sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Duas cenas do POA em Cena


Cena 1:
A Pedra do Reino, com o grupo Macunaíma e Centro de Pesquisa Teatral, de Antunes Filho, baseado no texto de Ariano Suassuna. Um casamento perfeito da dramaturgia do paulistano com a saga do escritor paraibano e que narra a história do rei e palhaço quixotesco Pedro Dinis Quaderna,
preso por subversão pelo Estado Novo em 1938. O palco é nu, justamente para realçar o jogo entre os atores e as cores do nordeste, com seus mantos e bois de reisados, explicou Antunes durante a estréia em São Paulo, no ano passado. O destaque entre os 20 atores, que se revezam num entra e sai constante, é o goiano (ótimo) Lee Thalor. Confesso que me cansei um pouco daquelas correrias e do apito insistente dos militares indo para lá e para cá e num tropel sem fim. Mas isso é o de menos num espetáculo tão belo, abrangente e cheio de vitalidade. Um Antunes à altura de Suassuna.


Cena 2
Convergence 1.0, com direção, concepção e interpretação do francês Adrien Mondot.
Como o próprio nome deixa claro, trata-se da convergência de vários tipos de arte: o circo, malabarismo, o teatro e a tecnologia. Alguns chamam isso de multimídia, mas acho essa palavra tão desgastada. Mondot é acrobata, comediante e diretor artistico da companhia Guillaume Bertrand. É um espetáculo quase solo, não fosse a participação discreta da
violoncelista Véronika Soboljevsk, no fundo do palco, fundamental para a composição da trilha.
Adorei o fato de o show mesclar técnicas de circo e de dança com ilusão de ótica e tecnologia. Isso se explica pelo fato de Adrien Mondot ser também programador de informática e matemático e ter usado seus conhecimentos para criar um software que brinca com as leis da gravidade. Aquele fancês faz misérias com uma bolinha de vidro (e de verdade), rolando-a ou firmando-a nos braços, nos punhos, nos ombros, na cabeça, como se ela fosse parte do seu corpo ou da nossa imaginação. Pura ilusão? Que nada, a bolinha era real mesmo. No contraponto, ele brinca com as bolinhas criadas pelo programa do computador e refletidas numa tela na frente do palco, dando a impressão de que elas são reais. Inacreditável. Valeu cada centavo!

(JPG)


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