terça-feira, 22 de maio de 2007

Tragédias Urbanas

Nos Estados Unidos, a tragédia acontece quase sempre nas escolas. Na de ontem, morreram 33 pessoas - entre elas o suposto atirador, o sul-coreano Cho Seung-Hui, de 23 anos, aparentemente por não estar muito satisfeito com os "ricos, festeiros e charlatões" do Instituto Politécnico da VIrgínia e da sociedade norte-americana. Pelo menos foi o que deixou escrito numa carta. Nunca se sabe o que passa pela cabeça de uma pessoa para chegar a esse extremo desespero. Mais um solitário, frustrado e inconformado estudante liberando sua fúria anticapitalista sobre inocentes?

No Brasil, a tragédia é diária e acontece nas ruas. Um pouco como o Iraque dos últimos três anos. Enquanto a mídia (portais de notícias, telejornais, rádios) repercutia exaustivamente as 33 mortes na universidade norte-americana e a gente ainda lia a ampla cobertura nos jornais de hoje (que dedicaram de duas a três páginas para o assunto), um novo tiroteio ocorria no Rio de Janeiro, no morro da Mineira desta vez, envolvendo facções do Comando Vermelho e Amigos dos Amigos (amigos de quem, cara pálida??). Foram contabilizados 14 mortos - e, segundo a polícia, todos traficantes. Mas outras três pessoas inocentes (que estavam no caminho das balas perdidas) foram feridas. Ou seja, pura rotina.

Será que é por isso que a morte de um grupo de estudantes do Instituto Politécnico de Virgínia renda tantas manchetes, fotos e repercussões e comova a mídia, e as nossas tragédias brasileiras, diárias e igualmente numerosas, se encolham e tenham coberturas tímidas?
Quando morrem bandidos é até compreensível esse descaso, embora o fato continue sendo relevante na medida em que ele interfere no cotidiano da sociedade. Mas, e quando as vítimas de nossa violência diária são os cidadãos comuns que pagam impostos e só exigem um pouco de paz e segurança para voltar para casa? Será que somos homens e mulheres de segunda classe?
Lembro que os atentados terroristas cometidos contra norte-americanos, espanhóis, ingleses ou israelenses sempre merecem mais destaque na mídia do que os atentados diários cometidos contra cidadãos xiitas, sunitas e curdos no Iraque ocupado. Porque lá, como aqui, a violência também virou rotina. E a imprensa não aprecia a rotina. O Brasil, hoje, está mais parecido com o Iraque do que com a Espanha e nossas tragédias já não tem tanta importância assim.

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