terça-feira, 22 de maio de 2007

Algum tempo atrás, o programa de domingo de muitas famílias era passear no aeroporto para verem aviões decolando, aterrissando ou parados na pista. E comprovarem que o tamanho daquelas aeronaves era algo, digamos, grandioso. Os mais antigos tinham até hélices! Dá até para ouvir Elis cantar “...nas asas da Panair”... Eram outros tempos, Congonhas e os aeroportos em geral eram pequenos, não havia muito movimento nas salas de embarque pois só viajava de avião mesmo quem tinha dinheiro para tal extravagância. Visitar um aeroporto não exigia grande planejamento, pois eram raros os congestionamentos, não existia tanta violência e apagão aéreo era algo impensável. Enfim, ver aqueles aviões todos descendo ou deixando a pista era um programão para adultos e crianças. E, inevitavelmente, surgia a clássica pergunta: como pode uma coisa tão pesada flutuar e não cair?

Enquanto amargava horas a fio numa sala de embarque de Congonhas rumo a Florianópolis, dias atrás, e sem muita coisa a fazer a não ser esperar, eu pensava nisso. Onde estão aquelas famílias e seus programas de domingo? E não é que ontem minha faxineira chegou em casa contando que o programa de Páscoa dela e da família, cujos pais tinham vindo de Joaçaba (interior de Santa Catarina) para visitá-la em Florianópolis, fora justamente a ida ao aeroporto Hercílio Luz. Não para viajar, mas para ver os aviões.

Florianópolis é uma cidade pequena e ainda conserva hábitos bem provincianos (às vezes, salutares). Os pais dela, me disse, ficaram “encantados com tudo”. “Como eram grandes os aviões! E o barulho que faziam então, como que a gente não ouve nada aqui de dentro do aeroporto?" (Sim, as hélices eram mais silenciosas que as turbinas). E, é lógico, a clássica: “Como pode um bicho tão grande como esse flutuar no ar sem cair?”

Sorri. Encontrei as pessoas nas quais pensava naquele dia. Ainda existe gente que mantém o saudável hábito de se encantar com as coisas mais simples da vida, como o tamanho de um avião, o barulho da turbina o fato de ele se sustentar no ar, mesmo que isso seja um mistério bem guardado para eles.

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