quarta-feira, 30 de maio de 2007

Informação ou deformação?

Estou chocada até agora, embora tenha lido a manchete há algumas horas.

Como o jornal que assino, Folha de São Paulo, não havia chegado na minha casa até 11h da manhã desta terça-feira, desconfiei de algum problema com o transporte na BR 101 ou na saída do avião em Congonhas. Tudo bem, estou morando há 3 anos em Floripa e esses atrasos já viraram rotina. Eu já estou rouca de tanto reclamar para o serviço de atendimento da Folha, aquele 0800 irritante, e sempre ameaço mudar para o jornal concorrente, mas o problema seria transferido para o Estadão, porque a BR é a mesma e o avião que sai de Congonhas também deve ser o mesmo que traz a Folha. Enfim, desencanei e fui à banca comprar outro jornal. (Leio algumas coisas na internet, e como assinante tenho acesso gratuito ao conteúdo da Folha e a outros jornais, mas nada supera o prazer do papel, falar isso, eu sei, é um clichê, mas é fato).

Nas bancas, notei que não havia nenhum jornal de SP ou do Rio, só do RS e daqui. "Isso é grave!", pensei. "Deu problema nos aviões hoje, não chegou nada ainda, só mais tarde", me disse o vendedor e me sugeriu comprar um jornal local. Dei uma olhada geral para ver se havia algo interessante sobre a passeata dos estudantes e da paralisação dos ônibus na cidade e vi uma coisa que jamais, em momento algum nos meus 30 anos de jornalismo, pensaria que poderia ver algum dia. Um jornal tablóide (como todos aqui do sul) chamado Diarinho com a seguinte manchete:
"Usuário se emputecem com aumento de busos" ...
Quase dei um grito quando li aquilo, não acreditando no que estava vendo. Na capa, a foto dos estudantes sentados no meio de uma avenida no centro da cidade, causa do tumulto no trânsito de Floripa. Mas nada daquilo era mais importante do que aquele título.
Comprei o jornal (?) para ver como o jornalismo era maltratado e deturpado nas páginas internas, embora a capa do tablóide já havia me dado uma pequena amostra do que viria.
Lá dentro, fiquei mais revoltada com o nível dos textos, títulos chulos, gírias, palavrões e fiquei me perguntando: será que um jornal popular precisa ser assim? O jornalismo que aprendemos na escola e nas redações determina, entre outras coisas, que precisamos informar corretamente as pessoas e, se possível, formar uma opinião. Informar o leitor, honestamente, não é das coisas mais difíceis para quem tem prática na profissão. O leitor deve ser tratado com respeito, sempre, seja ele, índio, branco, pardo, negro, homem, mulher, gay, morador da zona sul do Rio, ou da zona leste de São Paulo, do Morro do Macaco ou de Paraisópolis, dos Jardins ou da Vila Sônia. A linguagem pode mudar um pouco, dependendo do público que vai atingir, mas o jornalismo precisa falar mais alto, não pode simplesmente "desinformar" ou "deformar" como pretende esse jornal ao empregar palavras inadequadas, de baixo calão e, pior, erradas (sei que é de propósito, mas, francamente). Vi um título com o termo "dimenor" para falar da fuga de uns meninos de um lugar que julgo ser a Febem local, em São José (cidade próxima daqui). Além de empobrecer o idioma, é uma brincadeira sem propósito e que ajuda a confundir ainda mais aqueles leitores que já têm tantas dúvidas com o português. Me pergunto se o editor desse jornal consegue dormir tranquilo à noite depois de fazer uma edição dessas por dia.

p.s. - Tradução daquele título para quem não entendeu: "População fica furiosa com aumento dos ônibus "

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