dos eixos, heim? já que ela julgava o sofrimento insuportável, porque cargas d`'agua não se matou sozinha??? beijocas procê, querida, erika riedel

Barbara disse...

Erika, isso foi o que eu pensei tbém. bjs querida