domingo, 9 de setembro de 2007

As cores do arco-íris




Estou chegando em casa agora, são quase 9h da noite, e ainda ouço os gritos, a música e a alegria vindos lá da Beira Mar - a avenida principal de Florianópolis, uma espécie de Copacabana daqui, com o mar de um lado e do outro uma fileira de prédios chiques. No meio, a avenida cortando a cidade e onde estão reunidos, neste momento, milhares de gays em seus caminhões e trios elétricos com música tecno, comemorando a parada da diversidade, combatendo o preconceito. O lema deste ano é Amar é Direito de Todos.
Este é o segundo ano da parada em Florianópolis. Já é um começo para uma região (sul) e uma cidade onde o machismo e o preconceito começam no berço. No ano passado, lembro que o evento foi realizado no mesmo dia do final da Copa do Mundo (16 de julho). Enquanto as seleções da Itália e da França disputavam o título, e todos os machões se encontravam na frente da televisão naquela tarde de domingo frustrante para os brasileiros, os gays aqui da ilha desdenhavam o futebol e os bonitões italianos e franceses para comemorarem seu début na primeira manifestação oficial em favor da diversidade sexual. Pelas contas da PM local, a parada reuniu umas 25 mil pessoas e eles não contavam com patrocínio algum. De um ano para cá, as coisas melhoraram. O número de caminhões com publicidade estampada (eram patrocinados por casas noturnas) triplicou. Hoje eram 9, um feito para esta pequena cidade. O número de pessoas também aumentou. Não sei, ao certo, quantos eram pulando, dançando ou apenas caminhando pela avenida, mas, com certeza, havia mais do que as 25 mil de 2006. Neste ano, os organizadores tiveram, também, patrocínio oficial da Caixa e da prefeitura de Florianópolis, o que encoraja novas manifestações nos próximos anos. Considero esse um movimento corajoso. Sim, porque fazer paradas GLS em capitais cosmopolitas como São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Londres e Berlim é fácil. Difícil é sair às ruas de mãos dadas com seu companheiro ou companheira, dançar em cima de um caminhão só de sunga e ainda sorrir e parecer feliz em lugares como Florianópolis ou Jerusalém (lembro do que aconteceu por lá no ano passado, várias prisões, a oposição da comunidade judaica e até uma lei local foi criada para proibir o ato). Aqui, em Florianópolis, não chegamos a esse ponto, mas é sintomático que só agora, 11 anos depois de São Paulo ter feito a sua primeira parada GLS (agora GLBT), e ter reunido quase 3 milhões de pessoas na principal avenida paulistana, os homossexuais da "ilha da magia" tenham conseguido chegar a sua segunda manifestação pública. Por aqui, as coisas caminham lentamente. É o ritmo da cidade. O curioso é que Florianópolis é considerada um reduto gay dos mais conhecidos do Brasil e procurada por muitos turistas GLBT, principalmente no verão. Mas, como disse, as coisas estão mudando. Além dos patrocínios oficiais já conseguidos neste ano, o público gay está começando a despertar o interesse também dos hoteleiros e empresários de turismo locais. Neste feriadão, houve até um Fórum de Turismo GLS, na praia do Campeche, para debater o impacto econômico e social desse tipo de turismo na ilha, já que não é novidade para ninguém que o público gay tem poder aquisitivo para viajar, consumir e se divertir. Que venham todos. Esta cidade precisa da alegria, do burburinho dessa gente nas ruas, e das cores do seu arco íris. De que adianta uma cidade tão bonita, guardar tanto rancor, tanto preconceito e tanta melancolia? Ainda bem que o barulho continua lá fora. Ninguém consegue dormir com tanto silêncio, às vezes.

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