quarta-feira, 18 de julho de 2007

Tragédia aqui dentro

Uma das regras mais interessantes aprendidas no jornalismo é: quanto mais próximo do leitor estiver o fato, mais interesse ele vai despertar.
Todos os dias assistimos pela tevê e lemos nos jornais o grande número de mortos em mercados de Bagdá, os desastres naturais com perdas significativas em terremotos no Japão, maremotos na Ásia, incêndios na costa oeste dos Estados Unidos -, desabamentos de minas na China, ataques em mesquitas no Paquistão, acidentes aéreos na Rússia. Mortes em massa é uma rotina neste mundo. São fatos que acontecem longe do Brasil e provocam uma certa comoção, mas na dose certa. Nunca pensamos neles mais do que o necessário, porque as notícias mudam com um simples reload no navegador da Web ou um zapping no controle remoto. Pano rápido e já somos apaziguados com uma medalha de ouro no Pan, ou bombardeados por uma nova crise política em Brasília. São os fatos que nos atropelam. Mas quando eles são trágicos e acontecem dentro de nossas fronteiras, no País, na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa cara, temos uma reação totalmente diferente daquela experimentada ao vermos os sunitas matando xiitas no Iraque. Ali é só dar o reload e a tela muda. Com o acidente do vôo JJ 3054 da TAM, em São Paulo, vitimando mais de 180 pessoas, a situação é outra. É um acontecimento que nos comove profundamente, nos faz pensar, nos deixa com insônia e tristes, sem palavras, a não ser aquelas para lembrar e relembrar a tragédia. Nos faz perder amigos, parentes, conhecidos. Uma tragédia anunciada e resultado de uma sucessão de erros, que deve ser investigada de forma incansável a partir de hoje, embora saibamos que há poucas chances de mudanças no sistema de transporte aéreo brasileiro, num país em que a impunidade não mede mais esforços para se manter latente.
Um acidente dessa magnitude me faz olhar para o céu - e hoje ele está azul em Florianópolis - e para a tranqüilidade do mar que se espraia na frente de minha casa e repetir para mim mesma: obrigada por eu estar viva! Obrigada por mais este dia, obrigada por ninguém da minha família ou nenhum de meus amigos figurarem entre as vítimas. Não sei a quem agradeço, acho que é a mim mesma por não estar naquele avião. E também aos vários amigos que me ligaram ontem para saber de mim.
Infelizmente outras 180 pessoas estavam no vôo JJ 3054 ou morreram em terra. A esses familiares, se tiverem fé, só resta o conforto de alguma oração, e a esperança de que essas mortes (assim como as do acidente da Gol, em setembro passado) sirvam para mudar alguma coisa nesse país de desmandos e amadorismo, especialmente quando tantas vidas estão em jogo. Porque para esses parentes e amigos das vítimas do vôo 3054 não basta dar o reload na página.

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