domingo, 30 de setembro de 2007

A vida é efêmera





Les Éphémères, da companhia Theatre du Soleil, dirigido por Ariane Mnouchkine,
da França encerrou hoje o Porto Alegre Em Cena. Fui ver o espetáculo no sábado à tarde.
Na chegada, um galpão imenso e abandonado, localizado em uma das regiões mais perigosas de Porto Alegre (zona norte, parque Humaitá). Resolvi ir até lá de táxi, porque não confiei chegar sozinha de ônibus, apesar do horário, 14h de um dia ensolarado e fresco. Nem o taxista estava muito contente de me levar lá, tal a barra pesada. Mas, tudo pela arte. Era estranho ver toda aquela movimentação por ali, e tipos humanos tão diferentes desembarcando no número 324 da rua Frederico Mentz, toda esburacada, com suas casinhas humildes, e provocando a curiosidade dos moradores do parque Humaitá (por que será que todos as vilas pobres das cidades brasileiras têm nomes tão bonitos? Como se isso aliviasse a dureza de se viver nesses lugares).
Lá fora, uma hora e meia antes do espetáculo, uma enorme fila dos sem-ingresso já estava formada e ficava atenta ao número de pessoas com o privilégio de entrar. Senti uma certa inveja no olhar deles. Só que eu fiquei durante 3 horas e meia num domingo chuvoso e frio, de pé, numa fila descomunal, no primeiro dia da venda dos ingressos, para garantir meu lugarzinho naquele galpão.
Lá dentro, uma pequena surpresa, um salão enorme, do tamanho de um ginásio de esportes, com mesas postas como um restaurante. E havia mesmo dois restaurantes. Um deles servindo comida quente, vinho ou água e outro com entradas, combinando salada e queijos franceses, acompanhados de vinhos tinto ou branco. O aparato foi montado porque Les Éphémères (Os Efêmeros) é uma peça longa, quase sete horas, com alguns intervalos (um deles de uma hora, o que permite um jantarzinho rápido entre a primeira e a segunda parte).
Enquanto nos dirigimos para o teatro, com espaço para 600 pessoas (você pode escolher o lugar antes, marcar com um adesivo, e voltar ao centro de convivência), passamos pelos atores que se preparam para entrar em cena. Estão ali se maquiando, se alongando, conversando com o público, permitindo fotos.
Amigos que viram o espetáculo na França, disseram que eles reproduziram, fielmente, o espaço Cartucherie, em Vincennes, onde o grupo atua.
O público fica frente a frente e o palco no meio. De propósito, já que assim, podemos nos identificar com aqueles personagem em suas cenas curtas (efêmeras) que retratam nosso cotidiano, nossa fragilidade, nossas famílias, infância, solidão, perdas, as alegrias, as uniões, separações. Retratos da vida, pequenos universos. Cenas que passam em palcos giratórios, empurrados por quatro atores num balé no solo. Mas, frente a frente, o público também tem a chance de observar a reação das pessoas do outro lado. Seus olhares, sua expressão, seu sorriso, suas lágrimas. Espelhos da alma.
No caminho de volta para casa, dentro de um táxi, fiquei imaginando. Uma produção dessas, tão sofisticada, tão cara, com tantos detalhes, contêineres, dezenas de atores, viajando de tão longe só para nos lembrar de algo tão essencial que é a vida.



2 comentários:

Unknown disse...

Gostei. Muito bom teu post. Merece ser publicado em outras midias.

Beijo.

Lorenzo

Sônia Guimarães disse...

Babi querida, vi a primeira parte de Les Éphémères, sexta-feira. Amei. Saudades de vc. bjs!