terça-feira, 22 de maio de 2007

Domingos

Tirei o feriado para conhecer alguns lugares aqui perto de Florianópolis, onde moro há 3 anos, 3 meses e 16 dias. Já que vivo aqui, nada mais lógico do que conhecer os lugares interessantes dentro e fora da ilha. Palmas, Governador Celso Ramos e Armação da Piedade foram uma surpresa. Na verdade, são pequenos vilarejos rodeados de montanhas e o mar estendido lá embaixo, verde e calmo. Paisagens paradisíacas que lembram muito Búzios, Ilha Grande e Angra dos Reis. Nesta época do ano, com o outono chegando aos poucos, o céu estava mais azul, o mar verde , a areia bem branca e o sol com um amarelo em tons de mel. Dava uma vontade de pegar uma paleta de tintas e sair pintando tudo.
Além da beleza da paisagem e o silêncio perturbador, só rompido pela quebra das ondinhas se deitando na areia, o que ficou na minha cabeça é a forma como as pessoas passam um domingo num lugar desses. Nada acontece. Alguns beatos vão à igreja com a bíblia na mão, as crianças brincam despreocupadas nas ruas- só cortadas por carros de tempos em tempos - e as vizinhas colocam suas cadeiras na rua para uma prosa. Mas o que será que elas conversam se nada acontece?
D. Zina era uma dessas moradoras, dona de um boteco que servia almoço, pastéis e casquinas de siri, numa das ruazinhas da praia que ela chamava de Magalhães, mas era conhecida como Canto Grande. Ali na rua, o nosso carro devia ser um dos poucos que passaram ao longo do dia. Vimos que o boteco/restaurante Do Cantinho , da D. Zina, era o único que estava aberto às 3h da tarde. E éramos também os únicos fregueses naquele dia!
Perguntei como era possível sobreviver e manter um "restaurante/bar" sem movimento nenhum.
"Ah , não pago aluguel e durante a semana eu sirvo os vendedores que vêm aqui. Vendedores de refrigerantes, cerveja."
Mas e vende para quem?
"Vendo para eles mesmos" (ou seja, ela vive de vender para os vendedores que vendem para ela...).
E a senhora vive sozinha aqui, nesse lugar, onde não tem ninguém passando, nem entrando, nem comprando?
"Vivo. tenho meus filhos, mas eles foram embora. Nos domingos o movimento cai, mas nos dias de semana ainda tem um ou outro que entra."
Então por que abre?
"Eu gosto. Pode aparecer alguém. Vocês, por exemplo".
As mesas estavam todas postas para almoço. Mas, naquele dia, com exceção de nós, ninguém mais tinha aparecido..
D Zina vive sozinha, mora num lugar onde pouquíssimas pessoas vão (nem no verão tem movimento) , seus filhos estão longe dali e a vida anda devagar ...O fato de ela abrir domingo para "ninguém" talvez traga nela uma esperança de que as coisas podem melhorar e as pessoas vão aparecer e conversar um pouco para passar o tempo.

Não ouvimos nenhuma queixa de D. Zina nesse tempo que estivemos lá, e seus pastéis e casquinhas de siri estavam realmente deliciosos. E eu fiquei pensando, como tem gente nesse mundo que não precisa de Prozac, nem de ansiolítico ou de Lexotan para viver... Mesmo que seja daquele jeito, esperando alguém para bater um papo. Á noite tomei um Lexotan, só para garantir.

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