terça-feira, 22 de maio de 2007

D. Eliza

Minha mãe é muito engraçada, sem saber que é, lógico. D. Eliza, nascida Elizabeth, tem 81 anos, é uma pessoa simples, estudou até o terceiro ano primário, mas é sábia, cheia de vida, curiosa. É também uma jogadora contumaz de bolão (não é boliche, é bolão, diz ela, porque a bola pesa 8 quilos...) e louca por carteado, atividades que pratica regulamente todas as semanas. com um grupo de amigas, como ela, viúvas. Aliás, depois que enviuvou, D Eliza parece ter redescoberto o prazer de viver. Eu acho ótimo!
Em 2005, quando por razões de saúde precisei ficar na casa dela por um longo período, redescobri a D. Eliza minha mãe, com sua sensibilidade, perspicácia, dedicação e, acima de tudo e apesar das circunstâncias que estávamos vivendo naquele ano, descobri sua verve humorística (de novo, sem ela saber que tem).
Era o período das CPIs do escândalo do mensalão e, diariamente, a gente era bombardeada pelas imagens daqueles políticos na tevê, respondendo a perguntas, e falando, falando, falando, acusando uns aos outros, ou negando que estivessem em determinados locais , ou que tivessem recebido o dinheiro, enfim, nos enchendo a paciência com intermináveis depoimentos que , como vimos depois, não resultaram em nada, a não ser na cassação de uns gatos pingados e na demissão/afastamento de alguns dirigentes do PT.
D Eliza via tudo aquilo na tevê e ficava ali calada, só ouvindo (ou tentando, já que é meio surda e o aparelho também não ajudava muito). Mas uma noite daquelas, acho que por não agüentar mais tanta sandice ela me saiu , muito séria, com essa:
"Esses deputados não tem mais nada o que fazer na vida a não ser fazer fofoca um do outro? Sempre que vai um ali na frente, fala que viu o outro fazer isso ou aquilo, e o outro vai lá e diz que não fez nada daquilo. Eles sabem até onde a mulher do outro estava! E eles ainda ganham para ficar aí falando da vida dos outros? Eu ainda não entendi onde eles querem chegar ".
D Eliza não sabia muito o que estava acontecendo. Era tudo muito complicado para o seu entendimento, mas o comentário nunca deixou de ser pertinente e verdadeiro até hoje.
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Minha mãe acompanha meu trabalho de repórter e, como sou freelancer trabalho em casa, fazendo muitas entrevistas pelo telefone. Quando estou na casa dela ou ela na minha - o que acontece com freqüência - ela vê minha rotina, mas ainda se perde um pouco. Por exemplo, esses dias me perguntou:
"Barbara, quando tu fala que vai fazer uma entrevista, isso significa que tu vais ser entrevistada ou vais entrevistar alguém? "

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